Fogo no Parquinho do Planalto
As disputas palacianas, em Brasília, assemelham-se bastante àqueles filmes clássicos sobre reinos antigos onde o ciúme, tramas sórdidas e traições rolavam soltas nos bastidores, ainda mais quando o rei de plantão era inseguro, incompetente e mau. Aí rainhas eram decapitadas, filhos envenenavam os pais, punhaladas sorrateiras eram comuns.
Pois em Brasília, sob o domínio de um ser claudicante e com complexo de inferioridade, esse "script" vai sendo seguido à risca. Se o chefe do Ibama, agindo dentro do seu estrito dever legal, persegue desmatadores de florestas e matadores de índios, o incauto servidor público é demitido imediatamente em vez de receber elogios e comendas. Se um general, no uso de suas atribuições legais, emite portarias que permitem o rastreio de armas e munições, mesmo que coberto de galardões e medalhas, o imprevidente vai para a rua, pois essas ações não batem com as diretrizes pessoais do chefe, embora este tenha bem menos estrelas no peito.
Ousar colocar a cabeça fora do casco é atitude, cuja punição é quase compulsória. Estão aí e não me deixam mentir o Mandetta, o Moro e mais uma penca de cinco generais já jogados sumariamente no fosso do Planalto com pesos bem atados aos pés.
Semana passada, um grupo seleto de notáveis, sob o comando do Gen. Braga Netto inventou uma aventura temerária: criar um programa de desenvolvimento para o pós-pandemia com a missão messiânica de salvar o Brasil. Para o grupo não foi convidado o Ministro da Economia, Paulo Guedes, também conhecido como Posto Ipiranga.
Como pensar, raciocinar, planejar, criar são coisas que cansam muito, levam tempo, etc. o grupo se valeu do PAC criado por Dilma ainda no governo Lula. Ali tem tudo, é um levantamento completo das ações de desenvolvimento indispensáveis ao país, nominando obras iniciadas, obras com projetos prontos, obras ainda em fase de planejamento e estudo. É o mais completo conjunto de ações desenvolvimentistas criado desde os “50 anos em 5” de JK. E que só pode ser levado à frente por meio de investimentos públicos.
O grupo rebatizou o PAC com o sugestivo nome de Pró-Brasil. Logo a mídia brasileira, hoje formada em grande maioria por “focas” ignorantes e semialfabetizados, correu para ilustrar suas matérias com o pomposo apelido de Plano Marshal. Se tivessem tido a curiosidade de usar o velho e bom Google, saberiam que esse plano foi criado pelos Estados Unidos para ajudar na recuperação da Europa no pós-guerra, portanto nada a ver com um plano de âmbito interno. Mas quem liga para isso, o afã de certa mídia em bajular os poderosos, qualquer deles, é algo comovente ou asqueroso, dependendo do lado que se olha.
Mas bastou isso para que a máquina de intrigas palaciana, mantida sempre bem azeitada, começasse a funcionar: usar recursos públicos? Isso é uma heresia! E o dólar, já quase chegando à estratosfera, sobe mais um pouco. Mas quem manda na Economia, o General Braga Netto e sua turma ou Guedes? Pressões e contra pressões.
E é aí que o Messias “e daí?” Bolsonaro entra em ação: opa, opa! Aqui quem manda sou eu. Desautoriza imediatamente o grupo palaciano salvacionista e entrona, de novo, o Guedes que, assim, vai continuar queimando os 370 bilhões de dólares de reserva deixada pelo PT, enquanto 75 milhões de brasileiros sem emprego, famintos e mal pagos se contaminam nas filas quilométricas da Caixa para receber os 600 reais oferecidos a contragosto por um governo que não vê neles seres humanos, mas meros estorvos.
E daí?
Bom, e daí fica assim!
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