Faz um mês que ele morreu e 32 anos que evitou uma tragédia – o World Trade Center brasileiro
Em 1988, Fernando Murilo de Lima e Silva evitou inúmeras mortes

Ontem (26) fez um mês que morreu o piloto de avião, Fernando Murilo de Lima e Silva. Morreu, aos 76 anos, após complicações cardíacas e diabetes. Ele morava em Búzios, Rio de Janeiro.
Terça-feira, 29 de setembro, fará 32 anos de um ato heroíco de Fernando Murilo.
Era o ano de 1988, e ele era o comandante do voo 375 da Vasp que fazia a rota Porto Velho – Rio de Janeiro.

Durante o voo foi anunciado um sequestro que durou mais de 8 horas.
O boing 737-300 foi sequestrado tendo 98 passageiros e 7 tripulantes.
O co-piloto do avião, Salvador Evangelista, reagiu ao sequestro e foi morto com um tiro na nuca.

O avião saiu de Porto Velho (Rondônia) com destino ao Rio de Janeiro. Fez escalas em Cuibá, Brasília e Goiânia, antes de chegar a Belo Horizonte.
Vinte minutos depois da decolagem de Belo Horizonte começou o sequestro.
Raimundo Nonato Alves da Conceição, ex-funcionário da Construtora Mendes Júnior, levantou e ameaçou tripulação e passageiros com uma arma, anunciando o sequestro.

Raimundo Nonato vivera os últimos anos no Iran, trabalhando na Mendes Júnior. Naquela ocasião estava desempregado e com as finanças perdidas. Considerava a política econômica do Presidente do Brasil, José Sarney, a responsável por sua derrocada.
Sua intenção: levar o avião a Brasília e jogá-lo sobre o Palácio do Planalto para matar o presidente do Brasil. Seria a antecipação do 11 de setembro de 2001, nos EUA, quaando aviões foram sequestrados e direcionados às torres do World Trade Center.

O sequestrador invadiu a cabine de controle do avião. A tripulação tentou reagir e o co-piloto foi morto a tiros. Dois outros tripulantes também foram baleados. O avião foi desviado de volta a Brasília, sobrevoou a cidade e foi seguido por um caça Mirage. Murilo acionou o transponder e informou o código internacional de sequestro. “E ainda avisei bem baixinho que o desejo dele era jogar o avião sobre o Palácio do Planalto” – disse numa entrevista
Fernando tentou negociar com o sequestrador, mas não obteve sucesso.
E aí aconteceu o ato de heroísmo de Fernando Murilo de Lima e Silva.
Sobrevoando Brasília e percebendo nuvens, Murilo informou a Raimundo Nonato que não havia como aterrissar. O sequestrador sugeriu que o piloto pousasse o avião em Anápolis e, depois, Goiânia.
Murilo mostrou o marcador de combustível e disse que o avião ia parar de funcionar e todos cairiam. Nonato nem quis saber. O avião continuou sobrevoando a pista de Goiânia, quando Nonato deu uma ordem: ‘Vamos para São Paulo’. Murilo se desesperou porque mal tinha combustível para ali perto, que diria São Paulo.
Era preciso dominar e desarmar Raimundo Nonato.
Fernando Murilo de Lima e Silva fez, então, uma ação que foi crucial para o desfecho da história. Ele tirou o avião do piloto automático e executou um tonneau (manobra em que o avião dá uma volta completa ao redor de seu eixo longitudinal) para ver se o sequestrador perdia o equilíbrio”. Raimundo Nonato continuava de pé.
Murilo decidiu partir para uma manobra mais arriscada, o parafuso (o avião perde a sustentação e cai de bico, girando as asas como um pião; a aeronave gira descendo). Um dos motores já havia parado e Murilo arriscou. Partiu para o tudo ou nada.
Com a manobra o sequestrador caiu e Murilo aproveitou para aterrissar no Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia.

Com o avião em solo, iniciou-se uma negociação com Raimundo Nonato que continuava armado e ameaçando a tripulação. Com a negociação o sequestrador decidiu embarcar noutro avião - um Bandeirante da Aeronáutica que estava ao lado do avião da VASP. Murilo seguiu junto, como refém. “Você não vai me trair, né?”, disse o sequestrador. Murilo falou: “Não vou. Vai dar tudo certo”.
Murilo estava ajudando Raimundo Nonato a subir no avião quando escutou um tiro. Um atirador de elite acertou o sequestrador. O piloto saiu correndo e, sentindo-se traído, Raimundo Nonato atirou e acertou uma das pernas do comandante Murilo.

Dominado, o sequestrador foi levado para o Hospital Santa Genoveva uma das principais referências em medicina em Goiânia. Médicos do Hospital examinaram Raimundo Nonato e disseram que, apesar de ter recebido três tiros, não corria risco de morte.
Mas, de repente, morreu o homem que sonhava vingar-se do presidente Sarney.
Reportagem do Estado de Minas registra que “a morte foi tão inesperada e estranha que nenhum legista de Goiás quis dar o atestado de óbito. Tiveram que chamar um legista de fora, o Badan Palhares”.

Sarney nunca agradeceu o piloto
O objetivo número um de Raimundo Nonato era matar o presidente José Sarney, criador de uma política econômica que produziu crise e, portanto, desemprego. Com suas manobras arriscadas, o piloto Murilo salvou vidas — dos tripulantes, dos passageiros e de quem estava no Palácio do Planalto. José Sarney nunca reconheceu o feito do comandante da Vasp. “Ele nunca me dirigiu a palavra. Nunca me agradeceu. Mas não tenho mágoa. Estou tranquilo com minha consciência e sei que fiz meu papel”, afirmou em entrevista.
Sarney não reconheceu o feito, mas o ato do piloto repercutiu tanto no país, que rendeu o título de "Herói" ao comandante Fernando Murilo de Lima.
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