Política

Excursão ideológica a Israel termina com pedido de socorro a Lula e ele protamente atende

Prefeito de BH agradece a Lula por “cuidado” para resgatá-lo em Israel


Reprodução Excursão ideológica a Israel termina com pedido de socorro a Lula e ele protamente atende
Porque Benjamin Netanyahu não os mandou de volta assim como os levou ?

Em meio ao agravamento do conflito no Oriente Médio, um grupo de cerca de 40 políticos brasileiros — prefeitos, secretários, vereadores e acompanhantes — todos notoriamente aliados do bolsonarismo e entusiastas do governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu, foi resgatado de Israel com apoio direto do governo Lula, após ficar retido por dias no país por conta do fechamento do espaço aéreo após os ataques do Irã.

A visita ao país em guerra ocorreu sob o pretexto de uma agenda técnica promovida por Israel, mas na prática funcionou como propaganda internacional do modelo de política do governo israelense. A excursão foi patrocinada pela Embaixada de Israel no Brasil e incluiu participação na Expo Muni Israel 2025, uma feira voltada à promoção de “tecnologias urbanas” e doutrinas de segurança usadas em territórios ocupados.

Apesar da afinidade ideológica e do apoio ao sionismo — inclusive com vídeos exaltando o “exemplo de inovação” israelense —, os bolsonaristas não encontraram o respaldo esperado de seus aliados durante a crise. O apoio veio, ironicamente, de quem costumam criticar com virulência: o governo Lula. Foi por meio de articulações do Itamaraty, lideradas pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), que os brasileiros conseguiram deixar Israel em direção à Jordânia, e dali ao Brasil.

“Os prefeitos e outras autoridades municipais brasileiras que se encontravam em Israel já se encontram em território da Jordânia, em segurança, a caminho da capital, Amã, onde embarcarão de retorno ao Brasil”, informou a nota oficial do governo.

A ministra manteve contato direto com o coordenador da comitiva, o prefeito Álvaro Damião (União Brasil), de Belo Horizonte, que publicamente agradeceu ao presidente Lula. Sim, o mesmo Lula que boa parte dessa comitiva já atacou, ignorando agora as divergências ideológicas na hora da necessidade.

Contradições e silêncio

Enquanto o governo federal se mobilizava para retirar os políticos brasileiros de uma zona de guerra, nenhum dos entusiastas da missão bolsonarista se manifestou contra a política bélica de Netanyahu ou reconheceu a gravidade do genocídio em Gaza. Pelo contrário: muitos continuaram postando vídeos exaltando Israel como exemplo de civilização e segurança, enquanto se abrigavam em bunkers por medo de mísseis iranianos.

A primeira-dama do Distrito Federal, Mayara Noronha Rocha, vivenciou momentos de pânico e chegou a declarar em vídeo:

“Eu quero ir embora. Não quero ficar, não”.
Em outro momento, descreveu a experiência como "espiritualmente pesada".

A visita ao país ocorreu em 8 de abril, e o retorno estava previsto para o dia 20. Com a escalada do conflito, os planos mudaram e a comitiva buscou apoio do governo brasileiro, que nunca abandonou seus cidadãos — nem mesmo os que vestem a camisa ideológica de adversários.

Diplomacia acima do ressentimento

O episódio escancara uma contradição gritante: políticos que viajaram a Israel para fazer propaganda ideológica de um regime opressor e de um modelo de segurança que marginaliza populações inteiras, acabaram pedindo socorro à diplomacia brasileira que tantas vezes desprezam. E o governo, como é próprio de uma república democrática, respondeu com profissionalismo.

A ministra Gleisi Hoffmann reforçou a atuação do Itamaraty e das embaixadas do Brasil na região. Israel, por sua vez, confirmou que vinha colaborando com a saída dos brasileiros "na medida do possível".

Lista da comitiva bolsonarista resgatada:

  • Álvaro Damião – prefeito de Belo Horizonte (MG)

  • Cícero Lucena – prefeito de João Pessoa (PB)

  • Welberth Porto – prefeito de Macaé (RJ)

  • Johnny Maycon – prefeito de Nova Friburgo (RJ)

  • Claudia da Silva – vice-prefeita de Goiânia (GO)

  • Janete Aparecida Silva Oliveira – vice-prefeita de Divinópolis (MG)

  • Márcio Lobato Rodrigues – secretário de Segurança Pública de BH (MG)

  • Davi de Mattos Carreiro – executivo do Centro de Inteligência do RJ

  • Gilson Chagas – secretário de Segurança de Niterói (RJ)

  • Francisco Gutemberg de Araújo – secretário de Planejamento de Natal (RN)

  • Flavio Bittencourt do Valle – vereador do Rio de Janeiro (RJ)

  • Francisco Nélio – tesoureiro da CNM

A situação revela não apenas a fragilidade do alinhamento cego à extrema-direita internacional, mas também o papel indispensável do Estado brasileiro — um Estado que não se orienta por vingança ideológica, mas por responsabilidade. A esquerda que tanto combatem foi quem lhes estendeu a mão quando o bunker já não bastava.


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