Política

Eles desmoralizaram as Forças Armadas

Foram incompetentes para segurar o plano de um golpe que deixou rastros por toda parte


Reprodução Eles desmoralizaram as Forças Armadas
Uma vergonha para o Brasil

O comandante da Marinha é o personagem do primeiro constrangimento fardado na fila de depoimentos previstos pelos processos contra os golpistas. O almirante Marcos Sampaio Olsen pediu a Alexandre de Moraes para sair da fila.

Não queria ser testemunha do almirante Almir Garnier Santos, o único dos três comandantes a ficar com Bolsonaro até o fim em 2022 – mesmo que nem Bolsonaro, já com fuga programada para os Estados Unidos, estivesse mais interessado no golpe.

Alexandre de Moraes negou o pedido e ele foi ouvido. O militar sofre um abalo pessoal que marca mais um arranhão na imagem das Forças Armadas. É mais do que o estrago do me-deixem-fora-disso. É a imposição do sistema de Justiça sobre a fragilização de militares importantes ou irrelevantes para que se compreenda o que aconteceu.

Vocês, mesmo que nada representem, terão de dizer o que fizeram ou deixaram de fazer na primavera e no verão de 2022, essa é a ordem de Moraes. Muitos terão que dizer o que estavam fazendo também no outono e no inverno, bem antes do que teria sido o desfecho desastrado do golpe em 8 de janeiro.

Mas muitos não têm o que falar. Olsen alegou que não teria nada a dizer. Hamilton Mourão, o vice de Bolsonaro, foi na mesma linha. Mourão, sabotado como vice, foi empurrado no governo, por decisão de Bolsonaro, para a função de presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal.

Pouco antes do fim do governo, com Lula já eleito, o general ganhou essa manchete na Folha: “Mourão lança plano para Amazônia a 16 dias de deixar cargo e propõe medidas que governo desmontou”.

O general agora senador talvez não tenha mesmo nada a dizer sobre o golpe e sobre o que fez na Amazônia. Não sabia das conversas em torno do plano golpista e sobre qualquer coisa, do varejo ou do atacado, dentro do governo.

Mourão não sabia de nada, mas foi convocado como testemunha de Bolsonaro, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto.
Mourão é um caso de distanciamento e ausência total em relação a tudo e a todos.

Braga Netto, que chamou de cagão o então comandante do Exército, Freire Gomes, não teria nem isso a dizer sobre o Mourão. O general era uma paisagem no governo, enquanto a Amazônia estava sendo tomada por grileiros, traficantes e garimpeiros e o golpe era tramado.

Outros poderão dizer o mesmo, que não sabiam de nada, enquanto o general Eduardo Pazuello destruía a saúde pública na pandemia e pelo menos oito coronéis participavam dos grupos de vampiros que tentavam negociar vacinas superfaturadas. Eles são citados no relatório da CPI do Genocídio e estão impunes até hoje.

Militares de alta patente que ainda não foram, mas um dia serão ouvidos em outros processos trouxeram as muambas das joias das arábias e outros militares tentaram vender as joias nos Estados Unidos.

Outros militares tentaram fraudar o cartão de vacinação de Bolsonaro, enquanto o próprio Bolsonaro, o beneficiado, nada sabia das fraudes, pelo que PGR concluiu agora.

Marcos Sampaio Olsen, Mourão e todos os que depuseram até agora nada sabiam, com exceção de Baptista Júnior (ex-chefe da Aeronáutica) e de Freire Gomes (ex-chefe do Exército). Essa será a linha dos depoimentos das mais de 80 testemunhas arroladas. Não sei, tô por fora, não vi, não ouvi e não quero saber.

Mourão não viu a minuta do golpe, Olsen não viu movimentação de tropas sob seu comando e quase todos os que virão na sequência repetirão a mesma ladainha. Não necessariamente para livrar Bolsonaro e os golpistas, mas para se colocarem como figuras distantes do teatro do golpe.

O resumo, se é que precisa, pode ser esse. Muitos, por falta de condições para protagonizar qualquer coisa, nunca foram chamados para se juntar aos golpistas. Outros, que participaram, provam agora, pela evolução de investigações, denúncias da PGR e processos no STF, que eram nulidades para protagonizar conspirações.

Nunca antes os militares foram tão desmoralizados, agora como incapazes de ajudar Bolsonaro a se reeleger e incompetentes para segurar o plano de um golpe que deixou rastros por toda parte.

Quando Mourão diz que nunca viu nada escrito sobre o plano, que não participou de reuniões, que não conhece golpistas que o citaram, Paulo Gonet e os ministros do Supremo devem considerar que talvez ele esteja mesmo falando a verdade.

Os depoimentos de militares ‘neutros’, chamados como testemunhas de golpistas, podem ser vistos como a fila dos desimportantes, dos que de fato não viram nada, mais por irrelevância do que por legalismo.

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