Eleições 2022

Eleições 2022: Artistas devem se posicionar politicamente?

Nas eleições deste ano, o posicionamento de personalidades reconhecidas marca o apoio a candidatos

  • domingo, 18 de setembro de 2022

Foto: Reprodução/Fábio Tito g1Emicida mostra camiseta de Criolo com um título de eleitor e a palavra 'vote' durante show de encerramento do palco principal do Lollapalooza 2022
Emicida mostra camiseta de Criolo com um título de eleitor e a palavra 'vote' durante show de encerramento do palco principal do Lollapalooza 2022

Com as eleições de 2022 cada vez mais próximas, é possível ver uma clara divisão de lados: os que apoiam e os que se opõem ao atual governo.

Diante dessa divisão, existem as pessoas que se permitem ficar isentas de opinião. Quando se trata de figuras públicas, porém, essa neutralidade não tem sido aceita pelos brasileiros, que querem saber o posicionamento dos artistas. 

A legislação eleitoral brasileira proíbe artistas e cantores de promover candidatos ou fazer pedidos de voto de forma explícita durante os shows, no período de propaganda eleitoral. Mas o Rock in Rio deste ano não evitou a livre e garantida manifestação política, com expressões, principalmente, da plateia contra Jair Bolsonaro e pró-Lula nos dias de festival.

A edição do Rock in Rio 2022 carregava uma espécie de censura velada aos artistas e suas manifestações políticas – estas, sim, asseguradas pela Constituição – pela possibilidade de serem interpretadas como propaganda a determinado candidato.

Ainda assim, artistas e o público furaram a censura e conseguiram se manifestar em todos os sete dias do festival.

Entre os destaques, a banda Gilsons, sem palavras ou pedidos de voto explícitos, tocou com a guitarra o jingle reconhecido da campanha de Lula “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”.

No show do Criolo, no dia 3 de setembro, foi o público que entoou o coro “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c.”, o que fez o cantor interromper a música para somente escutar a plateia. Em seguida, pediu “que esse sentimento ouvido ajudasse a criar um novo amanhã”.

Emicida também deixou espaço para a plateia gritar “Ei, Bolsonaro, vai tomar no c.”, disse que estava “difícil ouvir o que vocês estão dizendo”, fazendo o público gritar ainda mais alto, e emendou: “obrigado, vocês são f., dia 2 de outubro, por favor, faça isso na urna”.

No dia 10, Maria Rita se apresentou com um longo vestido vermelho, puxou uma roda de samba com “Democracia” escrita no telão, e após o público gritar “Ele, Não”, rebatia cantando “Não, não”.

A cantora Ludmilla também se manifestou e pediu para a plateia fazer o “L” de Lula: “Faz o L, faz o L!”.

Até Ivete Sangalo disse que “o novo tempo está chegando” e, ao final do show, afirmou que “dia 2 vamos mudar tudo”.

Sobre o assunto, o pensarpiauí conversou com Francisco Pellé, teresinense, ator, trabalhador e ativista das culturas do Piauí.

Foto: ReproduçãoFrancisco Pellé, trabalhador e ativista da cultura piauiense
Francisco Pellé, trabalhador e ativista da cultura piauiense

Confira o bate-papo:

pensarpiauí- O artista deve se posicionar publicamente? Qual a repercussão do posicionamento?

Pellé- Acho eu, que pode ser fruto da militança estética e política de cada artista, pois o seu fazer cultural já é um posicionamento político. Toda forma de arte é um ato político. Embora ninguém seja obrigado a posicionar-se publicamente sobre política ou qualquer outro assunto, é esperado que artistas o façam, justamente por serem pessoas públicas, que vivem da própria imagem e têm o poder de influenciar e mobilizar as demais. No Brasil, com o crescimento da polarização política e da pressão pública impulsionada pelas mídias sociais nos últimos anos, os artistas se viram cobrados, “intimados” a tomar partidos sobre os mais diversos assuntos. 

Existem riscos e oportunidades: a manifestação sobre qualquer tema só faz sentido quando a relação do artista com o assunto está enraizada em valores e princípios que ele acredita e pratica.

pensarpiauí- Qual a importância do posicionamento político dos artistas nessa reta final da campanha?

Pellé- Para aqueles que tem sua trajetória estética e política, é fundamental o posicionamento no sentido de esclarecer a opinião ao público e, mais diretamente, aos seus fãs e seguidores sobre o que se passa no processo das eleições e a importância do voto neste momento da democracia brasileira.

pensarpiauí- Em tempos de cultura do cancelamento, como criar um debate saudável com a polarização entre Lula e Bolsonaro?

Pellé- Debater, falar, fazer arte é ainda a melhor tecnologia para um debate saudável, sem entrar em processos violentos. Muitos dos que foram cancelados, são artistas e trabalhadores da cultura, que precisam sobreviver do seu trabalho, pagar suas contas, sustentar suas famílias. Então não embarco nesta seara de cultura de cancelamento.

pensarpiauí- No Piauí, você acha os artistas livres para se posicionarem?

Pellé- Não os colocaria no território de “livres para se posicionar”, o que se passa com a classe artística do Estado é uma letargia e um jeito esquisito de não se comprometer com as questões políticas, e aí não falo somente das questões partidárias, mas todo o conjunto de ações e assuntos da política cultural e social do país.

pensarpiauí- Como você analisa a conjuntura política atual para a categoria? É favorável ou ameaçadora?

Pellé- No atual momento e no período deste governo é e sempre foi “perigoso” e desfavorável para o artista e o trabalhador da cultura, com a políticas totalmente destruídas, censura e sem a menor possibilidade de diálogo. O espectro do fantasma do fascismo tem nos rondado diariamente. E precisamos todos os dias combater este fantasma.

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