Economia, desenvolvimento e eficiência adaptativa
A literatura econômica descreve de forma exaustiva as considerações sobre ética e economia, desde as “regras de conduta” apontadas por Adam Smith até as explanações de Amartya Sen sobre justiça nos dias atuais.
A ciência econômica tem suas origens ligadas aos ensinamentos da filosofia moral. Com o tempo foi se desenvolvendo, em teoria e método, e contemporaneamente é posto se afirmar a importância das análises normativa e positiva na tradição desta ciência social e demasiadamente humana.
Escassez e escolha são assuntos trabalhados por economistas, em e de diferentes escolas econômicas, da mesma forma que igualdade e liberdade foram categorias muito importantes para a sociologia.
No plano teórico, a economia tenta negar o seu pendor normativo e se contenta em contar a vida na dureza de seu cotidiano, mas assentada em premissas hipotéticas. Nem sempre o individualismo metodológico foi ou ainda é o melhor caminho para a realização das escolhas. Neste sentido neoclássico, a economia pura direciona sua visão para a concorrência, entendendo que a escassez é a base da competição.
No momento, relembro as lições do economista português José Reis (Universidade de Coimbra), importante teórico das instituições, governação e mudança institucional, quando nos alerta que para a economia pura a concorrência é o caminho para se alcançar a eficiência econômica e, portanto, ao equilíbrio. E assim, o mercado se constitui no espaço único de coordenação.
Mas, em última análise a economia enquanto ciênciaé um instrumento para entender a vida, o coletivo, as trajetórias e as deliberações. Em conclusão, parafraseando José Reis e demais economistas institucionalistas a economia não pode ser apenas uma ciência da afetação de recursos para determinados níveis de utilização.
Esta breve digressão me serve como base para informar que as análises entre teoria e política econômica se distanciam quando as impurezas da ciência econômica são expostas em contraposição à racionalidade ilimitada dos agentes que mitigam as ameaças das incertezas e demandam ao mercado a primazia do controle de suas próprias vidas.
Acontece que no campo das escolhas coletivas o mercado não é e nunca foi bom conselheiro. Por isso, Douglass North (1920-2015), economista americano e Nobel de economia evidenciou o conceito e a importância da “eficiência adaptativa” para a ciência econômica, expressando a impossibilidade de deduzir o futuro a partir do passado. Sem as instituições a previsibilidade é escassa. As instituições reduzem as incertezas.
No Brasil, atualmente, estamos vivendo um embate entre a eficiência racional (de mercado) e a eficiência adaptativa. No governo Bolsonaro (que morreu antes do fim, sem precisar de guerra) a crença no mercado (do Paulo Guedes) e a destruição das instituições frustrou as expectativas racionais de arrastar o presente para o futuro a todo o custo. Deu ruim, hein? A esperança ressuscitadano novo governo de Lula da Silva, que a princípio tem pendor para a compreensão sobre a eficiência adaptativa.
No campo da ética, um bom caminho é não trilhar nem reforçar as ideias de negação do governo anterior. E no campo econômico que lições pode o novo governoimplementar? O que a ciência econômica tem para dizer e/ou predizer?
Volto ao ponto inicial entre a possível justaposição ou dicotomia entre ética e economia. Sendo esta última uma ciência substantiva e social, a sua normatividade (a vida como deve ser) não pode subsumir a realidade do cotidiano (a vida como ela é). Contudo, faz-se necessário uma leitura do mundo que extrapole a visão acanhada ou de bolha que fomos submetidos nas últimas gestões governamentais, no plano federal.
A economia tem muito a contribuir para que as desejabilidades de bem-estar econômico, legitimidade democrática e sentido viável de coletividade possam ser alcançadas, a partir de escolhas coletivas pautadas na eficiência adaptativa.
Até o próximo encontro prezados leitores e prezadas leitoras.
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