Política

Duas análises sobre o Datafolha: Apoio ficará mais caro. O caminho é segurança e mobilidade

Veja comentário sobre o Datafolha de Ricardo Noblat e Miguel do Rosário


Duas análises sobre o Datafolha: Apoio ficará mais caro. O caminho é segurança e mobilidade
A pesquisa Data Folha deixa o governo em alerta

Apoio ao governo ficará mais caro com a queda da popularidade de Lula

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles

Estamos a quase 10 meses do fim de 2025, o ano que Lula considera, e com razão, o mais decisivo para a sorte do seu terceiro governo. Se ele não chegar bem até lá, dificilmente terá chances de se reeleger em outubro de 2026, como tanto quer.

Naturalmente, isso Lula não diz, nem mesmo em conversas com seus companheiros mais próximos, para não parecer desde já que poderá jogar a toalha. De resto, pela esquerda, não teria para quem jogá-la. Talvez fosse obrigado a ir para o sacrifício.

A aprovação de Lula desabou em dois meses de 35% para 24%, alcançando um patamar inédito para ele em suas três passagens pelo Palácio do Planalto, segundo a mais nova pesquisa do Datafolha. A reprovação também é recorde: passou de 34% a 41%.

Acham o governo regular 32%, ante 29% em dezembro, quando o Datafolha havia feito sua última pesquisa. Foram ouvidos 2.007 eleitores em 113 cidades, na segunda (10) e na terça-feira (11), com margem de erro geral de dois pontos para mais ou menos.

Na parcela dos brasileiros que ganham até dois salários-mínimos, a aprovação despencou de 44% para 29%. Eles representam 51% da amostra populacional do Datafolha, e a margem de erro nesse grupo é de três pontos percentuais apenas.

Nos 33% dos ouvidos que só têm ensino fundamental, a queda foi também de 15 pontos: de 53% para 38%. Aqui, a margem de erro é de quatro pontos. Mesmo no Nordeste, reduto eleitoral de Lula e sua principal fortaleza, o ótimo/bom caiu de 49% para 33%.

Entre eleitores de Lula no segundo turno contra Bolsonaro em 2022, o recuo foi de 20 pontos, chegando a 46%. A desaprovação quase dobrou (7% para 13%), mas a desconfiança fez a opinião migrar mais para o regular, que foi de 27% para 40%.

O deputado federal Jilmar Tatto (SP), secretário de Comunicação do PT, admite que a avaliação do governo Lula atingiu o “fundo do poço”, mas que a situação ainda não é desesperadora:

“Chegou nesse ponto em função de tudo que aconteceu neste período mais recente. Tem que reagir, e reagir rápido”.

Tatto refere-se à batalha perdida pelo governo em janeiro quando a oposição disseminou a notícia falsa de que seriam taxadas as transações via Pix superiores a cinco mil reais. Refere-se também ao aumento no preço dos alimentos, cuja culpa não é do governo.

Pode não ser. Mas o eleitor insatisfeito costuma culpar por tudo o governo de ocasião. A inflação nos Estados Unidos estava em baixa, mas a percepção dos americanos era de que estava em alta. Então derrotaram o presidente Joe Biden e sua candidata.

Outras pesquisas recentemente divulgadas, entre elas a da Quaest, mostraram que Lula segue favorito para se reeleger e que venceria qualquer um dos atuais aspirantes a candidato. Ocorre que a eleição não é hoje ou amanhã, só daqui a quase 20 meses.

Essa constatação serve para os dois lados: para animar Lula a tentar se recuperar, e para injetar ânimo na oposição que pretende impedi-lo de conquistar o quarto mandato. Governo é forte mesmo quando está ladeira abaixo. Bolsonaro estava, mas quase se elegeu.

Disse Lula, ontem, antes de conhecer os resultados da pesquisa Datafolha:

“2025 é meu ano. Agora, se eu vou ser candidato ou não… Eu tenho 79 anos, não posso mentir para ninguém nem para mim. Se eu tiver 100% de saúde, como estou hoje…”

Não se aterrorize ou não comemore a frase que Lula não concluiu. Ele é suficientemente esperto para esconder o que fará, deixando os caminhos abertos para trilhar qualquer um deles. O mais provável é que seja candidato mesmo arriscando-se a perder.

Por enquanto, de certo em 2025, só existem duas coisas à vista: Lula terá de pagar mais caro pelo apoio de partidos ao seu governo; e Bolsonaro será condenado pelo Supremo Tribunal Federal a uma pena elevada. Nesse caso, eu acho é pouco.

Brasil quer segurança pública e mobilidade urbana

Por Miguel do Rosário, jornalista, no Cafezinho

Sobre a pesquisa Datafolha e outras recentes, que mostram declínio na aprovação de Lula, quem melhor tem analisado os números é o próprio presidente Lula.

E o que ele diz? Que é preciso trabalhar mais, entregar mais e ouvir mais o povo.

Simples assim. Essa é a única resposta concreta a uma queda na pesquisa. Ficar discutindo comunicação é perda de tempo.

O governo tem entregado muito e a economia apresenta indicadores sólidos. Mas o povo quer mais. E isso é ótimo!

Entretanto, apesar de fazer uma análise realista, Lula não parece ter encontrado a solução. Não está seguindo integralmente próprio conselho.

A extrema direita, com suas pautas ridículas – como o fim do banheiro unissex, a volta do canudinho de plástico e a distribuição de armas à população –, também não tem soluções reais para os problemas do país.

Não se pode esquecer que a melhor pesquisa é a eleição popular. O povo escolheu Lula em 2022 com 60 milhões de votos e poderá reelegê-lo em 2026. Mas será necessário que o governo vá além dos programas assistencialistas e de uma neoindustrialização que ainda não oferece perspectiva de mudanças no dia a dia.

Dilma também perdeu popularidade em 2013, mas se recuperou e venceu em 2014. O próprio Lula enfrentou dificuldades em 2005 e foi reeleito em 2006.

Há um consenso crescente sobre a necessidade de um projeto sólido para a segurança pública.

Concordo.

Mas acrescento que segurança está diretamente ligada à mobilidade, pois a polícia também fica presa no congestionamento. Não é a toa que toda a violência no Rio está ligada à (falta de) acessibilidade das comunidades problemáticas.

O governo Lula precisa oferecer algo novo, uma marca própria, um legado.

E não vejo alternativa melhor do que investir em trens de alta velocidade, metrôs e VLTs.

O Brasil precisa fazer uma revolução ferroviária!

O preço dos alimentos deve se estabilizar nos próximos meses, mas a redução real dos custos só virá quando modernizarmos a matriz de transporte do país.

Toda mudança concreta, sustentável e realmente transformadora que o país precisa, inclusive a tão almejada neoindustrialização, passa pelo transporte sobre trilhos!

As duas medidas essenciais para enfraquecer a extrema direita são:

  1. Um grande projeto de segurança pública, baseado em vigilância, integração e inteligência artificial.
  2. Uma revolução ferroviária, com trens de alta velocidade conectando capitais e metrôs melhorando o trânsito nas grandes cidades.

É preciso menos obsessão com pesquisas, menos lenga lenga sobre comunicação, e mais cobrança para o governo entregar projetos estruturantes que melhorem a vida dos brasileiros!

A propósito, um programa nacional de placas solares para residências e edifícios também seria uma excelente iniciativa. E tanto os trens quanto a energia solar poderiam contar com a parceria do camarada Xi Jinping.

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