Política

Congresso vê vício em jogo como oportunidade, e em drogas, como crime

De olhos nas possibilidades trazidas pela instalação de cassinos, empresários salivam


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Congresso vê vício em jogo como oportunidade, e em drogas, como crime

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

A legalização dos jogos de azar passou pela Câmara e, provavelmente, deve ser aprovada no plenário do Senado. Enquanto isso, o Congresso se mobiliza para reforçar a criminalização do usuário de maconha após o Supremo Tribunal Federal criar um critério para separá-lo do traficante. O uso abusivo em jogo e em drogas deveria ser questão de saúde pública, mas um é visto como oportunidade pelos parlamentares e o outro, como crime.

Com a aprovação e sanção da lei das bets, regularizando as apostas on-line sob a justificativa de permitir controle, fiscalização e arrecadação, o Estado brasileiro admitiu um fato consumado. Com isso, o próximo passo lógico seriam os jogos de azar - que, vale ressaltar, já funcionam livremente na internet, normalmente usando servidores no exterior.

De olhos nas possibilidades trazidas pela instalação de cassinos, empresários salivam. E o governo, precisando fechar as contas e de olho em investimentos, chancela a idea de arrecadar bilhões em impostos, caso o projeto se torne realidade.

O porém é que, como já disse aqui anteriormente, cassinos ainda são proibidos no Brasil por causa do impacto negativo à saúde mental do vício no jogo.

Reportagem de Carlos Madeiro, no UOL, apontou que trabalhadores estão se endividando até com empregadores, perdendo o dinheiro da própria sobrevivência por causa da jogatina on-line. E a Polícia Civil do Paraná prendeu uma mulher de 22 anos, na quinta (27), acusada de desviar mais de R$ 179 mil do próprio avô para gastar no "Jogo do Tigrinho". Não foi a única a se viciar em caça-níqueis on-line bombados por influenciadores.

Quem diria que uma sociedade com milhões de pessoas com pouco dinheiro no bolso e despreparada para a jogatina se viciaria na promessa de dinheiro fácil, não é mesmo? Piores do que os bingos, que levaram ao adoecimento psíquico de muita gente, as bets e jogos de azar on-line estão a um celular de alcance.

Se as chances de ficar rico fossem realmente gigantes como os anúncios na TV, no rádio e nas redes fazem crer, não haveria tanta empresa brasileira e estrangeira oferecendo seus serviços de apostas. Ou vocês, acham que elas fazem assistência social?

Grupos evangélicos vêm fazendo campanha junto a parlamentares, nas redes e nas igrejas contra o projeto de lei que prevê a legalização dos jogos de azar, já aprovado pela Câmara e em análise pelo Senado. Eles têm um ponto. Não pela discussão moral, mas pelo impacto na saúde pública.

Publicidade de casas de apostas deveriam ser obrigadas a trazer os mesmos grandes avisos estampados pelos maços de cigarro. E, ao invés do alerta do risco de câncer, o aviso de problemas de saúde mental. Governos deveriam alertar para os riscos de bets e dos joguinhos on-line em amplas campanhas de informação, mostrando o que acontece com quem transforma a aposta eventual em vício.

Não está se discutindo aqui a proibição de nada, até porque seria praticamente impossível, tal como a proibição das drogas. Mas, por decência, o Congresso Nacional deveria, pelo menos, emendar o projeto de lei e considerar os pontos acima.

E acrescentar alguns bilhões de reais para o Ministério da Saúde prevenir, mitigar e tratar o vício no jogo que ele, em breve, vai viralizar.

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