Coitado do Lula... com aliados assim
Ontem Júlio Cesar votou contra o projeto do IOF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado os alertas sobre a relevância estratégica das eleições para o Senado Federal em 2026. Segundo ele, e conforme reconhecem analistas políticos e até integrantes da própria extrema direita brasileira, o controle da Casa Alta é peça central nos planos do campo conservador para reconquistar poder institucional no país.
O Senado tem prerrogativas decisivas: pode barrar indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF) e demais tribunais superiores, vetar nomeações para agências reguladoras e abrir processos de impeachment contra ministros da Suprema Corte. “A extrema direita entendeu a importância do Senado e tem como meta conquistar maioria ali”, tem repetido Lula a aliados, alertando para a urgência de uma resposta política articulada do campo progressista.
No Piauí, contudo, os movimentos políticos indicam um cenário que pode ir na contramão desse alerta. Para as eleições de 2026, consolida-se a possibilidade de uma chapa encabeçada pelo atual governador Rafael Fonteles (PT), que buscará a reeleição, acompanhada da candidatura à reeleição do senador Marcelo Castro (MDB) e, surpreendentemente, da candidatura ao Senado do deputado federal Júlio César Lima (PSD), nome historicamente ligado à direita tradicional.
Na votação de ontem, a Câmara dos Deputados aprovou, por 346 votos a 97, o regime de urgência para o projeto que derruba o decreto presidencial que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O governo Lula era contrário à derrubada e dependia da manutenção do decreto para reforçar o ajuste fiscal. Um dos votos a favor da urgência, portanto contra a posição do Planalto, foi justamente de Júlio César — que é hoje um dos nomes cotados para ocupar a vaga majoritária na chapa governista piauiense ao Senado.
Quem é Júlio César?
Júlio César de Carvalho Lima nasceu em Guadalupe (PI), em 1948. É agricultor e político filiado ao PSD. Exerce seu sétimo mandato como deputado federal e tem um histórico político que remonta à ditadura militar, é o exemplo claro da expressão "filhote da ditadura". Nomeado prefeito de Guadalupe nos anos 1970, quando o município foi transformado em Área de Segurança Nacional, Júlio César foi aliado da ARENA e do PDS, legendas que deram sustentação ao regime autoritário.
Ao longo das décadas seguintes, ocupou cargos em administrações estaduais, presidiu a Agespisa (empresa de saneamento do Piauí), e se reelegeu sucessivamente como deputado federal.
Como vota Júlio César?
Votou a favor do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.
Votou a favor da PEC do Teto de Gastos.
Votou pela Reforma Trabalhista de 2017
Também votou para arquivar denúncias contra o então presidente Michel Temer.
Apesar de integrar formalmente a base de apoio do presidente Lula, sua postura parlamentar, incluindo o voto recente contra o governo no caso do IOF, reacende o debate sobre os limites das alianças políticas.
Alerta ignorado?
Caso a candidatura de Júlio César ao Senado seja confirmada com o apoio do PT do Piauí, o partido poderá estar contribuindo diretamente para a ampliação da influência da direita no Senado — exatamente o risco que Lula tem denunciado. O paradoxo levanta uma questão desconfortável: com aliados assim, o projeto progressista de Lula pode estar abrindo espaço para os mesmos setores que querem minar sua governabilidade.
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