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Celebrar a amizade: isso fizeram filhos de São João da Canabrava

O encontro aconteceu sábado passado


Renato Rodrigues Celebrar a amizade: isso fizeram filhos de São João da Canabrava
Amigos de São João da Canabrava

Por Oscar de Barros e Renato Rodrigues, jornalistas 


Vamos falar de partidas e chegadas. De migração. De trabalho. De sucesso. De saudade. De amizades e de amigos

Agora pensando / Ele segue outra tría / Chamando a famía / começa a dizer / Eu vendo meu burro / Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo à São Paulo / Viver ou morrer / Nóis vamo à São Paulo
Que a coisa tá feia / Por terras alheias / Nóis vamo vagar... Faz pena o nortista / Tão forte, tão bravo / Viver como escravo /
Nas terras do sul

Os versos acima foram escritos pelo poeta Patativa do Assaré e imortalizados na voz de Luiz Gonzaga. São versos que fazem parte da música A Triste Partida – uma epopeia que fala da saga de milhares e milhares de nordestinos que nos anos 50, 60 e 70 migraram para São Paulo expulsos pela seca e falta de condições sócio-econômicas do Nordeste daquele tempo, e à procura de trabalho e renda.

A história é conhecida e, o trágico fim de seus personagens retidos nas periferias de São Paulo, também.

Hoje o pensarpiaui quer contar esta história, mas, com um final bem diferente, um final feliz.

A cidade de Picos tinha uma comunidade rural chamada Canabrava que depois foi emancipada e tornou-se o município de São João da Canabrava. É de lá que vem Zé de Chico Celerindo, João Holanda e Lourival Bernardes – os personagens de nossa história.

Eles nasceram nesta zona rural e enfrentaram as agruras dos homens do campo. Jovens, seguiram o destino e foram parar em São Paulo. Depois de muitos anos nas terras bandeirantes, eles construíram família e riqueza e sábado passado retornaram à Canabrava para celebrar a amizade.

Eles já tinham vindo outras vezes de São Paulo. Passavam alguns dias, visitavam parentes e amigos e voltavam para o labor paulista. Desta vez, não. Desta vez fizeram questão de um grande encontro com os amigos para celebrar esta dádiva humana.

A amizade é um amor que nunca morre

Mário Quintana 

 

Zé, João e Lourival fizeram questão de juntar, de conversar, de rever os amigos. E marcaram para o dia 22 de junho este momento de reverenciamento à amizade. Mas os três moram em São Paulo. Como organizar uma festa assim tão grande?  

Ah! Mas estamos falando de amizade. Então, é só acionar os amigos e eles resolvem tudo. 

Chico, Rabelo e Raimundo moram em Teresina e receberam o pedido para organizar a festa. 

 O Espaço de Lazer e Eventos O Veloso, em São João da Canabrava, foi o escolhido. Decidiu-se que um dos pratos da festa seria o Boi no Rolete – o animal é assado inteiro na brasa por cerca de 18 horas e a carne vai sendo injetada de tempero líquido por todo este tempo. O animal da festa pesou em torno de 220 quilos. 

O pensarpiaui agora entrega a palavra aos donos da festa. João Holanda através de áudio e Lourival Bernardes e Zé de Chico através de textos:

João-Editado.mp3

Lourival Bernardes relatou assim sua trajetória de vida:

 “Eu sou de São João da Canabrava, nasci aqui e residi até os 12 anos. Primeiro fui para Picos, onde morei por quatro anos e em 1980 fui para São Paulo e lá estou até hoje. 

Início da amizade

Por algum tempo havia amizade, mas, não era com tanta frequência que a gente se encontrava. Em 2014 ou 2015, eu fui convidado a participar da maçonaria e a gente se tornou um grupo da mesma loja, irmãos. A partir daí a gente se tornou irmãos de encontros semanais ou sempre que possível, e os laços se fortaleceram.

 A festa

Eu topei participar desse sonho porque essa era uma ideia que também fluía já há algum tempo no meu pensamento porque sempre que eu retornava aqui para o Piauí, a gente era acolhido, recebido, seja através de um convite para almoçar, tomar um café. Os amigos e parentes sempre nos acolheram e eu disse a eles que tinha o sonho de fazer algo onde eu pudesse retribuir a festa que eles fazem quando me convidam e eu vou a casa deles. É como se aqui fosse a minha casa e eu os convidasse a entrar."

É hora de Zé contar sua trajetória muito parecida com a música Triste Partida mas com um final diferente e muito feliz:

O início na Canabrava

"Eu saí daqui em 11 de fevereiro de 1969. Aqui eu já tinha algum pensamento de ser algo a mais na vida. Eu comecei com 15 anos, era um pequeno comerciante de uma mercearia, uma bodega. Vendia cachaça, sal, querosene, remédio, biotônico. Quando terminava a safra eu estudava na casa de amigos. Lá para os meus 18 anos chegou aqui uma prima do meu pai, que era de Floriano e foi estudar no Colégio das Irmãs. Ela havia sido nomeada pelo governo para lecionar e montou duas classes na mesma sala, 2º e 3º ano do primário. Eu fui avaliado e entrei no 3º ano, em maio: no fim do ano, eu conclui. Já tinha 18 para os 19 anos e não tinha mais como estudar aqui. Fui para Picos e lá procurei uma escola, novamente fui avaliado e entrei no 5º ano. No fim do ano prestei exame de admissão, que era um vestibulinho que ao ser aprovado, você entrava no ginásio. Eu com 19 anos falei ‘não dá, eu tenho mais sete irmãos para ajudar meu pai a criar’. Foi aí que fui para São Paulo. 

Atuo no ramo de materiais de construção já há 42 anos e hoje são dois filhos meus que tomam conta da loja. 

Antes eu trabalhei 10 anos da Volkswagen, fazia 150 horas extras por mês. Com vontade de empreender eu comprei um bar em frente a uma casa noturna que abria na segunda-feira e fechava domingo a tarde. Depois de nove meses eu vi que o bar era melhor que a Volks, então pedi as contas e toquei o bar por mais cinco anos antes de partir para o ramo de material de construção. 

 Sobre a festa

Parece até mentira, mas eu sonhei com essa festa na véspera do dia das mães de 2023, comemorando com todos os amigos contemporâneos. Eu tenho meu amigo e irmão João Holanda e a gente sempre se encontra para tomar uma cerveja no bar de um amigo e contei o sonho para ele, ele disse que também tinha essa vontade e dali nasceu a ideia. Depois, juntamos com o Lourival, também um amigo e irmão e aí começamos a criar o plano que estamos realizando hoje. 

Estamos esperando mais ou menos de 700 a 800 pessoas. A preocupação do meu amigo João era a comida não dar, porque criado aqui no interior, a mãe dele sempre falava ‘meu filho, quando não sobra é porque não deu’. Nós tomamos as providências e parece que não vai faltar nada. 

Estamos muito felizes com isso. Aqui eu vou ver contemporâneos, amigos da infância e parentes."

Zé de Chico não parou de trabalhar, mas os responsáveis mesmo pela loja de material de construção são seus dois filhos Klebert e Everton Sousa.  O primeiro, esteve na festa e falou sobre os negócios da família.

 

As empresas

"Nós trabalhamos essencialmente com material de construção. Além disso nós trabalhamos com construções próprias, para a renda da família. Nós temos a empresa de material de construção, uma empresa de administração de imóveis, que acreditamos,  garantirá nosso futuro. 

Todo mundo fala que trabalhar em família gera muita desunião, mas, entre nós, é tudo muito integrado, com muita conversa, a gente faz as coisas e na dúvida nos aconselhamos com o pai porque é ali que está a experiência.

Quando eu tinha 14 anos, decidi que queria ficar trabalhando na loja, nunca fui forçado e decidi que queria ficar ali. A partir daí que eu fui fazer administração. Ali eu realmente me realizo muito, meu irmão também, tenho certeza disso."

O editor do pensarpiaui, jornalista Oscar de Barros é da família de João Manoel de Barros. Os descentes deste senhor são conhecidos como “Os Manés” e todos tem uma profunda amizade com Zé de Chico Celerindo – particularmente o Raimundo, um dos organizadores da festa. 

O Zé, carinhoso como sempre, disse: sendo Mané, estão todos convidados e, lá foi parte da numerosa familília Mané: (Nezim, Claudene, Claudeci e Miguel, José e Gildete, Chico e Neuma, Eustácio, Cida, Ana Claudia, Belarmino e Davi, Raimundo, Elenildes Rian e Eduarda, Antonieta e Vagner, Maria, Lucia, Francisca, Oscar e Rosangela). 

Os Manés são amigos de João Holanda e Lourival Bernardes mas a ligação deles com Zé é como se fosse consanguínea.  Ele poderia até receber a alcunha de Zé Mané de Chico Celerindo


Convidados de Zé, João e Lourival que cruzaram fronteiras estaduais para vir para a festa:

Antonia Sousa Rodrigues, Vagner Sousa Rodrigues, Casimiro Rodrigues, Celerindo, Elesbão e Eremita, Raimunda de Dica Leite (todos vieram de SP). 

Também veio o Marcelo, vice-prefeito e candidato a prefeito de São Bernardo do Campo e Fransciscano (também de São João da Canabrava) que é pré-candidato a prefeito de Imperatriz/MA. Obs: Osvaldo de Chico Selerindo veio dos Estados Unidos para festa. Ele é irmão de Zé de Chico que por muito tempo mantiveram sociedade. 

Alguns números da festa: 

Dois carneiros de 35kg cada

Um boi de 220 kg

Três porcos um de 60 kg e dois de 35 kg 

Mais 50 kg de linguiça

50 kg de macaxeira frita


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