"Carlos, Flávio e Renan: como filhos de Bolsonaro foram beneficiados por esquema secreto na Abin"
Retirada de sigilo revela detalhes da “Abin Paralela” e seu uso para proteger filhos de Bolsonaro

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de retirar o sigilo do inquérito que investiga o funcionamento da chamada “Abin Paralela”, trouxe à tona detalhes sobre o suposto uso clandestino da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para beneficiar os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e perseguir opositores políticos.
A medida foi tomada por Moraes na quarta-feira (18), com a justificativa de evitar interpretações distorcidas sobre o andamento das investigações, diante de vazamentos seletivos que vinham ocorrendo.
Segundo a Polícia Federal, o grupo investigado teria se apropriado da estrutura da Abin para montar um esquema de espionagem ilegal em favor de aliados do governo Bolsonaro. As ações eram executadas com o uso do software israelense First Mile, adquirido ainda na gestão de Michel Temer (MDB), que permitia monitoramento em tempo real de alvos e seus deslocamentos.
Indícios de proteção a filhos de Bolsonaro
O inquérito aponta que a “Abin Paralela” atuou diretamente para proteger Jair Renan, Flávio e Carlos Bolsonaro. Entre os episódios investigados, estão tentativas de interferência em investigações da própria PF, especialmente na que envolvia Jair Renan, suspeito de atuar em favor de empresários do setor de construção civil interessados em projetos no Ministério do Desenvolvimento Regional.
Segundo os investigadores, Jair Renan teria recebido um carro elétrico como pagamento por essa intermediação. No entanto, o trabalho da PF teria sido comprometido por uma ação de contrainteligência atribuída à “Abin Paralela”. O agente federal Luiz Felipe Barros Feliz, cedido à Abin, teria realizado uma vigilância irregular sobre um ex-sócio de Jair Renan. A abordagem levou o monitorado a procurar a polícia, o que frustrou a obtenção de provas. A operação, segundo o inquérito, foi ordenada por Alexandre Ramagem, então diretor da Abin e atual deputado federal (PL-RJ).
Carlos Bolsonaro: figura central da estrutura
Carlos Bolsonaro (PL-RJ), vereador e filho do ex-presidente, aparece como um dos principais beneficiários do esquema. De acordo com a PF, ele teria tido acesso privilegiado a informações sigilosas com o objetivo de antecipar ou neutralizar investigações que envolvessem seu pai e seus irmãos.
O relatório menciona que sua assessora, Luciana de Almeida, chegou a solicitar diretamente a Ramagem ajuda em inquéritos que envolviam o presidente e seus filhos. Além disso, Carlos é apontado como articulador da estrutura clandestina, que contava com a atuação de um delegado e três agentes, e teria papel estratégico na disseminação de desinformação contra o sistema eleitoral, repetindo alegações infundadas de fraude na apuração dos votos.
Atuação em favor de Flávio Bolsonaro
O inquérito também detalha ações atribuídas à “Abin Paralela” para proteger o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado por um suposto esquema de rachadinhas quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.
De acordo com a PF, os agentes Marcelo Bormevet, da PF, e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército, atuaram para levantar “informações comprometedoras” contra auditores da Receita Federal responsáveis por relatórios que embasaram as investigações contra Flávio. A intenção seria descredibilizar os servidores e os documentos produzidos por eles.
A investigação indica que o Sindicato dos Servidores da Receita Federal (Sindifisco) também foi envolvido na estratégia. Um procedimento administrativo aberto pela entidade teria como objetivo expulsar os auditores envolvidos, criando argumentos jurídicos para anular as apurações contra o senador.
Além disso, esses servidores foram alvos de procedimentos na Corregedoria da Receita Federal, numa tentativa de invalidar os elementos produzidos pela Operação Furna da Onça, que investigou o pagamento de “mensalinhos” a deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro — entre eles, Flávio Bolsonaro.
Bolsonaro não foi indiciado, mas é citado como beneficiário
O inquérito da PF indiciou 34 pessoas, mas Jair Bolsonaro não está entre elas. No entanto, ele é descrito como “principal destinatário” das ações clandestinas investigadas. A corporação ressalta que as atividades da “Abin Paralela” tinham como foco gerar vantagens políticas para o grupo ligado ao ex-presidente, especialmente por meio da perseguição de opositores e ataques ao sistema eleitoral.
“O conjunto de ações reveladas pela investigação demonstra que o esquema atuava para favorecer o núcleo político do ex-presidente, instrumentalizando estruturas estatais para fins pessoais e políticos”, diz um dos trechos do relatório da Polícia Federal.
Deixe sua opinião: