Bolsonaro tenta reescrever história do 8 de Janeiro. Veja o que ele disse em Copacabana
"Se eu sou tão ruim assim, me derrote”, disse Bolsonaro. Só que ele já foi derrotado por Lula

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao centro dos holofotes neste domingo (16), em um ato realizado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, que escancarou sua tentativa de reabilitar a própria imagem e transformar golpistas condenados pela Justiça em “inocentes perseguidos”. A manifestação, com apelo por anistia aos responsáveis pelos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, foi marcada por revisionismo histórico, provocações à Justiça e mais uma série de discursos populistas com forte tom conspiratório.
Ao subir no trio elétrico ao som de um remix de “Baile de Favela”, Bolsonaro foi recebido com gritos de “Mito!” por seus apoiadores. Em vez de reconhecer a gravidade do atentado que chocou o país e atacou os pilares da democracia, o ex-presidente preferiu se vitimizar, afirmando que vivia um dos dias mais difíceis da sua vida por estar, segundo ele, lutando por “pessoas de bem” – os mesmos que participaram da invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes.
Ignorando as condenações já estabelecidas pela Justiça com base em provas robustas, Bolsonaro insistiu na narrativa de que os golpistas não teriam “intenção nem poder de fazer aquilo que estão sendo acusados”. Em tom melodramático, citou mulheres presas e brasileiros que teriam deixado o país por medo, tentando pintar um cenário de perseguição política digno de uma distopia — quando, na verdade, o que está em jogo é o cumprimento da lei.
O evento foi pontuado por slogans bolsonaristas e ataques ao presidente Lula. Em um momento de emergência, quando uma apoiadora passou mal na multidão, Bolsonaro aproveitou até mesmo o socorro médico para reforçar sua retórica messiânica: “Uma pessoa é importante para nós”, disse, como se a vida humana fosse uma moeda retórica em seu discurso.
No meio do palanque, o ex-presidente ainda encontrou espaço para celebrar seus 70 anos de vida, se colocando como mártir de uma cruzada patriótica. “Satisfação e consciência de estar ajudando meu país a sair da escuridão”, declarou, ignorando os escândalos de seu governo que vão de joias recebidas ilegalmente até a tentativa de desacreditar o sistema eleitoral — justamente o que o tornou inelegível.
Na tentativa de desviar o foco das investigações que pesam contra ele, Bolsonaro voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a imprensa, com insinuações infundadas sobre um suposto inquérito secreto que revelaria fraude nas eleições de 2018. O mesmo Bolsonaro que durante anos teve a caneta presidencial em mãos agora recorre à velha tática da cortina de fumaça e da desinformação.
A retórica conspiratória seguiu com afirmações bizarras, como a de que “o Brasil é a terra prometida”, e ataques pessoais a membros do governo Lula, incluindo insinuações machistas ao comparar sua esposa Michelle com a primeira-dama Janja. Em tom de espetáculo, ainda chamou ao trio elétrico a viúva de um dos presos que morreu na cadeia após ser condenado por envolvimento nos atos golpistas — mais uma tentativa de transformar criminosos em mártires.
No encerramento do ato, Bolsonaro fez uma declaração que escancara sua visão distorcida sobre democracia: “Eleições sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil. Se eu sou tão ruim assim, me derrote”. A fala, carregada de ironia e autorreferência, revela mais uma vez a tentativa de se posicionar como único representante legítimo da vontade popular e esquecendo de dizer que ja foi derrotado em 2022 pelo presidente Lula, sendo inclusive o primeiro presidente em exercício do mandato a perder uma eleição.
A manifestação contou com a presença de figuras do alto escalão do bolsonarismo, incluindo governadores aliados e seus filhos parlamentares. Tudo isso acontece no momento em que Bolsonaro é formalmente denunciado pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado — mais um capítulo da longa trajetória de ataques à democracia brasileira protagonizada pelo ex-presidente.
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