Bolsonaro prepara arapuca para desmoralizar Cid no STF

Um detalhe revelador, mas que passou quase despercebido, marcou o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última segunda-feira (9). Durante a audiência que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Celso Vilardi, fez uma pergunta aparentemente corriqueira, mas que revelou uma estratégia mais profunda da defesa.

Vilardi questionou Cid se ele teria utilizado um perfil de Instagram não registrado em seu nome para tratar de assuntos ligados à delação premiada. “Eu quero saber se ele fez uso em algum momento para falar de delação de um perfil no Instagram que não está no nome dele”, perguntou o advogado. Surpreso, o militar respondeu de forma vacilante: “Não”.

A resposta levou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, a intervir e pedir que Vilardi especificasse a qual perfil se referia. O advogado então ampliou a pergunta: “Eu queria saber se ele nunca usou perfil de mídia social para falar com alguém”.

Cid tentou justificar sua negativa afirmando que todos os seus aparelhos haviam sido apreendidos pela Polícia Federal. No entanto, sob nova pressão, o advogado mencionou diretamente o nome de um perfil: @gabrielar702.

Visivelmente desconcertado, Cid respondeu: “Esse perfil não sei se é da minha esposa. Mas Gabriela é o nome da minha esposa”.

Segundo reportagem de Malu Gaspar, em O Globo, fontes próximas à investigação apontam que o perfil citado seria de fato utilizado por Cid para manter comunicações privadas, incluindo assuntos que não constam oficialmente no processo e que podem enfraquecer sua posição como colaborador da Justiça.

Nos bastidores, a conta é tratada como uma peça-chave na estratégia da defesa de Bolsonaro. A intenção por trás da pergunta de Vilardi seria justamente colocar Cid em xeque, expondo contradições que poderiam comprometer a credibilidade de sua delação premiada.

O depoimento de Mauro Cid faz parte da fase de instrução do inquérito que apura a tentativa de subversão democrática após o resultado das eleições presidenciais de 2022. Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid já confirmou pontos centrais da denúncia do Ministério Público, incluindo a existência de uma minuta de golpe e tentativas de pressionar as Forças Armadas contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

A revelação do uso de um possível canal alternativo de comunicação adiciona uma nova camada de complexidade ao caso — e pode ter repercussões no acordo de colaboração firmado por Cid com a Justiça.

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