Bolsonaro pode ser preso e ter bens bloqueados pela PF
Pedido de investigação liga ex-presidente a operação internacional contra o STF e aponta uso de doações em ofensiva golpista articulada pelo filho

Jair Bolsonaro pode não apenas ser preso, mas também ter seus bens bloqueados, em razão do suposto financiamento da estadia de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos. Eduardo é investigado por articular, com autoridades norte-americanas, sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-presidente já afirmou publicamente que é ele quem arca com as despesas do filho no exterior.
Essa ligação direta levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a pedir que Bolsonaro seja ouvido pela Polícia Federal (PF), além de levantar a possibilidade de medidas cautelares, como o bloqueio de bens. O inquérito contra Eduardo foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes na última segunda-feira (26).
Financiamento e conspiração
Em diversas entrevistas, Bolsonaro revelou que Eduardo está “sem salário” e que sua permanência nos EUA é sustentada com os R$ 17,2 milhões arrecadados via doações por Pix em 2023. Segundo ele, “se não fosse o Pix, eu não teria como bancar essa despesa. Ele está fazendo o seu trabalho de interlocução com autoridades no exterior”.
Essa “interlocução” tem como alvo o STF, a PGR, a Polícia Federal e outras instituições que investigam a tentativa de golpe de Estado. A PGR aponta que Eduardo busca pressionar o governo dos EUA a impor sanções contra autoridades brasileiras — como cassação de vistos, bloqueio de bens e restrições comerciais — em resposta às investigações que envolvem Bolsonaro e seus aliados.
Na prática, o ex-presidente estaria financiando uma operação internacional para obstruir a Justiça e intimidar instituições brasileiras. Isso levanta a possibilidade de que Bolsonaro seja responsabilizado como coautor ou participante das ações atribuídas ao filho.
Gonet indica possibilidade de bloqueio de bens
No pedido encaminhado ao STF, o procurador-geral Paulo Gonet afirma que Bolsonaro admitiu bancar a estadia de Eduardo e destaca que ele é “diretamente beneficiado” pela conduta. Gonet também sugere que outras medidas podem ser adotadas no decorrer da investigação, afirmando:
“Sem embargo de outras, até de índole cautelar, que o desenvolvimento dos acontecimentos possa recomendar.”
Nos bastidores do STF, essa frase tem sido interpretada como sinal de que medidas como o bloqueio de bens estão sendo consideradas, especialmente se for comprovado que os recursos das doações estão sendo usados para financiar atos contra a democracia.
Bolsonaro pode ser preso no depoimento?
Bolsonaro foi intimado por Alexandre de Moraes a depor à PF no prazo de 10 dias, a partir de terça-feira (27). A forma como responderá — ou se responderá — pode ser decisiva para o andamento da investigação.
Embora seja ouvido como declarante, juristas e ministros já discutem hipóteses legais para decretar sua prisão preventiva. Veja os principais cenários:
Obstrução de Justiça: Caso fique evidente que Bolsonaro participou, direta ou indiretamente, da articulação para pressionar o STF e a PF.
Mentira ou omissão no depoimento: Ele pode optar pelo silêncio, mas se mentir e for confrontado por provas, isso pode ser interpretado como tentativa de atrapalhar as investigações.
Conivência com ameaças: Declarações recentes de Eduardo, como a ameaça de que “agentes da PF entrarão na mira dos norte-americanos”, podem atingir Bolsonaro se houver indícios de conivência ou incentivo.
Reiteração de conduta antidemocrática: Como já é réu por tentativa de golpe de Estado, essa nova investigação pode ser entendida como continuidade da ofensiva contra o Estado democrático.
Desobediência a ordem judicial: Caso Bolsonaro não compareça à PF ou descumpra os prazos, isso pode justificar sua prisão preventiva para garantir o cumprimento da lei.
Cerco se fecha
O financiamento da estadia de Eduardo nos EUA, em meio à suspeita de articulação contra autoridades brasileiras, coloca Jair Bolsonaro em uma situação jurídica cada vez mais delicada. Ele é apontado como patrocinador de uma operação internacional voltada à intimidação de instituições do país.
Se ficar comprovado que as doações recebidas via Pix foram usadas para sustentar ações antidemocráticas, o ex-presidente pode ser alvo de novas investigações, ter seus bens bloqueados e, eventualmente, ser preso preventivamente. O depoimento à Polícia Federal será crucial para definir os próximos passos desse processo.
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