A Rede Globo reforça sua posição: defender ricos é seu projeto editorial
A Rede Globo não age como imprensa: atua como braço de sustentação política do capital financeiro, do Congresso antipopular e dos interesses de uma elite que teme perder seus privilégios

Na mais recente ofensiva contra qualquer tentativa de justiça fiscal no Brasil, a Rede Globo mostrou de que lado está: o dos milionários, dos bancos e do Centrão fisiológico — agora também alinhado ao bolsonarismo. Em uma cobertura que flerta com o escândalo jornalístico, o Jornal Nacional de quinta-feira (3) dedicou preciosos minutos de seu telejornal para defender Hugo Motta (Republicanos-PB), Davi Alcolumbre (União-AP) e os 433 mil milionários brasileiros — blindando-os das críticas populares pela derrubada do aumento do IOF, que beneficiaria a parcela mais rica da população.
Sob o pretexto de combater “ataques com uso de inteligência artificial”, o JN encampou uma campanha de vitimização dos parlamentares que lideram o golpe fiscal contra o governo Lula e os mais pobres. A âncora Renata Vasconcellos chegou a insinuar que o Partido dos Trabalhadores estaria por trás dos vídeos que circulam nas redes sociais cobrando justiça tributária. A crítica legítima virou “campanha difamatória”.
Mas a farsa se torna ainda mais evidente quando o JN escala ninguém menos que Armínio Fraga — expoente do neoliberalismo, defensor do congelamento do salário mínimo por seis anos — para alegar que a elevação do IOF não representaria justiça tributária. A Rede Globo, com isso, reforça sua posição: defender ricos é seu projeto editorial.
O telejornal ainda abriu espaço generoso para parlamentares bolsonaristas como Rogério Marinho e Zucco, autores de projetos flagrantemente inconstitucionais, acusarem o governo Lula de “radicalismo” por ousar colocar os ricos na linha de frente da responsabilidade fiscal. Para completar o espetáculo, o JN ainda usou a velha retórica do “nós contra eles” para dar voz à autovitimização de Hugo Motta, o principal articulador da sabotagem contra a taxação dos endinheirados.
Globo, Faria Lima e o medo da classe trabalhadora
A movimentação da Globo, incluindo editorial no O Globo e matérias alarmistas, deixa claro o desespero de um setor midiático que há décadas vive em simbiose com as elites econômicas brasileiras. O grupo Marinho tenta reverter o jogo nas redes com argumentos frágeis e desconectados da realidade de um país que concentra renda como poucos no mundo.
No editorial publicado na sexta-feira (4), O Globo chegou a tratar como “inaceitáveis” os vídeos que criticam o Congresso Nacional, especialmente o deputado Hugo Motta. Para o jornal, chamar o Parlamento de “inimigo do povo” é “perturbador”. Mas não pareceu perturbador, por exemplo, quando bolsonaristas chamavam ministros do STF de bandidos ou defendiam o fechamento do Congresso — muitos deles, hoje, aliados da mesma frente que O Globo protege.
Ao criticar a proposta de taxação dos super-ricos, o jornal adota o argumento carcomido da “responsabilidade fiscal” — que, no vocabulário da Faria Lima, significa cortes em políticas públicas, manutenção de isenções indevidas e blindagem de lucros e dividendos.
Criminalização da mobilização social
Na tentativa de neutralizar o crescimento da campanha “Taxar os Bilionários, Bancos e Bets”, O Globo e a Veja — hoje porta-voz da Faria Lima — passaram a criminalizar a mobilização digital com o uso de inteligência artificial. Ignoram, propositalmente, que até a semana passada eram contra qualquer tipo de regulação das big techs e que os vídeos produzidos não são fake news, mas sátiras políticas — uma forma legítima de protesto popular.
Enquanto isso, ações simbólicas como a ocupação de agências bancárias na Faria Lima por movimentos sociais são ocultadas ou desqualificadas pela mídia tradicional. O povo nas ruas cobrando justiça fiscal é tratado como “radicalização”. Já parlamentares que defendem a manutenção dos privilégios fiscais de milionários são tratados como vítimas injustiçadas.
Um Congresso elogiado por vender o Brasil
No editorial, O Globo ainda afirma que “todos os avanços do Brasil passam pelo Congresso”, citando como exemplos as reformas da Previdência e a tributária — ambas duramente criticadas por penalizarem os mais pobres e beneficiarem os mais ricos. A atual reforma tributária, inclusive, continua intocável em pontos-chave, como o Lucro Presumido e o Simples Nacional, enquanto o debate sobre taxação de grandes fortunas segue interditado.
Ao defender figuras como Hugo Motta, Arthur Lira e Davi Alcolumbre, o grupo Globo fecha fileiras com o centrão mais retrógrado, agora amplamente bolsonarizado. A tática é clara: blindar os parlamentares que sustentam os privilégios dos mais ricos e deslegitimar qualquer tentativa de democratizar a arrecadação de impostos.
Justiça tributária virou crime?
A crítica ao sistema tributário brasileiro — regressivo, injusto e ineficiente — não é novidade. O que incomoda a mídia liberal e seus aliados no Congresso é o fato de esse debate ter finalmente ganhado tração nas redes sociais, com participação popular e linguagem acessível. Ao invés de acolher o clamor social por mudança, os grandes veículos optam por desqualificar e reprimir esse movimento.
A Rede Globo não age como imprensa: atua como braço de sustentação política do capital financeiro, do Congresso antipopular e dos interesses de uma elite que teme perder seus privilégios. Em um país onde 1% da população detém quase metade da riqueza, defender a taxação de super-ricos é o mínimo. E criticar os que se opõem a isso não é crime. É cidadania.
Mas para o clã Marinho, quem ousa fazer esse enfrentamento é “radical”. Já Hugo Motta e seus aliados milionários, que sabotam políticas públicas, são heróis da estabilidade. No jogo de interesses da mídia tradicional, a verdade continua sendo a primeira vítima.
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