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Vila Irmã Dulce completou 22 anos: lutar vale a pena

Em 03 de junho um sonho de muitas(os) começava a virar realidade; hoje esse sonho se chama Vila Irmã Dulce

Foto: PiauíHoje/PiauíAgoraVila Irmã Dulce
Vila Irmã Dulce


Por Lucineide Barros Medeiros, no facebook

Há 22 anos, na zona sul de Teresina (PI), um sonho de muitas(os) começava a virar realidade; hoje esse sonho se chama Vila Irmã Dulce. O Movimento Nacional de Luta pela Moradia havia definido o dia 03 de Junho como o Dia Nacional de Ocupações. Vivíamos as primeiras medidas de desmonte do Estado brasileiro patrocinadas pelo governo FHC, em Teresina apoiadas pelo prefeito Firmino Filho, que se encontrava em seu primeiro mandato, e afirmava publicamente que não haveria mais ocupações coletivas de terras ociosas na Capital, pois a Prefeitura não iria mais intervir nas disputas entre sem-tetos e ditos proprietários. Em Teresina, até ali, as ocupações ocorriam de modo espontâneo. E essa afirmação do prefeito era feita diante de um déficit habitacional de aproximadamente 30 mil unidades, associado à alta concentração de imóveis para especulação.

O que fez a Federação das Associações de Moradores e Conselhos Comunitários do Piauí (FAMCC)? Reuniu parceiros e sem-tetos sufocadas(os) pelos preços de alugueis, morando de favores e em outras situações degradantes; e com a ajuda do Padre Brasil, escolheu uma dessas terras desocupadas para enriquecimentos dos seus ditos donos.

- Na madrugada do dia 03 de junho, na marcha mais bonita que já participei, chegamos e ocupamos. Éramos cerca de 3 mil, organizados em núcleos de 50 famílias!

E depois disso? Ameaças de despejos feitas pela prefeitura, pela polícia, pela justiça, enquanto sorteávamos os lotes de 10x20m² e as  famílias erguiam as moradias, cobertas de folhas, de plástico, de palha. 

Quando o despejo parecia inevitável nos organizamos em caravana de caminhões, ônibus, bicicletas e fomos aos palácios. Não nos receberam! Pulamos grades, empurramos a porta e ocupamos, os dois aos mesmo tempo! E nesse dia o prefeito, que não aceitava negociar, o governador, a superintendência da Caixa Econômica Federal e os ditos 3 proprietários da área sentaram-se com os sem-tetos.

A luta se fez banquete na mesa enorme do Palácio do Karnak.

As liminares foram suspensas e a vida seguiu: o processo de organização era permanente. Os poços cacimbões, em várias regiões da Vila, que foi denominada Irmã Dulce através de uma consulta publica, foram cavados a braço. Muita forças juntas: associações, sindicatos, igrejas (Caritas, CPT, MEB), MST, partidos e parlamentares de esquerda, anarquistas, intelectuais do povo, a solidariedade era linda!

A Rádio Comunitária erguia a voz da comunidade no morro mais alto da Vila.

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E as crianças? Tinham nova casa e comunidade, mas ficaram longe de suas antigas escolas. Criamos a Escola 3 de Junho, a cidade se mobilizou doando livros, lápis, cadernos, carteiras e o Ministério Publico interviu, obrigando a Prefeitura a construir a escola no padrão da rede pública escolar em 60 dias, que não foram cumpridos, mas saiu.

Daí para cá muitas lutas, muitas tensões, conflitos; novas organizações, novas lideranças e esse conjunto, com todos os problemas e dificuldades que possam existir, é legado da nossa organização, da nossa luta e da coragem que nos faz valentes quando não estamos sós, quando buscamos a dignidade!

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