Pensar Piauí

Surrealismo político: vereadores avulsos

Resumindo a ópera bufa: os vereadores petistas, em jogada de mestre, inventaram a figura do vereador avulso

Foto: CMTVeadores do PT e Dr. Pessoa
Veadores do PT e Dr. Pessoa

Por Wellington Soares, professor

Quando pensava ter visto tudo em política, alguns fatos recentes abalaram minhas crenças. A ponto de cair, nunca pensei, do cavalo. Não que devo me surpreender com a política. Menos ainda, já passou a idade, com suas maquinações costumeiras.  Afinal, trata-se do jogo pelo poder. E nessa modalidade nada esportiva, predominam rasteiras, alianças esdrúxulas e traições. Não de hoje, ou de ontonte, mas desde sempre. O diacho é quando os podres poderes deixam o plano real, a que nos acostumamos, e assumem dimensões surreais, fugindo à nossa modesta compreensão. O Piauí é hoje, provavelmente, o melhor exemplo disso. Senão, vejamos.

Primeiro, a recusa do PSDB em liderar, como partido derrotado, a oposição ao prefeito eleito de Teresina, doutor Pessoa. Mesmo tendo feito a maior bancada, de quatro vereadores, a sigla não quis cumprir o papel que cabe, tradicionalmente, aos que perdem a eleição. Ou seja, vivenciar as agruras do outro lado e exercer a fiscalização crítica da nova gestão. O apego à cadeira e às suas benesses, que perdurou por mais de 30 anos, leva a tal paradoxo. A coisa é tão absurda que um deles, à boca miúda, teria dito que “uma vez situação, sempre situação”. Enquanto isso, Firmino Filho se mexe indignado, no cemitério Jardim da Ressurreição, com o oportunismo desavergonhado dos peessedebistas e aliados.

Segundo, o provável candidato ao governo estadual pela oposição, Sílvio Mendes, afirma que não subirá no mesmo palanque de Jair Bolsonaro. Pouco importa ter o apoio do time do presidente da República no Piauí. Sobre a razão disso, diz apenas que o mandatário do país causa muita confusão e, de forma peremptória, finaliza assim a conversa: “Ninguém manda em mim”. Mais surreal ainda, acredite se quiser, é ele defender a eleição estadual separada do pleito nacional, como se fossem coisas distintas e não interligadas. Por capricho do ex-prefeito, fica decretado, a partir de agora e pra sempre, que seremos uma ilha apartada do restante do Brasil. Aumento de combustível e gás? Temos nada a ver com isso. Inflação, SUS, Auxílio Brasil, Prouni e política de emprego? Idem.

Não bastasse, vereadores do PT protagonizam, na capital, cena indigna de um partido de esquerda: defendem permanecer na base do prefeito mesmo ele declarando voto em Bolsonaro. Não só voto, mas comandando uma sigla que dará palanque ao presidente no estado. Não só estruturando a sigla, no caso o PL, mas se preparando pra bater duro tanto no governador Wellington Dias quanto no presidenciável Lula, ambos do PT. Na maior desfaçatez, afirmam ser o apoio meramente administrativo, sendo o aspecto político outros quinhentos. Mas, desde quando, o ato de administrar não está ligado à visão política e ideológica? E vice-versa. Pra complicar, dizem que, à revelia do PT, ocupam cargo na gestão do doutor Pessoa. Resumindo a ópera bufa: os vereadores petistas, em jogada de mestre, inventaram a figura do vereador avulso.  

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