Política

Rodrigo Maia, o moderador que virou pedra no sapato de Bolsonaro, deixa comando da Câmara

Após quatro anos e meio à frente da presidência da Câmara dos Deputados, o parlamentar se prepara para voltar para a planície

  • sábado, 30 de janeiro de 2021

Foto: O DiaRodrigo Maia
Rodrigo Maia

Após quatro anos e meio como presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) se prepara para deixar um dos postos mais altos da República, e a terceira posição na linha sucessória da Presidência da República. Com isso, terá que voltar para a planície, o que exigirá esforço para quem se acostumou a ditar a agenda legislativa do país nos últimos anos.

Neste período, o deputado acumulou experiência e algumas denominações elogiosas ou irônicas: foi “líder informal” do governo Michel Temer e “primeiro-ministro” no governo Jair Bolsonaro. Apesar de reservado, Maia é aberto ao diálogo – não por acaso foi reeleito duas vezes ao comando da Câmara, com apoio de boa parte dos partidos de oposição tanto a Temer quanto a Bolsonaro.

O parlamentar não é daquelas pessoas de sorrir com facilidade, mas não se pode dizer o mesmo quanto às lágrimas. Ele, todavia, “ouve” e “cumpre promessas”, dizem os deputados, e isso é relevante nos corredores da Casa, sobretudo, para quem vive articulando consensos possíveis entre a centro-direita e a centro-esquerda no Parlamento, missão quase inglória que sonha em reproduzir no cenário nacional em 2022.

Governo Bolsonaro

O alinhamento com as ideias liberais do ministro da Economia, Paulo Guedes, era o elo de Maia com o governo Bolsonaro. O parlamentar, então, tentou uma aproximação e, em determinado momento, ajudou na interlocução do governo com a Câmara, mas isso não durou muito. Promessas não cumpridas do governo o fizeram recuar.

Ademais, a relação com o chefe da equipe econômica do governo se deteriorou com o tempo – supostamente por “ciúmes” e “falta de traquejo político” do ministro. Nos corredores do Congresso, alguns dizem que pelos dois motivos. A reforma da Previdência – da qual Maia foi o grande articulador e, consequentemente, ganhou grande parcela dos louros – foi o marco dessa ruptura, que só piorou com a chegada da pandemia da Covid-19.

Em determinado momento, diante do vácuo deixado pelo governo, o parlamentar ganhou a alcunha de “primeiro-ministro”, cargo que inexiste no sistema presidencialista, e concentrou ainda mais poder sobre a pauta legislativa. Mesmo estimulando o andamento das propostas econômicas, Maia passou a barrar grande parte da agenda de costumes de Bolsonaro e seu entorno mais próximo.

O negacionismo do presidente da República em relação ao novo coronavírus e os ataques às instituições brasileiras fizeram Maia dobrar a aposta. O freio nos impulsos autoritários de Bolsonaro lhe rendeu ainda mais protagonismo, que se estendeu à Câmara dos Deputados.

Apesar da relação atribulada com o atual residente do Palácio do Planalto, Maia viu chegar e deixou na gaveta 63 pedidos de impeachmentcontra Bolsonaro, por “superstição” ou “senso de responsabilidade”.

Os dois ex-presidentes da Câmara que ousaram neste quesito – Ibsen Pinheiro, no caso de Fernando Collor, em 1992, e Cunha, com Dilma, em 1996 – tiveram desfechos semelhantes aos das vítimas: foram cassados.

Crendice à parte, Maia avalia que não há clamor da sociedade suficiente para destituir o presidente da República, tampouco diz querer ser o fiador de mais desorganização política no momento em que o país conta mais de 200 mil mortes por causa da Covid-19.

Ele, aliás, acredita que a inércia quanto à vacinação pode ser a maior pedra no sapato de Bolsonaro, mas aí caberá ao novo presidente da Câmara. Afinal, a tinta da sua caneta está acabando.

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