Política

Quem está dentro e quem está “fora do jogo” ou da Luta de Classes

"O máximo que o PT conseguirá se conformando com a estratégia de superação de Lula é o papel de linha auxiliar da burguesia"

  • terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Foto: PensarPiauiMarcelino Fonteles e Sérgio Henrique
Marcelino Fonteles e Sérgio Henrique

Por Sérgio Henrique, entregador por aplicativos, militante do PT

O professor e militante do PT Marcelino Fonteles publicou o texto Sobre o papel das esquerdas, o esquerdismo de José Genoino e as táticas partidárias do qual discordo substancialmente e por isso resolvi escrever a presente resposta.

Começo pela afirmação onde o professor diz que “Quando não se é candidato a nada e se está fora do jogo, é fácil ser radical, ser um livre atirador.” O curioso é que esssa afirmação saiu da boca de quem já ocupou posição de destaque no campo moderado do partido, mas foi atropelado pela própria estratégia que ajudou a construir com suas justificativas teóricas. Pra quem não conhece a história, posso explicar a partir do Processo de Eleições Diretas (PED) do partido, que favorece quem tem mais poder de utilização da estrutura conquistada pelo partido, deixando de “fora do jogo” os militantes que elaboram e debatem programaticamente.

Por ironia, parece que Marcelino gosta de repetir a dose que o envenena repetidas vezes e nem por isso almejou sucesso eleitoral, mesmo tendo passado pelos cargos destacados nos governos do PT. Analisando as palavras irrefletidas de Marcelino, trago o exemplo da professora Fabíola Lemos, que mesmo sem “grandes estruturas”, consegue votações significativas e igualmente ao José Genoíno faz críticas a atual estratégia do partido e propõe um PT de massas, socialista e militante. Portanto, quando um militante debate o partido criticamente, este o faz porque estuda, reflete e se propõe a construir na prática, pois esta é o critério da verdade, como afirmava Lênin.     

Outro equívoco de Marcelino é quando questiona os resultados das eleições de 2018 com Haddad e das candidaturas Boulos e Manuela em 2020, alegando que estas eram “frentes de esquerda” e por serem assim não lograram vitórias eleitorais, como se esses partidos não estivessem seguindo a mesma estratégia construída e defendida por ele, Jacques Wagner e outras tantas “lideranças da CNB”, do PCdoB e do PSOL que, aliás, estão unidos na ideia estapafúrdia de superação do Lula como maior liderança popular.

A experiência concreta está nos ensinando que a estratégia do PT que priorizava a mobilização das classes dominadas na Luta de Classes garantiu-lhe crescimento eleitoral, e a estratégia que prioriza apenas as eleições resultam no decréscimo eleitoral do partido. O que Genoíno propõe é uma Frente de Esquerda que dê conta de construção de uma agenda unificada nos anos ímpares, para além de alianças eleitorais localizadas. Quanto a essa proposta, a oposição de Marcelino juntamente com seus parceiros de análise em outros estados, é porque estes desejam que o PT permita alianças mais amplas por pensarem apenas em seus “jogos” políticos locais. Foi o motivo para o PCdoB não apoiar a Marília Arraes em Recife, puro fisiologismo.  

Além de citações descontextualizadas do Lênin, o professor cita a conjuntura do fascismo na Itália e a relação dos partidos de esquerda com os partidos “democráticos” de direita na tentativa de comparar com o atual contexto brasileiro, mas esquece de refletir que todos os partidos de Direita no Brasil tem relação ou com o golpe de 2016 ou com o bolsonarismo. Nós precisamos de mobilização da classe trabalhadora para nos protegermos dos ataques da burguesia nacional e internacional e o Marcelino propõe alianças com organizações que não estão dispostas a defenderem as classes dominadas. Se Marcelino acredita tanto que existem esses partidos democráticos, porque não se filia a algum na tentativa de construir essas alianças “de lá pra cá”?

O máximo que o PT conseguirá se conformando com a estratégia de superação de Lula é o papel de linha auxiliar da burguesia, e a classe trabalhadora demorará pra construir outro instrumento de luta. Sabemos que essa não é a preocupação de Marcelino e esse é o motivo dele defender a manutenção dos atuais métodos do PT, afinal de contas no pensamento dele as questões estaduais não são necessariamente influenciadas pela conjuntura nacional porque as determinações do estatuto e as resoluções podem ser desrespeitadas, como acontecem com os parlamentares “petistas” quando votam e apoiam candidaturas proporcionais de partidos da Direita.

Essa sociedade em crise e repleta de mentiras não consegue esconder, mesmo com tantas fake news e narrativas apressadas que o PT é o partido da classe trabalhadora e somos socialistas, por isso mesmo somos combatidos pela burguesia e pelas organizações que estão a serviço dessa classe dominante.A verdade é que Genoíno é um grande militante marxista, pois sabe reconhecer quando erra ao ponto de reorientar a caminhada sempre com o olhar no horizonte do Socialismo e da eliminação de todas as injustiças que reinam nas sociedades com classes sociais.

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