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Porteiro socorre vítimas de acidente, salva vida e é demitido

Juliano é socorrista e deixou a guarita para prestar primeiros socorros a vítima de capotamento

  • sábado, 12 de março de 2022

Foto: YahooJuliano Amaro da Silva Paula
Juliano Amaro da Silva Paula

 

O porteiro de Marília, interior de São Paulo, Juliano Amaro da Silva Paula, de 44 anos, estava jantando na guarita no dia 1º de fevereiro quando, por volta das 23h30, ouviu gritos de crianças e, em seguida, uma pancada muito forte. Ele olhou para a janela de onde estava e viu um carro capotando, passando por cima de outro que estava parado no cruzamento.

Com curso de primeiros socorros, Juliano conta que não hesitou em ajudar as vítimas do acidente. “Na hora que eu fui sair correndo, a cadeira chegou a bater na mesa e até caiu comida no chão. Eu só conseguia pensar em ajudar aquelas pessoas”, disse ele.

Ao chegar no local do acidente, Juliano encontrou o primeiro carro com as crianças conscientes e em bom estado de saúde. Ele então decidiu ver o outro veículo que, segundo ele, havia capotado três vezes.  “Eu entrei no carro e não vi ninguém. Olhei para os lados, para ver se a pessoa tinha sido lançada fora, mas ele não estava lá. Então dei a volta, quebrei o vidro de trás, entrei por trás do carro e achei a vítima, um homem de 41 anos”, relata. “Ele estava em uma posição muito ruim, sobre o próprio pescoço. Se demorasse o socorro, ele seria prejudicado. Então, como sou socorrista, eu coloquei ele em uma posição melhor para não causar danos a possíveis fraturas na coluna. Ele estava desacordado, sangrando muito e aspirando esse sangue.

Juliano ainda revelou que realizou manobras para despertar a vítima do capotamento e que, durante o procedimento, conseguiu ajuda de outro pedestre, que telefonou para o SAMU. “Coloquei ele na maca, ele se encaminhou para o hospital e eu subi para o prédio para me lavar. A todo tempo eu olhava a portaria para ver se tinha algum movimento de morador, mas naquela hora não havia ninguém”, diz. Juliano ainda diz que os moradores e funcionários possuem um cartão que, ao ser encostado em um aparelho, libera entrada e saída de pessoas.

“Quando eu ouvi as crianças gritarem, saí de imediato. Eu tenho três filhos então foi uma coisa automática”, conta ele. O porteiro é pai de uma menina de 3 anos, um menino de 5 anos e outro de 13.

No dia seguinte, a notícia chegou até o Grupo IF3, responsável pela segurança do edifício, e a empresa entendeu que Juliano havia descumprido procedimentos internos ao socorrer a vítima do capotamento, já que ele não poderia deixar a guarita. “Me falaram que eu não poderia fazer isso e foi um choque. Eu disse: ‘Se fosse um filho seu, o que você faria?’. Mas eles disseram que não deveria ter saído da guarita por nada. Eu expliquei que foi uma capotagem e que eu era socorrista, mas não adiantou.”

A empresa deu ao porteiro duas alternativas: pedir a demissão ou ser demitido por justa causa. “Eu falei: ‘eu vou embora por ter salvado uma pessoa? Eu fiz um juramento de que se eu não realizar socorro, eu estou cometendo um crime'”, relembra. “Eu passei mal. Fiquei constrangido, mas eles não mudaram de ideia.”

Desempregado, ele conta não se arrepender do momento em que deixou a guarita do prédio em que trabalhava para socorrer um homem, de 41 anos, vítima de um capotamento na frente do Edifício Spot, no bairro Esmeralda, onde trabalhava. O impulso de ajudar foi atendido em poucos segundos, mas o profissional acabou demitido e agora, ainda sem recolocação, percebe as contas acumularem.

Foto: UOLJuliano e os filhos
Juliano e os filhos

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