Política

Para ajudar Hang na CPI, bolsonaristas usam tática de bullying de 5ª série

Ele é acusado de bombar fake news sobre a pandemia e compactuar com a mudança no atestado de óbito da própria mãe, morta devido à Covid

  • quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Foto: Tv SenadoEmpresário negou acusações e diz ser perseguido pela CPI da Covid
Empresário negou acusações e diz ser perseguido pela CPI da Covid

 


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

Bolsonaristas abraçaram a tática do tumulto no depoimento à CPI da Covid, nesta quarta (29), de seu aliado o empresário Luciano Hang, acusado de bombar fake news sobre a pandemia e compactuar com a mudança no atestado de óbito da própria mãe, morta devido a complicações da covid-19. 

O tumulto não tem força para apagar as evidências apresentadas pelos senadores de que Hang contribuiu com a sabotagem presidencial no combate à pandemia, mas anima os negacionistas, que celebram as cenas de caos nas redes sociais.

É um modus operandi bem conhecido com o objetivo de a) provocar senadores da oposição até que saiam do sério, b) gastar o tempo da sessão para evitar que depoentes respondam perguntas de todos os senadores (há ótimos inquiridores que, normalmente, ficam mais para o final), c) deslegitimar perguntas contrárias ao governo e, se possível, d) encurtar o depoimento diante da instalação do caos.

Para tanto, adotam táticas de bullying usadas por garotos de quinta série (soltam críticas e ironias sobre as perguntas dos colegas e tentam melar questões delicadas com declarações estapafúrdias) e outras mais avançadas, como empurrar robôs e seguidores nas redes sociais para atacar os críticos. Durante a inquirição de Hang, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu para a presidência da comissão investigar ataques maciços que estavam ocorrendo contra senadores da oposição nas redes.

Quando os bolsonaristas adotam essa tática diante de sessões mais politicamente sensíveis, a temperatura sobe. Foi assim com o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, ou com o controlador-geral da União, Wagner Rosário, que causaram tanto que não chegaram a terminar seus depoimentos. E, neste caso, não foram apenas os senadores e o depoente, mas também os advogados - que foram acusados de ofender Rogério Carvalho, o que levou à interrupção da sessão.

Por volta das 15h30, senadores governistas pediam para que o depoimento seja retomado amanhã porque não haverá tempo para todos perguntarem. Isso garante ao depoente que tenha espaço para checar a efetividade de sua estratégia e recombinar o jogo com senadores aliados.

Vídeo com propaganda da Havan na CPI foi provocação para gastar tempo

Uma propaganda das lojas Havan veiculada por Luciano Hang na CPI, que acabou, por isso, tendo espaço na TV Senado, GloboNews, no UOL, entre outros veículos, faz parte desse processo de tumultuar. Sua utilização não foi aleatória, mas uma provocação pensada para gerar polêmica e gastar tempo.

Esse caos é reservado a algumas personalidades, não todas. A maior evidência de que o governo Bolsonaro estava preocupado com o depoimento de Luciano Hang é a presença de seu primogênito, Flávio. Apesar de ter se tornado membro titular com a ida de Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil, ele não vai a todas as sessões da CPI da Covid, apenas quando precisa tumultuar um depoimento e jogar fumaça.

O senador reclamou da indireta que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) fez a Hang, falando de pessoas que assumiram o papel de bobos da corte na pandemia. Mas, ironicamente, é a atuação de Flávio que é semelhante à dos bufões medievais. Essa figura, aliás, de tola não tinha nada, porque sabia de sua força junto à corte, tendo liberdade de insultar os presentes e sair ileso.

A diferença é que entretinha com o objetivo de fazer esquecer da dureza da vida. Neste caso, a dureza são quase 600 mil mortes adubadas com o negacionismo produzido pelas mentiras do Gabinete Paralelo do Ministério da Saúde, pelas manipulações de números da Prevent Senior e pelas fake news do presidente da República. Tudo bombado com o apoio de empresários aliados.

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