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Pai de futuro Ministro foi goleiro do Tiradentes

Silvio Almeida é filho de Barbosinha que jogou no Corinthians, Atlético e Tiradentes

Foto: DivulgaçãoBarbosinha, o filho - futuro Ministro e o Tiradentes
Barbosinha, o filho - futuro Ministro e o Tiradentes

Um dos maiores juristas do Brasil e futuro Ministro de Direitos Humanos do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Silvio Almeida costuma falar com muito carinho de sua família. Seus avós fundaram a Escola de Samba Vai-Vai e seu pai, Barbosinha, foi goleiro do Corinthians nas temporadas de 1967 e 1968.

Mas quem foi Barbosinha? A história de Lourival Almeida Filho, nascido em setembro de 1941, é um bom exemplo de como o negro brasileiro em posição de responsabilidade acaba sendo o mais crucificado.

Revelado na base do Corinthians, Barbosinha ganhou esse apelido por ter semelhança física com Moacir Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, que acabou crucificado pela derrota no jogo decisivo daquele mundial, para o Uruguai.

No time de aspirantes alvinegro, Barbosinha participou de uma equipe de destaque no início da década de 1960, quando a Fiel lotava o Pacaembu antes dos jogos do time principal para ver o time liderado por Roberto Rivellino.

Em 1967, finalmente, Barbosinha ganhou chances no time principal do Corinthians e ia muito bem, com uma média de menos de um gol sofrido por jogo, até o dia 19 de novembro de 1967, um duelo decisivo do Campeonato Paulista daquele ano contra o arquirrival Palmeiras.

Naquele dia, o alviverde acabou vencendo o Derby por 2 a 0, com dois gols de falta do atacante Tupãzinho. E Barbosinha acabou sendo crucificado após isso, tanto pela torcida, pela imprensa e também pelo próprio clube.

Jogado para a reserva novamente, Barbosinha só teria mais uma chance pelo Corinthians, em um amistoso na cidade baiana de Feira de Santana no ano seguinte. Em sua passagem pelo clube, ele sofreu 33 gols em 34 jogos, uma média muito boa para um goleiro na década de 1960, famosa pelos seus jogos cheios de gols.

Dispensado do clube do Parque São Jorge, Barbosinha rumou para Curitiba, onde, pelo Athletico, foi campeão paranaense em 1970 em um time que contava com o já veterano lateral Djalma Santos. Após sua passagem pelo Paraná, ele encerrou a carreira pelo Tiradentes do Piauí e voltou para São Paulo, onde virou funcionário público da prefeitura da capital paulista.

Com a carreira encerrada, ele se dedicou à educação de seus dois filhos. Sílvio, um deles, acabou virando um dos maiores juristas do Brasil e escreveu o livro “Racismo Estrutural”, que entre outros temas, aborda a desconfiança com pessoas pretas em cargos de responsabilidade. Barbosinha faleceu em 2015, aos 75 anos.

Em entrevista ao jornalista Milton Neves, em 2020, ele explicou o que os goleiros negros sofrem no futebol: “É como se as pessoas sempre estivessem olhando para você esperando que você cumpra a sua sina. Ou seja, que você falhe. Porque o goleiro deve ter um coisa que as pessoas geralmente não associam ao negro. E isso é racismo. Que é a confiança. Sempre há uma desconfiança”, disse o futuro ministro.

No Corinthians, esse estigma ainda durou por muitos anos. Jairo, goleiro do fim da década de 1970, era reconhecido por sua qualidade, mas tinha a fama de “azarado”. Coube ao baiano Dida, que atuou no clube por duas passagens entre 1999 e 2002 (quando foi pentacampeão do mundo pela Seleção como goleiro alvinegro) a superar essa barreira. Mas muitos outros sofreram antes e a história de Barbosinha, o pai de Sílvio Almeida, talvez tenha sido a mais emblemática.

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