Pensar Piauí

O vitimismo do padre bolsonarista Paulo Ricardo, monitorado pelo STF

Não é a Igreja Católica que está sendo monitorada no processo das “fake news

Foto: DivulgaçãoPadre bolsonarista Paulo Ricardo
Padre bolsonarista Paulo Ricardo

Por Romero Venâncio, professor da Universidade Federal de Sergipe, especialista na extrema direita católica

Começando por onde deve-se começar: não é a Igreja Católica que está sendo monitorada no processo das “fake news” coordenada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e nada do que ocorre aqui com o padre Paulo Ricardo é semelhante ao que está acontecendo na Nicarágua atual. 

Separemos as coisas e os fatos. Restrição e monitoramento dos canais e contas do padre Paulo Ricardo não se enquadram como censura. O problema é não querer ver os reais motivos pelos quais seus canais de comunicação estão sendo vigiados, monitorados, por conta de disseminação de fake news e discurso de ódio, já percebidos a muito tempo e enquadrados contra a constituição. 

Trata-se de vitimismo promovido e calculado (no sentido exposto por Jason Stanley no seu “Como funciona o fascismo”) da parte dos “discípulos” do padre para justificar as ações dele e de seus seguidores nas redes sociais. Que ironia da história! Uma extrema direita religiosa reivindicar “liberdade de expressão”. 

Por que ironia? Pelo seguinte motivo: a defesa de liberdade expressão vem da tradição liberal, a mesma tradição atacada pelo padre e os grupos de extrema direita dentro do catolicismo. E ironia é o que não falta neste delirante mundo dos defensores da “liberdade de expressão sem limite”. 

Nesse quesito, o dito padre de extrema direita encontra-se com o PCO. Tô esperando a live de Rui Costa Pimenta e padre Paulo Ricardo sobre liberdade de expressão.

Estudo a extrema direita católica e suas ações nas redes sociais desde 2013 e afirmo categoricamente que o debate político-jurídico sobre os canais de extrema direita no Brasil chega tarde. 

Vamos aos fatos: virou “liberdade de expressão” atacar pessoas LGBT, atacar religiões de matriz africana, atacar socialismo, alimentar o anti-petismo, defender torturador(es) da ditadura de 1964, ridicularizar instituições da já pálida democracia, pontificar contra vacinas, passar pano para os palavrões e para nicotina de Olavo de Carvalho, mentir descaradamente sobre teologia da libertação ou sobre o Papa Francisco. 

Ora, quando o padre Julio Lancellotti é impedido por forças policiais ou milícias de direita de fazer seu trabalho com os pobres em situação de rua, onde estão os “paladinos da liberdade de expressão”? Uma primeira conclusão a que chegamos é a seguinte: “liberdade de expressão” na boca dessa gente é seletiva. É “liberdade de expressão” deles.  

Foto: DivulgaçãoPadre armado
Padre armado

Só entenderemos a prática da extrema direita católica nas redes se entendermos uma coisa: os olavistas usam a democracia como direito pra deslegitimá-la em última instância. “Liberdade de expressão” na boca dessa extrema direita católica é usada para justificar sua ideologia nas redes sociais. 

Alguns temas defendidos com rigor: o anti-modernismo, contra vacinas, impropérios contra o concílio vaticano II, ofensas ao Papa Francisco, espalham essa mentira chamada “ideologia de gênero” (com o intuito de atacar as populações LGBT), defendem uso de armas (vejamos a foto de padre Paulo Ricardo com um fuzil de longo alcance ao lado de Olavo de Carvalho) e toda a cultura bolsonarista movida pelo discurso de ódio. Tudo em redes sociais. 

Usam-se os meios mais avançados para disseminar as ideias mais reacionárias. O que o ministro Moraes está monitorando é isto. Não se trata de perseguição ao padre. Longe disso. Trata-se de monitoramento do que ele fala em redes sociais e que se torna ofensa e discurso de ódio contra instituições democráticas. 

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