Pensar Piauí

O Templo Afro-Brasileiro e o Chefe de Polícia: Um caso de intolerância Religiosa em José de Freitas

José de Freitas completa 144 anos de emancipação política e Francisco de Assis Alves de Oliveira conta histórias da cidade

Foto: DivulgaçãoBar do Zé Dias
Bar do Zé Dias

Por Francisco de Assis Alves de Oliveira, Historiador

Edgar Gaioso, liderança política local, foi nomeado chefe de polícia de José de Freitas-PI. A escolha recaiu sobre ele, por ser um homem temido, respeitado por todos na cidade.

 A bravura que ostentava rendeu- lhe a fama de homem violento e carrasco. Isso segundo a memória de um ex-soldado da polícia militar do estado do Piauí, que viveu a época. A memória deste soldado revela um triste dia para os praticantes das religiões de matriz africana.

Segundo relata o ex-soldado, Edgar Gaioso tinha ódio dos praticantes da “macumba”, expressão utilizada pejorativamente para se referir aos adeptos da fé afrodescendente. Em um determinado dia o chefe de polícia Edgar Gaioso escolheu três soldados da sua confiança e dirigiu-se ao povoado Felicidade, sabia ele que nesta localidade existia um terreiro de candomblé.

Acompanhado dos três soldados entra na viatura e segue em estrada carroçável até a comunidade. Antes de avistar a casa estaciona o carro e termina o percurso a pé. Essa estratégia foi utilizada devido ao barulho do carro que poderia avisar a chegada da polícia e os frequentadores poderiam fugir e escapar das garras do carrancudo chefe de polícia.

Chega ele de forma sorrateira e traiçoeira, encontra o salão religioso cheio de pessoas. Ordenou aos policiais: metam a borracha em todos homens e mulheres, sem pena, sem dó e nem piedade. Os soldados cumpriram a sua ordem e passaram a bater em todos os presentes

Logo se ouviu gritos e choro de pessoas, desesperadas e fugindo das chicotadas. Foi corre - corre de pessoas para todo lado, uns pulavam cerca de faxina; outros abriram buraco nas paredes, que eram construídas de palha. Aqueles que conseguiam fugir pelas pequenas aberturas que faziam nas paredes, deixavam para trás parte da pele do corpo que ficava grudada nas pontas das estacas, cipós e palhas secas.

O desfecho de tudo isso foi homem, mulheres e crianças correndo para dentro do mato e o fechamento da casa religiosa. A fonte pesquisada informa que o fato ocorreu entre 1950 e a década de 1960.

 Utilizamos como método de pesquisa o diálogo espontâneo entre autor e fonte. De maneira que um bate- papo na calçada do Bar do Zé Dias,  me deu  inspiração e subsídio para escrever esse artigo. O tradicional calçadão do Bar Zé Dias, localizado na esquina da Rua José de Sampaio Almendra com a Rua Antônio Rodrigues não é só um lugar para degustar uma cerveja gelada (gelada de mais, como diz o dono do Bar) é também fonte histórica. A oralidade tem sido desde o início da história da humanidade o método mais antigo para transmissão de saberes, costumes e tradições de diversos grupos sociais.

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