O PT e o braço de ferro na Câmara dos Deputados
O partido com a maior bancada no campo da oposição tem responsabilidades maiores ainda

Por Emir Sader
A disputa pela Mesa da Câmara transformou-se em mais um episódio sobre as táticas de luta contra o Bolsonaro. Na velha mídia e na internet, o antipetismo corre solto, atribuindo ao PT posições que o partido nunca teve, sem capacidade de compreender as posições do PT.
A decisão do STF em relação aos mandatos dos presidentes da Câmara e do Senado abriu uma disputa pelos cargos entre Bolsonaro e a oposição. Para Bolsonaro, se trata de controlar o Congresso, transformando-o em apêndice do governo e instrumento para o seu objetivo maior: a reeleição.
Para isso, conta com uma composição conservadora do Congresso. A derrota da esquerda não se deu apenas para a presidência da república. A esquerda não foi capaz de melhorar sua presença no Congresso. Paga o preço por isso.
Na eleição para a presidência da Câmara, o peso do Centrão e sua aliança com Bolsonaro são o eixo do governo para tentar eleger o presidente da Câmara. Lançou um candidato que expressa, da forma mais clara, o Centrão e sua aliança com o governo: Arthur Lira, um politico acusado de uso das rachadinhas no seu estado de origem, Alagoas.
Essa opção aprofundou diferenças dentro do campo da direita, entre o governo com o bloco que Rodrigo Maia começava a constituir, que passou a polarizar contra o governo.
O PT e esquerda encontraram esse quadro e definiram sua posição, partindo da postura comum da prioridade da luta contra o Bolsonaro. Dessa forma, a primeira definição foi reconhecer na candidatura de Lira o projeto do governo de controlar o Congresso, começando pela Câmara.
O PT propugnou, desde o começo, a unidade da esquerda, em aliança com o bloco que se opõe ao candidato do Bolsonaro. Houve sempre unidade dos partidos da esquerda em relação a essas posições.
O PT decidiu integrar-se ao bloco da oposição, sem definição sobre o nome do candidato à presidência. Na próxima segunda-feira, haverá reunião com os partidos da oposição para a discussão do candidato.
O PT tem objeções ao nome de Baleia – escolhido por Maia como o candidato -, um nome do MDB ligado a Temer, partido que capitaneou o golpe contra a Dilma e pelo pelo seu grau de adesão ao governo de Bolsonaro.
Mas a questão essencial para o PT é a definição de compromissos políticos sobre as posições da presidência da Câmara, que atitude esta deve tomar diante do governo, antes de tudo.
Essa é a forma de ter uma atitude política diante da questão e não simplesmente posturas subjetivas de livre atiradores na internet, que não deduzem posições a partir das visões estratégicas que um partido tem que ter.
O PT não descarta a possibilidade da esquerda, caso não se chegue a um acordo politico, ter um candidato próprio. Mas esta não é uma posição de princípios. É parte integrante da política do PT de conseguir acordos com todos os setores que se opõe – de forma tática ou estratégica – ao Bolsonaro. O que exige uma paciente costura e não posições abruptas, que acentuou as divergências e não os pontos comuns, na oposição ao Bolsonaro.
Se o tema necessitar de maior amadurecimento, não é preciso ter definição neste momento, dado que a eleição se dará só em fevereiro e passa, entre outras coisas, pela definição do candidato à presidência do Senado.
O PT não renuncia a seu papel de partido com grande representação no Congresso, com presença política nacional, com governos de Estado, de municípios, com lideranças politicas reconhecidas nacionalmente.
O PT sabe que o horizonte fundamental que temos pela frente são as eleições de 2022, mas que elas passam por uma política de unidade da esquerda e de constituição de uma frente mais ampla na luta contra o Bolsonaro.
É nessa perspectiva que o PT encara a eleição para a Mesa da Câmara: o partido com a maior bancada no campo da oposição tem responsabilidades maiores ainda.
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