Pensar Piauí

O Psol cresce

É bom ver um partido fumegando no cangote de miliciano que pensa que é presidente

Foto: Google ImagensO sol brilhando para o PSOL
O sol brilhando para o PSOL

Por Gustavo Conde, no facebook

O Psol cresce. O momento é ultra favorável ao Psol. Um governo de extrema direita que o agride todos os dias, a consolidação de nomes regionais como Marcelo Freixo e a aposta em lideranças nacionais como Guilherme Boulos, fazem do partido uma espécie de 'reserva ideológica' em franca ascensão.

O cenário do discurso político também favorece o Psol. A delinquência verbal e gerencial do governo empurra o eleitor para opções progressistas. Alie-se isso a performances trepidantes de psolistas na Câmara, como Glauber Braga e Sâmia Bonfim - e tem-se o fermento perfeito, com pitadas de juventude e estridência.

O Psol também demarcou zonas de ação além do romantismo basilar do progressismo brasileiro. Quer o poder. Ter um partido político e não querer o poder é como entrar em campo e não querer o gol (avisem o Caetano Veloso sobre isso).

Aliás, bem lembrado. Caetano Veloso, Mídia Ninja, Paula Lavigne, cena intelectual do Rio... Planetas que orbitam o partido de Freixo com relativa elegância, compõem um imaginário paralelo, culturalmente denso e altamente sedutor, que irradia uma 'marca Psol' para todo o país e sinaliza para as classes médias.

Outro fator que potencializa o Psol é Ciro Gomes. Com seu ódio ao PT, o coronel mantém vivo um antipetismo residual mas provoca repulsa nos segmentos já saturados com a violência verbal de Bolsonaro, dinamitando qualquer possibilidade de crescimento do PDT entre progressistas. Resultado? Setores da classe média sudestina antipetista, mas ainda com algum vestígio de civilidade, começam a namorar o Psol.

Por isso, a candidatura de Guilherme Boulos em São Paulo é profundamente estratégica e acena para a nacionalização definitiva do Partido Socialismo e Liberdade.

A dimensão mais poderosa que empurra o Psol para o protagonismo no cenário político brasileiro, no entanto, atende pelo nome de Marielle Franco. O assassinato da vereadora pelos milicianos que agora debutam por Brasília na mais violenta tragédia política de nossa história constitui o eixo simbólico de fundação real deste partido.

O legado de Marielle é monumental, seja por sua ação concreta na luta pelos direitos das mulheres, dos negros, da comunidade LGBT, seja pela seu talento como oradora, pelo seu magnetismo e sua inteligência tragicamente interrompidos nos interstícios da boçalidade bolsonarista.

O luto político e afetivo por Marielle se transmutou em energia política, inspirando movimentos sociais pelo Brasil inteiro, sobretudo no Rio de Janeiro. Seu nome passou a ser sinônimo de coragem, de enfrentamento, de mulher, de democracia, de liberdade.

Alguns devem estar se perguntando: mas e o PT? O PT é mais um vetor que potencializa o Psol no atual cenário político-partidário. Seria fácil entender esse fenômeno se o simulacro de esquerda (essa representação de esquerda imaginária que é produzida no submundo das redações de jornal e nos cafés adocicados da intelectualidade clichê) não fosse tão presente no horizonte das respectivas militâncias.

O Psol se fortaleceu com a perseguição ao PT porque DEFENDEU a liberdade de Lula, diferentemente de outros setores da esquerda.

O PT também se fortalece nesse momento - que também lhe é favorável. Mas o PT já é o maior partido político de esquerda do país.

O crescimento do Psol é muito bem-vindo para o desafio de redemocratizar o Brasil depois da delinquência civilizatória do PSDB e do golpe contra Dilma Rousseff. Ele vai ocupando o lugar de partidos que perambulam perigosamente no pântano da ambiguidade ideológica, como PDT e PSB.

São as vicissitudes da política. Ou como diria Guimarães Rosa: 'viver é perigoso'.

Sobre os escombros de um Brasil assassinado por Bolsonaro e PSDB, vão apontando dois partidos fundamentais para recompor o raciocínio da democracia, com suas imensas feridas convertidas em potência significante: PT e Psol.

E, aviso aos navegantes: é preciso começarmos a falar em partidos políticos novamente, com projetos e capacidade de convívio democrático.

A direita se auto implodiu com a fraude do PSL e com o ódio de Ciro Gomes.

É preciso, agora, viabilizar e estimular a existência de um partido real de centro-direita para que possamos produzir algum debate público de qualidade neste país.

Paradoxo dos paradoxos: é necessário desenharmos um adversário minimamente decente para que a democracia não ressurja e depois morra novamente.

Eles são tão incompetentes que nem isso mais são capazes de fazer, haja vista o PSL, essa confraria de milicianos mafiosos - e haja vista o PSDB, essa fraude liberal destroçada pela pirraça de Aécio Neves, o mais repulsivo agente político do país depois de Bolsonaro.

Vida longa ao Psol. É bom ver um partido que carrega em seu nome a palavra 'liberdade' - e é bom ver um partido fumegando no cangote de miliciano que pensa que é presidente.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS