Pensar Piauí

O nome de Deus tem sido motivo de exploração

Algumas informações sobre os evangélicos

Foto: DivulgaçãoSede da Igreja Universal
Sede da Igreja Universal

De acordo com o Censo Brasileiro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, os evangélicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil nas últimas décadas. A população que se declara evangélica passou de 6,6%, em 1980, para 22,2% em 2010 - o que representava cerca de 42,3 milhões de pessoas. Destes, 60% (25,3 milhões), eram pentecostais. Os católicos passaram para 64,6% em 2010. 

Como bem observa o site Catarinas, em matéria intitulada “Deus acima de todos – o avanço do Estado Teocrático no Governo Bolsonaro, é preciso observar que os evangélicos não são um bloco homogêneo. “O livro “Evangélicos y poder en América Latina”, coordenado pelo sociólogo peruano José Luiz Pérez Guadalupe, divide os evangélicos em três principais vertentes: protestantismo histórico (igrejas Luterana, Batista, Presbiteriana, Metodista), pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã, Igreja do Evangelho Quadrangular) e neopentecostais (Igreja Evangélica Petencostal Brasil para Cristo, Deus é Amor, Universal do Reino de Deus)”.

Nas entrevistas com as especialistas feitas pelo Catarinas, três razões foram unânimes para o fortalecimento do poder político do movimento evangélico no Brasil: 1) surgimento das igrejas neopentecostais com a teologia da prosperidade; 2) expansão das igrejas neopentecostais através dos meios de comunicação; 3) crescimento do número de pessoas autodeclaradas evangélicas.

Como bem mostrou o doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Eustáquio Diniz Alves, a capital mais adiantada na transição religiosa é Rio Branco, no Acre. Nesse município, o percentual de católicos era de 61,5% em 2000 e caiu para 39,9% em 2010, uma queda impressionante (de 21,6%) em uma década, afirma ele. O percentual de evangélicos passou de 23,3%, em 2000, para 39,8% em 2010, subindo 16,5% em dez anos. Outras religiões e sem religião somavam 20,3% em 2010.
No outro espectro, Teresina/Piauí é a capital mais católica do Brasil: os católicos eram 86,1% em 2000 e tiveram uma pequena queda para 78,9% em 2010. Muito acima da média brasileira, resume o pesquisador. Os evangélicos eram 8,3% e passaram para 13,3%. As outras religiões eram 2,2% e passaram para 3,2%. Os sem religião eram 3,4% em 2000 e passaram para 4,5% em 2010.

Uma matéria do jornal O Globo em 2017, destacou que desde 2010 uma nova organização religiosa surgia por hora no Brasil, dada a facilidade de abertura desse tipo de estabelecimento. Em uma projeção linear do cenário religioso no Brasil, José Eustáquio prevê que em 2036 os evangélicos chegarão a 40,3% da população, ultrapassando os católicos, que cairão para 39,4%. Se essa projeção se cumprir, em 15 anos o Brasil se tornará uma nação predominantemente evangélica, com um número cada vez maior de jovens e crianças se juntando às suas fileiras.

Religião e poder político

Não é à toa que cada vez mais a religião tenha adentrado a seara política. A bancada evangélica no Brasil saltou de 12 (em 2008) para 91 parlamentares em 2018, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). Para a Câmara dos Deputados, foram eleitos 84 candidatos identificados com a crença evangélica – nove a mais do que na última legislatura. No Senado, os evangélicos eram três e, em 2019, passaram para sete parlamentares.

Uma pesquisa de janeiro de 2020, do Instituto Datafolha, já estima em 31% o percentual de brasileiros evangélicos e mostrou o perfil desse público no Brasil: um rosto feminino, negro, que ganha até dois salários mínimos por mês e tem apenas o ensino médio completo; a maioria se filia as igrejas pentecostais e neopentecostais. 

Bem diferente, no entanto, do perfil dos líderes evangélicos que decidem atuar na esfera política. Um exemplo é o pastor Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada no terreno de uma antiga funerária, em 1977, no Rio de Janeiro, e atualmente dono da TV Record. Ele tem uma fortuna declarada de aproximadamente R$ 2 bilhões, segundo a Revista Forbes. Foi um dos apoiadores da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018. 

Silas Malafaia é outro exemplo. Pastor protestante neopentecostal brasileiro, é líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Malafaia também é televangelista, graduado em Psicologia, presidente da editora Central Gospel, além de ser vice-presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB), entidade que agrega cerca de oito mil pastores de quase todas as denominações evangélicas brasileiras.

Malafaia é bastante conhecido por sua atuação política e pelo discurso de ódio sobre temas como direitos dos homossexuais e direito ao aborto, bem como por defender a chamada teologia da prosperidade. Nas eleições de 2012, foi cabo eleitoral evangélico do candidato José Serra (PSDB) à Prefeitura de São Paulo e ajudou a eleger 24 prefeitos e 16 vereadores em sete estados. Nas eleições de 2014, fez campanha para Aécio Neves (PSDB) à Presidência da República. Fez e faz campanha aberta à Bolsonaro, inclusive participando de solenidades como no mês de junho, numa entrega de títulos de terras no Pará. Em janeiro de 2013, a revista Forbes o classificou como o terceiro pastor mais rico do Brasil, com um patrimônio estimado pela publicação em 150 milhões de dólares.

Outro caso emblemático é do fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus e apresentador do Show da Fé, programa exibido pela TV Band, R. R. Soares. Ele atualmente é dono da RIT TV, uma emissora UHF, e da Nossa TV, que funciona no circuito de TV paga, tem um patrimônio avaliado em R$ 250 milhões, segundo o portal IG. Outro levantamento feito pela Forbes aponta que o pastor tem uma fortuna de US$ 125 milhões. O dinheiro é doado por fiéis e arrecadado durante o Show da Fé e também nas igrejas. R. R. Soares é cunhado de Edir Macedo, já que é casado com sua irmã Maria Magdalena, e tio do político Marcelo Crivella.

Valdemiro Santiago de Oliveira, que desapareceu da TV aberta, é outro líder evangélico neo-pentecostal e televangelista brasileiro, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus e que apoia Jair Bolsonaro, inclusive acompanhou a saída do Presidente do hospital no qual estava internado neste domingo, 18. Durante dezoito anos atuou como bispo na Igreja Universal do Reino de Deus, da qual foi desligado do quadro de pastores em 1998 após problemas com a liderança. Alguns dias depois fundou a Igreja Mundial do Poder de Deus, que absorveu parte dos membros da Universal e hoje conta com mais de 2 000 templos espalhados pelo Brasil, sendo a sua maioria no estado de São Paulo. Em janeiro de 2013, a revista Forbes avaliou sua fortuna em aproximadamente 220 milhões de dólares (R$ 450 milhões). Endividado (segundo a "Veja" publicou, ele deve mais de R$ 30 milhões só em aluguéis), foi ameaçado de ter o sigilo de suas contas quebrados a pedido de credores, mas entrou com pedido de decretação de segredo judicial sobre a apuração que será feita em suas contas bancárias.

Alguns desses líderes religiosos evangélicos se envolveram em polêmicas durante a pandemia. R.R. Soares, por exemplo, anunciou a venda de uma água ungida para curar as infecções por coronavírus. Curiosamente serviu apenas para seus fiéis. Ele contraiu a COVID-19 e chegou a ser internado para tratamento. Valdemiro Santiago, por sua vez, vendeu feijões por mil reais, que foram apelidados de “feijões mágicos”, e que também evitavam a contaminação do coronavírus. Perdeu o irmão para o coronavírus em junho deste ano e declarou publicamente que vai se vacinar contra a Covid-19.

Eleições presidenciais

Os evangélicos tiveram papel decisivo nas eleições presidenciais de 2018, quando 70% dessa fatia da população entregou seu voto ao candidato de ultradireita, Jair Messias Bolsonaro.

A estratégia de Bolsonaro levou o debate político para o campo da moral durante a campanha, centrando seu discurso nos valores da família cristã conservadora em detrimento de uma esquerda engajada nos direitos das minorias. Logo ele que não é evangélico. Na verdade, ele é batizado na Igreja Católica, teve seu último casamento celebrado pelo pastor Silas Malafaia (2013) e foi rebatizado em 2016 no rio Jordão, em Israel, por um pastor evangélico, sem negar o batismo anterior. Bolsonaro está em seu terceiro casamento, tem filhos de cada um deles, e hoje é casado com uma mulher 27 anos mais nova.

A disputa do voto desse eleitorado rumo à 2022 promete ser acirrada. A última pesquisa do Ipec, divulgada no dia 25 de junho, mostrou que Lula lidera com folga a corrida presidencial, com 49% da preferência, o que lhe dá a chance de vencer já no primeiro turno. Além disso, no eleitorado evangélico ele aparece nove pontos a frente de Bolsonaro: o petista tem 41% no primeiro turno e o atual mandatário tem 32%. Já a pesquisa Atlas Político, que tem uma metodologia diferente, mostrou em levantamento realizado para o EL PAÍS no dia 7 de junho que o presidente ainda está bastante à frente do ex-presidente no eleitorado evangélico. Enquanto o primeiro marca 54% dos votos válidos, o segundo tem 31% —os demais eleitores se dividem entre outros possíveis candidatos.

Mantido pela chamada bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia), Bolsonaro mantém com a religião uma relação parecida com a que mantém com os partidos políticos. Foi deputado federal por sete mandatos entre 1991 e 2018, sendo eleito através de diferentes partidos ao longo de sua carreira. Elegeu-se Presidente do Brasil pelo Partido Social Liberal (PSL), ao qual foi filiado até novembro de 2019. Três de seus filhos também são políticos: Carlos Bolsonaro (vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Social Cristão), Flávio Bolsonaro (senador fluminense pelo PSL e ex comandante da legenda no estado) e Eduardo Bolsonaro (deputado federal por São Paulo, também pelo PSL).

Bolsonaro foi eleito vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC), partido que seria extinto em 1993. Foi anunciado como pré-candidato à Presidência do Brasil em março de 2016 pelo PSC. Somente em janeiro de 2018, no entanto, anunciou sua filiação ao PSL, o nono partido político de sua carreira desde que foi eleito vereador em 1988. Bolsonaro desfiliou-se do PSL em 19 de novembro de 2019, partido em que estava desde março de 2018, depois de divergências com o presidente do partido, Luciano Bivar. Foi a primeira vez desde a redemocratização do país, que um presidente da República ficou sem legenda partidária durante o exercício do mandato. Em seguida, anunciou o projeto de criação de um novo partido, a Aliança pelo Brasil (ALIANÇA), o que não foi concretizado. 

Segundo o censo de 2010 feito pelo IBGE essa é a ordem de denominações protestantes por membros[5]: 
•    Assembleia de Deus (12.314.410 membros)
•    Igreja Evangélica Batista (3.723.853 membros)
•    Igreja Congregação Cristã do Brasil (2.289.634 membros)
•    Igreja Universal do Reino de Deus (1.873.243 membros)
•    Igreja Evangelho Quadrangular (1.808.389 membros)
•    Igreja Evangélica Adventista (1.561.071 membros)
•    Igreja Evangélica Luterana (999.489 membros)
•    Igreja Evangélica Presbiteriana (921.209 membros)
•    Igreja Deus é Amor (845.383 membros)
•    Igreja Maranata (356.021 membros)
•    Igreja Evangélica Metodista (340.938 membros)
•    Igreja o Brasil para Cristo (196.665 membros)
•    Igreja Casa da Benção (125.550 membros)
•    Igreja Evangélica Congregacional (109.591 membros)
•    Igreja Nova Vida (90.568 membros)

Cidades brasileiras com maioria evangélica, conforme o Censo 2010:
•    Cristianópolis (Goiás)
•    Palestina de Goiás (Goiás)
•    Belford Roxo (Rio de Janeiro) 
•    Nova Iguaçu (Rio de Janeiro) 
•    São Gonçalo (Rio de Janeiro)
•    Arroio do Padre (Rio Grande do Sul) 
•    São Lourenço do Sul (Rio Grande do Sul) 
•    Itapuã do Oeste (Rondônia) 
•    Caroebe (Roraima)

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