Política

O golpe de estado está anunciado previa e ostensivamente

Momentos de caos institucional são frequentemente empregados por figuras autoritárias para promover ruptura democrática

  • sábado, 20 de março de 2021

Foto: Montagem pensarpiaui
O golpe vem ai

Por Pablo Villaça, crítico cinematográfico, no facebook

Em 64, os militares implantaram uma ditadura sob a desculpa de estarem “salvando” o país do comunismo. Se apresentavam como garantidores da liberdade do “cidadão de bem”. Bolsonaro já está falando em voz alta a mesma canalhice sobre “garantir a liberdade”.

Avisos não faltam. Momentos de caos institucional são frequentemente empregados por figuras autoritárias para promover ruptura democrática - e Bolsonaro está CRIANDO propositalmente esse caos usando a pandemia e agora anunciando se preparar para a etapa seguinte.

Poucas vezes um golpe de estado foi anunciado previamente de modo tão ostensivo. E repetidas vezes.

O problema é que - como podemos ver também na pandemia - o ser humano tem uma tendência irresistível de negar a realidade quando é muito assustadora. Tenho certeza de que mesmo aqueles que, como eu, estão alertando para um golpe que se aproxima não acreditam DE FATO nisso. Apontam que a retórica de Bolsonaro se torna cada vez mais perigosa e indicativa de ruptura democrática, mas no fundo pensam “nahhh... claro que não. Algo será feito antes”. E acabam sendo surpreendidos quando nada é feito e o pior acontece.

Sugiro fortemente que não continuem em negação. Se vocês estivessem, sei lá, 30 anos no futuro e lessem o agravamento da retórica de Bolsonaro num cenário de caos institucional, certamente pensariam “como eles não viram o que estava acontecendo? Como não fizeram nada?!”. É sempre assim. O espanto com a inação só chega tarde demais.

Se vocês acham que será difícil convencer a população de que um golpe foi “a única maneira de impedir o autoritarismo dos governadores e salvar o Brasil”... vocês nunca leram um livro de História.

E as “elites econômicas” e a mídia corporativa vão se alinhar rapidinho a isso. O passo seguinte será calar a voz daqueles que estiverem “ameaçando a estabilidade e a segurança institucionais”. Jornalistas, vlogueiros, artistas. Primeiro, conduzindo pra depoimentos coercitivos. Se não funcionar, detenção “temporária”.

O que vem depois vocês já sabem.

A comunidade internacional soltará notas de repúdio, protesto, “implorando” para que as autoridades restaurem a normalidade democrática o mais rápido possível. Dirão que “estão vendo com imensa preocupação os acontecimentos recentes no Brasil”. Mas não farão nada. Três meses passarão. Seis. Muitos terão a esperança de que em 2022, com o fim do “mandato” de Bolsonaro, uma eleição marcará o retorno à normalidade.

As eleições presidenciais serão adiadas até que o país esteja “mais seguro”.

Se vocês acham que estou delirando... bom, eu adoraria estar. Mas não acredito que esteja. Estamos caminhando SIM para isso. É só, repito, consultar os livros de História.

Deixe sua opinião: