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"Máxima Culpa": livro diz que João Paulo II sabia de abusos sexuais de padres na Polônia

O jornalista que assina o livro diz que encontrou documentos que mostram que João Paulo II soube dos crimes cometidos por padres no país

Foto: ReproduçãoPapa João Paulo II
Papa João Paulo II

 

Um novo livro intitulado “Máxima Culpa”, assinado pelo jornalista holandês Ekke Overbeek, afirma que João Paulo II “sabia” dos casos de abuso de menores por padres católicos na Polônia e ajudou a encobri-los antes de se tornar Papa, em 1978.

“Encontrei provas de que ele não apenas sabia dos casos de abuso sexual entre os padres na arquidiocese de Cracóvia, como também ajudou a encobrir esses casos”, disse Overbeek à AFP, antes do lançamento do livro, na quarta-feira (8).

O jornalista, que mora na Polônia há mais de 20 anos, passou mais de uma década investigando arquivos e entrevistando vítimas e testemunhas sobre o caso. Ele já havia publicado um relato sobre as vítimas de padres pedófilos em 2013.

Alguns dos documentos citados no novo livro são arquivos da polícia secreta da época em que o país era comunista. No entanto, nem tudo foi fácil na investigação.

Overbeek disse à AFP que “os arquivos da Igreja Católica Romana estão fechados para os jornalistas”, um obstáculo também encontrado por outros que investigam as acusações contra João Paulo II. De resto, a igreja polaca se recusou a fornecer documentos para a polícia e para uma comissão pública de inquérito que investiga casos de abuso de menores pela igreja.

Overbeek garante que verificou todos as descobertas com outras fontes, incluindo relatos de vítimas e de testemunhas. “Fui a primeira pessoa com quem eles conversaram sobre o que passaram quando eram crianças”, explicou Overbeek, dizendo que os sobreviventes tinham medo de falar publicamente sobre o assunto. “Neste país, as vítimas de abuso sexual clerical têm medo… deveria ser o contrário”, disse.

Entre os casos citados pelo jornalista está o de um padre acusado de obrigar meninas de 10 anos a praticar sexo oral. Overbeek diz que o padre confessou o caso ao arcebispo Karol Wojtyla – futuro Papa João Paulo II – em 1970.

“Ele confessou tudo o que fez a Wojtyla. E isso é descrito em dois documentos, até mesmo em três”, disse Overbeek. “Isso significa que temos 100% de certeza de que em 1970 Karol Wojtyla já sabia dos abusos sexuais.”

O padre foi preso mais tarde, mas assim que foi libertado, Wojtyla permitiu que ele continuasse o ministério, disse Overbeek. “Isso é confirmado por uma carta escrita pelo próprio arcebispo Wojtyla.”

“Uma das histórias mais difíceis de aceitar”, acrescentou Overbeek, é a do padre Boleslaw Sadus, um colaborador próximo do futuro Papa.

“Quando Sadus teve problemas após ser acusado de abusar de rapazes, ele ajudou-o pessoalmente a sair da Polônia e a começar uma nova carreira na Áustria”, explicou o autor.

Para Overbeek, “o fato mais problemático é que [o Papa] foi muito indulgente com os padres que fizeram esse tipo de coisas, mas não prestou atenção às vítimas e às suas famílias”. Ele disse que quando as pessoas pensam no Papa, lembram-se dele como uma pessoa empática, calorosa e simpática, “mas aqui vemos uma face completamente diferente da mesma pessoa”.

A igreja polaca reagiu vigorosamente às novas acusações. O primeiro-ministro do país, Mateusz Morawiecki, também defendeu Wojtyla, chamando-lhe o “nosso querido Papa” e culpando os jornalistas por “irem além do debate civilizado”.

O partido do governo anunciou que iria apresentar no parlamento uma resolução “para defender o bom nome de São João Paulo II”.

Existe na Polônia um culto à personalidade de João Paulo II – que foi santificado em 2014 –, mas que, segundo o autor, tem perdido a sua força nos últimos anos, especialmente entre os mais jovens.
 

Com informações da CNN

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