Lula: um mês preso, por Fernando Morais

A data inspira uma breve anamnese, um resumo dos fatos que antecederam a prisão.

Talvez por cacoete profissional, vou começar pela mídia.

E posso assegurar a vocês que nenhum político na história recente do Brasil, – repito: nenhum político foi submetido a um massacre midiático tão brutal como o que dedicaram a Lula.

Nenhum. Nem mesmo o Estadão, no auge de sua guerra santa, de sua cruzada contra Getúlio Vargas, chegou aos extremos que temos lido nos jornais e revistas e visto nas tevês.

Nem contra Juscelino acusado de ser dono da sétima maior fortuna do planeta.

Pois foi exatamente essa mídia – Estadão, Organizações Globo, Veja, Folha e outros mais – foram eles que deram uma cobertura jamais vista antes ao novo esporte da elite: a “Caça ao Lula”.

Convertidos em estrelas da televisão, setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal juntaram-se para realizar a maior devassa jamais vista na história brasileira.

Só o Jornal Nacional dedicou 70 horas de ataques a Lula. Sim, 70 horas. É como se você ficasse três dias seguidos diante da TV vendo o Lula apanhar. Lula apareceu de forma pejorativa em quase quarenta capas de revistas semanais.

Esquadrinham a vida de sua mulher, Mariza – cuja saúde não resistiu ao massacre -, as de seus filhos, noras, netos, irmãos, advogados e amigos.

Reviraram colchões e motores de geladeira em sua casa, em busca de dólares ou jóias. Quebraram seus sigilos bancário e fiscal, grampearam seus telefones, varejaram offshores internacionais e fuçaram bancos suíços em busca de contas numeradas.

O que encontraram? Nada. Isso mesmo: nada. Zero. Apesar disso, Lula está há um mês numa cela da Federal em Curitiba.

Esta é a segunda vez que eu testemunho uma prisão de Lula. A primeira foi em abril de 1980. Lula saiu do DOPS para os braços do povo no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo.

Desta vez a inocência dele me dá a certeza de que ele sairá, sim, e logo, de Curitiba. E de novo nos braços do povo.

#LulaLivre