Política

Lula politizou a questão social. E isso é muito bom

Os dois discursos de Lula – no Congresso e no púlpito do Palácio – foram excepcionais e afiados


Foto: Evaristo Sá/AFPLula durante discurso no Palácio do Planalto
Lula durante discurso no Palácio do Planalto

 

Por Gilberto Maringoni, professor, no Facebook

Os dois discursos de Lula – no Congresso e no púlpito do Palácio – foram excepcionais e afiados. O presidente mostrou que dispositivos como o teto de gastos e o orçamento secreto são lesivos à democracia. Chamou fascismo de fascismo e genocídio de genocídio, garantiu que empresas estratégicas não serão privatizadas, descreveu o papel do Estado e escancarou as ameaças à democracia.

Há muito a ser falado dessas históricas intervenções. Mas chamo atenção para uma ousadia, quando Lula tratou das questões sociais. Nos dois primeiros mandatos, o foco do presidente era a fome, a pobreza, a miséria. Esses problemas podem ser minorados com programas de transferência de renda. Embora fundamentais para quem está na miséria, tais soluções não tocam no atávico mecanismo da exploração que as maiorias são vítimas por parte do topo da pirâmide social. Por isso são também recomendadas pelo Banco Mundial.

A novidade é que agora Lula fala explicitamente em desigualdade e em como as políticas de Estado favorecem os eternos privilegiados. Não se refere apenas à chaga do racismo – o que é muita coisa -, mas no legado da escravidão. Mais uma vez, toca na exploração de seres humanos por outros. Esse é o nó de nossa sociedade: não se trata apenas da existência de ricos e pobres, mas da existência de uma dinâmica perversa de drenagem de riquezas da base para o topo da sociedade.

Ao focar na desigualdade, Lula politiza a questão social, que vai muito além de medidas administrativas para socorrer emergências. Vai na direção de uma mudança estrutural no funcionamento da sociedade, com lutas e enfrentamentos a privilégios seculares.

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