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Lula está um sabiá cantador na gaiola, mas com a chave

Lula está um sabiá cantador na gaiola, mas com a chave

Por Hildegard Angel, em seu blog em 27 de abril Fui abduzida por Lula ao ouvi-lo discursar pela primeira vez. Foi numa festa de Réveillon, quase íntima, oferecida por seu vice, José Alencar, num hotel de Brasília, na noite anterior à sua primeira posse no Planalto. De mãos dadas com Alencar, Lula despejou seus sonhos para o Brasil que iriam construir, os projetos, as esperanças. Mergulhei nelas. E no Lula, em quem eu havia votado, não por ele, mas pelo Alencar. Fiquei duplamente orgulhosa do meu voto. Depois disso, foram muitos pronunciamentos do Lula. Eles já me fizeram rir, gargalhar, me entusiasmar, me indignar, chorar, gritar. Quando ele disse, antes de ser preso, que era uma Ideia, e que todos nós seríamos Lula, lasquei um Hildegard Lula da Silva no Twitter por algumas semanas. E só retirei porque “não ficava bem” a uma jornalista tamanha parcialidade. Mas continuei a lular. Não apenas pelo Lula, pessoa, mas pelo Lula maior que o Lula, o Lula ideia, o Lula entidade, o Lula Hildegard, Pedro, João, Maria, Sebastiana. Sei que Lula não é a perfeição. Tem as falhas de todos nós, talvez mais, talvez menos, mas é maior do que todos em sua genialidade. Lula não é Lula, é Super-Lula, que poderia sair voando da cadeia, se quisesse. E ontem ele demonstrou isso, voou sobre as cabeças da mediocridade nacional e aos olhos extasiados de seus admiradores. Ninguém prende Lula. Uma Ideia não se prende. Lula está um sabiá cantador na gaiola, mas com a chave. Seu canto é sua liberdade. Ando evitando escrever, porque só escrevo com sentimento e quando acredito. E hoje estou envolta numa bolha de tristezas e decepções, contaminada pela síndrome da deprê nacional, que não tenho conseguido romper. Por isso, não vou me estender. Vou transcrever um artigo de Jeremias Baruch de que gostei, e que diz muito deste meu momento. Jeremias Baruch “Eu sempre fui de esquerda mas eu repudiava o Lula. Achava-o falastrão, circense, populista sem sentido. Eu nunca o odiei, mas eu escrevia críticas a ele e à bajulação que faziam dele. Até que eu vi o discurso que ele fez em cadeia nacional, retransmitido pela Globo News, no dia da condução coercitiva, e me sentei boquiaberto pensando “então é disso que eles falam; é esse poder de oratória!”. Eu percebi que nunca tinha me dedicado a ouvir o Lula, e percebi, envergonhado, que eu havia me deixado contaminar pela falta de crítica do meio em que vivia_ e pelo meu desprezo pela política brasileira. O Lula é um gênio, pensei, ouvindo-o. Que oratória, que eloquência! Naquele momento passei a defendê-lo, o que causou um choque entre todos que me conheciam. Escrevi em meu blog, em uma sentada, assim que acabou seu pronunciamento, um texto chamado “Moral em pareidolia”. As pessoas que me liam, metade delas na época, me xingaram, me chamaram de estúpido, de idiota, disseram que eu tinha ficado louco. Dali para frente eu entendi ainda mais o fenômeno Lula e entendi ainda mais a política brasileira, essa distorção que impõe ao alienado que identifique impossíveis heróis morais para louvar. Vi o Lula como um ser humano, mas um ser humano único. Como Saul Bellow fala sobre os seus, Lula é uma “entidade”, um espírito raro que só ocorre de tempos em tempos. Eu não o louvo, eu não me isentei de criticá-lo, mas agora o faço liberto, sem os grilhões das trombetas de guerra. E que alívio foi ouvi-lo hoje novamente! Eu ainda desprezo os lulistas radicais, que são tão deletérios como os Mijairlistas. Mas o Lula, com toda sua ginga, com toda sua malandragem, com toda sua autoconfiança, é um gênio, do mesmo patamar que um Churchill e um Roosevelt.”

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