Pensar Piauí

"Sem nunca ter sido minha professora, Ida me ensinou muito" - diz Américo

Tenho muitos amigos que partiram: Osório Júnior, a Francisca Trindade, o Hélio Paiva, entre outros. Todos tiveram um velório, Ida não!

Foto: Arquivo pessoalProfessora Ida
Professora Ida

Por Américo Abreu, no facebook

Pra minha amiga Ida Paz

Hoje perdi uma pessoa importante pro meu crescimento político e humano. Uma amiga que conheci há 24 anos (É mais tempo do que convivo com meus filhos). A minha amiga Ida Francisca de Oliveira Paz, a Ida. Um nome tão curto para uma pessoa de coração tão grande.

Ela era uma pessoa de bom humor admirável. Até pra contar os perrengues da vida ela sorria, fazia graça da situação. As pequenas tragédias cotidianas que todos enfrentamos na família, no trabalho, nos amores, parecia que pra ela se tornavam mais leves. Elas as tratava a risos e gargalhadas. Não se deixava abater ou intimidar. E nisso, ajudava a gente na luta.

Às vezes, em junho, nos festejos de Santo Antônio, em Campo Maior, eu a encontrava três vezes por semana. Outras vezes passamos mais de ano sem se ver. No entanto, ao nos encontrar a conversa fluía como se tivesse sido interrompida por poucos minutos. Ela tinha um jeito de ser amiga que deixava a gente muito a vontade. Sem cerimônias. Tinha uma humildade e uma doçura impressionante.

Ida era de esquerda. Como muitas pessoas de esquerda que conheço e admiro, ela cativava a humanidade. O apego à luta dos trabalhadores. O respeito pelo justo, pelo certo. Atribuem a Chê Guevara a frase “Hay que endurecerse, pero sin perder lá ternura jamás”. Nunca vi alguém que representasse tão bem essa ideia. Daí ter tantos amigos, longe e perto. Que ela fazia ser sempre perto, com o seu jeito de ser.

Sem nunca ter sido minha professora, ela me ensinou muito. Talvez o último e maior ensinamento que tenha aprendido com ela ocorre justamente logo após a sua partida. Quantas conversas animadas a gente poderia ter tido? Quantas vezes eu poderia ter dito que era seu fã? Que admirava o trabalho dela? O quanto ela importava pra mim? E não disse. E errei por achar que há tempo pra tudo isso, depois. E o “depois” é um tempo impreciso, fluido, traiçoeiro. Depois não é tempo de se fazer nada porque, quando chega, já passou. Mas a nossa amizade não passará.

Tenho muitos amigos que partiram. Amigos como o Osório Júnior, a Francisca Trindade, o Hélio Paiva, entre outros. Todos eles eram amigos de muitos amigos. Todos tiveram uma despedida digna. Um velório onde pudemos nos emocionar juntos, abraçar os amigos e lamentar a perda. Com a Ida isso não aconteceu. E isso dói. Onde quer que ela esteja ela há de saber que esse nosso mundo ficou um pouco mais sombrio e triste, porque perdemos a luminosidade e a alegria que ela irradiava por aqui. Mas continuaremos na batalha.

Ida, foi uma honra ter sido seu amigo.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS