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Esquerda não deve medir forças com bolsonarismo no 7 de setembro

Não importa quantos Bolsonaro reúne no 7 de setembro, seus avanços golpistas são inaceitáveis

Foto: RBAEsquerda e direita
Esquerda e direita

 

Na Folha de ontem, Mario Sergio Conti escreve: "Se não houver uma ação acachapante contra ele, destruirá a democracia. Concretamente: se não houver uma manifestação maior que a dos seus fanáticos, no mesmo dia ou pouco depois, o golpe estará mais próximo".

Eu discordo. Não acho que a questão seja medir tamanho de manifestações.

(1) Não importa quantas pessoas estejam nas ruas, para as redes bolsonaristas a manifestação deles será muito maior. O passeio mussoliniano com 6.253 motos em São Paulo, contadinhas por um software, virou um colosso com mais de um milhão de motoqueiros - lembram?

Como em manifestação de rua o que vale é a narrativa para animar a militância, esta é uma batalha que não merece ser travada.

(2) Se fosse para saber quem tem mais apoio, há um método mais fácil, chamado eleição. Mas a questão é exatamente esta: Bolsonaro está apostando todas as suas fichas no golpe porque perdeu a ilusão de conquistar um segundo mandato nas urnas.

O apoio que ele é mantém é espantoso, dado o caráter absolutamente destrutivo de seu governo. Mas é minoritário - e cada vez mais minoritário. Isto é evidente para qualquer pessoa que ande nas ruas e medido por todas as pesquisas de opinião.

Comparar manifestação de rua não acrescenta nada a este dado.

(3) Na verdade, entrar numa competição relativa à maior manifestação pode sugerir que quem leva mais gente à rua tem mais direito.

Não. Não importa quantos Bolsonaro reúne no 7 de setembro, seus avanços golpistas são inaceitáveis.

O que é preciso é avançar na repressão à conspiração contra as eleições do ano que vem, que Bolsonaro patrocina à luz do dia. A prisão de alguns de seus operadores, como tem sido feito até aqui, é correta, mas ainda insuficiente.

(4) Na mesma Folha, Cristina Serra, lúcida como sempre, diz que Bolsonaro busca "promover uma explosão de ódio no que mais parece um ato de desespero. Com sua base de apoio derretendo, melhor faria a oposição se o deixasse latindo sozinho neste feriado".

Este é outro ponto. O bolsonarismo está trabalhando para produzir um confronto, que quiçá sirva de justificativa para medidas de exceção. Isto não nos serve.

A esquerda tem o direito de se manifestar no 7 de setembro. Mas é necessário ter clareza sobre o que queremos com a manifestação. Se for para medir forças com o bolsonarismo, creio que é o caminho errado.

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