Pensar Piauí

Entidades médicas que se calam diante dos descalabros da política de saúde de Bolsonaro

É um silêncio indecente

Foto: 180grausMédicos
Médicos em manifestação 

Por Mário Mamede, médico

Um silêncio indecente


Extremamente incomodado com a falta de posicionamento das entidades médicas diante dos desmandos da política de saúde do desgoverno Bolsonaro, em particular quanto a negação da ciência no enfrentamento à epidemia da Covid-19 e a total irresponsabilidade no planejamento de uma campanha vacinal, me sinto na obrigação, como cidadão e como médico, de fazer algumas considerações.

Necessário se faz lembrar o apoio dessas entidades ao golpe constitucional que culminou com a cassação da presidenta Dilma Rousseff, em que seus detratores, por falta de provas incriminatórias, justificaram o impedimento da presidenta pelo "conjunto da obra". Na época me causou profunda indignação nota oficial da Federação Nacional dos Médicos, assinada pelo então presidente Florentino Cardoso, em apoio ao golpe de Estado, sem que nenhuma consulta houvesse sido feita para tal junto à categoria.

Buscando elementos para melhor entender tal comportamento, encontrei o artigo - Análise do posicionamento das entidades médicas - 2015-2016, publicado na revista Saúde Debate, em 2017. Após análise das notícias publicadas em três sites oficiais das entidades médicas, os autores concluíram que "as entidades médicas defendem interesses corporativos, distanciando-se dos princípios e diretrizes da Reforma Sanitária Brasileira".

É perceptível o ativismo político da categoria médica e de suas entidades, alimentando um sentimento de ódio ao Partido dos Trabalhadores, e que serve de justificativa ao apoio de um grande número de médicos e médicas ao bolsonarismo.

Indago onde está esse ativismo das entidades médicas que se calam diante de tantos descalabros na condução das políticas de saúde do governo Bolsonaro. Para mim é difícil entender e aceitar que profissionais com altíssimo nível de formação acadêmica, dedicados a salvar vidas apoiem um governo que exerce a necropolítica, justifica a tortura e despreza a vida.

Mais difícil ainda é aceitar o silêncio indecente das entidades médicas. É eticamente inaceitável que a Federação Nacional dos Médicos e o Conselho Federal de Medicina participem do Comitê de Crise no Combate ao Covid, sob o mando do incompetente e despreparado general-ministro da Saúde, tornando-se parte responsável dessa tragédia.

Inevitavelmente, perante a história as entidades médicas serão apontadas como cúmplices deste genocídio.


 

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