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Elio Gaspari: Bolsonaro e Ciro Nogueira não entenderam a carta pela democracia

Ele fez um paralelo entre a interpretação dada pelo governo ao manifesto da democracia anunciada pela USP e a sua inspiradora, a carta lida em 1977

Foto: Brasil 247Bolsonaro e Ciro Nogueira
Bolsonaro e Ciro Nogueira

O colunista Elio Gaspari na Folha de S.Paulo deste domingo (31) fez um paralelo histórico entre a interpretação dada pelo governo ao manifesto em defesa da democracia anunciada pela Faculdade de Direito da USP nesta semana e a sua inspiradora, a carta lida pelo juristra Goffredo da Silva Telles em 1977.

Da mesma forma que na época o manifesto da sociedade civil foi avaliado pelo SNI como “ato político e pessoal do professor Goffredo”, a atual manifestação está sendo avaliada por aliados do presidente, como Ciro Nogueira, como sendo uma mera represália  de “banqueiros ressentidos com a popularização do pix”.

Leia trechos do artigo de Gaspari:

Jair Bolsonaro e o doutor Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência, disseram que o manifesto da carta em defesa da democracia era coisa de banqueiros ressentidos pela popularização do Pix. (…)

A Carta de 2022 procura replicar o que teria sido o efeito da “Carta aos Brasileiros” que o professor Goffredo da Silva Telles leu numa noite de agosto de 1977, há 45 anos. (…)

Valeria a pena que Nogueira e seus colegas palacianos relessem o que escreveu o falecido Serviço Nacional de Informações, analisando a cena do Largo do São Francisco:

“A Carta aos Brasileiros

A leitura da ‘Carta aos Brasileiros’ feita pelo Professor Goffredo da Silva Telles, dia 8 de agosto de 1977, no pátio interno da Faculdade de Direito da USP, como parte dos festejos comemorativos do sesquicentenário da implantação dos cursos jurídicos no Brasil deu a impressão, à primeira vista, de que se tratava de um ato oficial organizado pela direção da Faculdade, em comemoração a mais um aniversário de sua fundação.

Na verdade, o documento em apreço, de mera conotação política, não teve apoio maciço da Congregação da referida Academia de Direito, senão de minoria inexpressiva, conquanto ativa.

É da entrevista do diretor da Faculdade a afirmação: ‘A leitura (da Carta) era um ato político e pessoal do professor Goffredo e, por isso, a permissão para uso do salão só poderia ser dada pela Congregação, mas o pedido não foi feito’.

A ‘Carta aos Brasileiros’ está recebendo a adesão de professores de outras escolas de direito e de muitos advogados de São Paulo e de outros estados. No entanto, ela não está merecendo a adesão irrestrita e nem sensibilizou a opinião pública, como esperavam seus autores. Alguns políticos de conhecida formação liberal se recusaram a assiná-la, sob os mais variados argumentos. (…) O presidente seccional da OAB em São Paulo deixou de assinar a ‘Carta’ por considerá-la um documento elaborado por iniciativa isolada.” (…)

O colunista finaliza citando Mark Twain, que disse que a história não se repete, mas rima.

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