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Economista fala dos impactos da inflação no Piauí e no Brasil

O economista Ricardo Alaggio analisou o cenário da inflação e suas causas

Foto: ReproduçãoProf. Dr. Ricardo Alaggio
Prof. Dr. Ricardo Alaggio

Após o forte aumento nos preços dos combustíveis anunciado pela Petrobras, os economistas do mercado financeiro elevaram estimativa de inflação em 2022 para 6,45%.

A informação foi divulgada pelo Banco Central. Até então, a expectativa era de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, ficasse em 5,65% neste ano.

O aumento nos combustíveis foi anunciado pela Petrobras, em meio à disparada do preço do petróleo, reflexo da guerra na Ucrânia. É a nona alta seguida na estimativa do mercado financeiro para a inflação, divulgada semanalmente pelo BC.

Se confirmada a previsão do mercado para a inflação em 2022, será o segundo ano seguido de estouro da meta de inflação. Em 2021, o IPCA somou 10,06%, o maior desde 2015.

A meta central de inflação para 2022 é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%. Com a nova alta, a previsão do mercado se distancia mais do teto da meta.

O objetivo foi fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-lo, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, a Selic.

Para 2023, o mercado financeiro subiu de 3,51% para 3,70% a estimativa de inflação. Para o próximo ano, a meta foi fixada em 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

O pensarpiauí conversou com o Prof. Dr. Ricardo Alaggio, economista piauiense, que possui doutorado em Ciências Políticas na Unicamp (SP) e é professor do mestrado em Gestão Pública da UFPI.

Questionado sobre a inflação no Brasil ser 5ª maior da América Latina e se cenário pode mudar para melhor e quais as causas, o professor afirmou que a alta da inflação é um fenômeno mundial nesse momento, como nos EUA e na Europa. “As causas dessa inflação, tanto aqui, como nos Estados Unidos e na Europa, é principalmente o “choque de oferta”. Que é a falta de oferta de bens, bens que servem para produzir outros bens, que chamamos de insumos, porque durante a pandemia as principais indústrias do mundo inteiro acabaram fechando, pararam suas produções, e isso subestimou às demandas que teriam em 2021. 

Então, nós temos a inflação desde o início de 2021 que foi quando o mundo tentou voltar ao normal. As indústrias não conseguiram voltar o patamar de produção, não foi possível alcançar o patamar de 2019, pela falta de mão de obra, falta de insumos. Embora, creio que esse fenômeno tende a se organizar durante o ano de 2022”, disse o economista ao pensarpiauí

Além do choque de oferta das indústrias, o economista destacou que também houve o choque de oferta do petróleo. “Os países produtores não conseguiram, desde 2021, ofertar petróleo como o mundo demandava, isso foi grave, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia esse problema só aumentou. Mas temos que pensar que já vem de antes, já temos um problema que se arrasta desde a metade do ano passado, quando começou a subir insistentemente o preço do petróleo, e agora estamos no apogeu da crise.

A guerra deve pressionar mais ainda a inflação no mundo inteiro. No caso do Brasil, ainda temos também a política da alta de juros que deve aumentar mês que vem e o dólar, pois a maioria dos insumos que a indústria brasileira usa, como chips de computador e de celulares, fertilizantes, até sementes para agricultura tudo é importado. Mais de 50% que a indústria brasileira usa para produzir produtos é importado, então, quando o dólar sobe, tudo isso fica mais caro e tudo isso gera mais inflação. Por isso o aumento do dólar é outro problema que estamos enfrentando”, explicou Alaggio.

O professor falou sobre os impactos da inflação na vidas as famílias brasileiras e explicou que, além do desemprego, o endividamento das famílias é muito alto. “As pessoas estão sentindo muito o crescimento dos preços nos supermercados, além da taxa de desemprego muito alta, que não cedeu ao logo de 2021 até agora. A taxa de desemprego no Piauí é alta, na capital também, e isso contribui para o endividamento das famílias. Hoje, 60% das famílias estão endividadas e isso é muito preocupante. 

Mesmo que a inflação diminua, o grau desemprego, endividamento e o trabalho informal, não vamos ter uma melhora imediata no PIB brasileiro e no PIB piauiense ou um grande aumento nos negócios em Teresina”, ressaltou o economista.

Questionado sobre o fato do Piauí ter o salário mínimo nacional, enquanto alguns estados como o Rio de Janeiro estabelecem seu próprio salário mínimo, com um valor maior, faz com os piauienses sofram mais com o aumento dos preços de combustíveis, alimentação, energia e gás, Alaggio disse que não tem muita diferença pois esses estados que tem salários mínimos independentes possuem um custo de vida bem mais caro para a população. 

“O custo de vida nesses estados é bem mais caro, principalmente na parte de habitação, do transporte pois tudo é muito longe, diferente de Teresina por exemplo. Então vendo esses outros estados que tem o salário mínimo comparados com o Piauí, eles tem gastos muito maiores e o salário maior é uma forma de compensar esses gastos mais altos na vida do trabalhador”, destacou.

Veja mais explicações do economista sobre o assunto: 

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