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É PSOL em SP, PCdoB em Porto Alegre e PT no Rio: reta final da campanha

Análise e comportamento por Jeferson Miola e Luiz Eduardo Soares

Foto: Rede Brasil AtualBenedita, Boulos e Manuela
Benedita, Boulos e Manuela

Por Jeferson Miola, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre 

A reta final da eleição em São Paulo e Porto Alegre está eletrizante, e reserva fortes emoções na abertura das urnas no próximo domingo, 15 de novembro.

De acordo com pesquisa Ibope de 9/11, na capital paulista o candidato bolsonarista Russomanno é cada vez mais Russomanno, e dissolve como sonrisal n’água.

Boulos/PSOL “subiu parado”. Mesmo repetindo o percentual do levantamento de 30/10, assumiu o 2º lugar de Russomanno na competição.

Boulos é seguido por Márcio França [10%], o candidato do PSB/PDT que não poupa esforços para conquistar o voto bolsonarista, reacionário e antipetista perdido pelo Russomanno. Mais atrás Jilmar Tatto/PT repete os 6% da pesquisa anterior.

Enquanto isso, o tucano Bruno Covas aparece como principal beneficiário da evaporação do Russomanno. Ele abocanhou 6 dos 8 pontos percentuais perdidos pelo candidato do Bolsonaro e se consolida na 1ª colocação com 32%.

Neste cenário, a dúvida que surge é se terá 2º turno na cidade de São Paulo; e, em havendo 2º turno, quem poderá ser o adversário do tucano – se Boulos, França ou Tatto.

Em Porto Alegre o clima de suspense e dramaticidade não é menor.

A 6 dias do pleito, a candidatura de José Fortunatti/PTB foi indeferida por unanimidade no TRE/RS [6 votos a zero] devido à inobservância do prazo legal de filiação partidária do candidato a vice da chapa.

Alguns dias antes [6/11], o ministro do STF Marco Aurélio Mello tinha negado o pedido do tucano Marchezan Júnior para suspender a tramitação do processo de impeachment que poderá levar à cassação do atual prefeito.

Desse modo, além da imponderabilidade natural que a pandemia traz à eleição municipal, a cassação da candidatura de Fortunatti e a possibilidade de impeachment do prefeito Marchezan Júnior/PSDB acrescentam novas incertezas ao cenário eleitoral da capital gaúcha.

À luz da legislação, são nulas as chances de Fortunatti reverter a cassação. Apesar disso, contudo, ainda não se sabe se ele renunciará à candidatura ou se recorrerá da decisão no TSE, mantendo sua fotografia na urna eletrônica.

Qualquer que seja a decisão de Fortunatti, a chapa Manuela-Rossetto/PCdoB-PT se beneficia consideravelmente deste abalo no interior do bloco dominante.

Para Manuela, é inclusive preferível Fortunatti manter-se no páreo e depois ter seus votos anulados. Caso isso aconteça, cresceria a chance de vitória dela já no 1º turno.

O emedebista Sebastião Melo, favorecido com a eventual renúncia do Fortunatti, sepultaria qualquer pretensão do atual prefeito. Na hipótese de haver 2º turno, o direitista do MDB seria o adversário da Manuela, e não o tucano extremista.

Hoje com quase o triplo de intenções de votos em relação ao 2º colocado, Manuela ultrapassa os 30% e está em trajetória ascendente. As simulações de 2º turno apontam que ela tem um desempenho nunca inferior a 40%, vencendo qualquer adversário da direita.

É perceptível o clima favorável à eleição da 1ª mulher para a Prefeitura de Porto Alegre em toda história de 248 anos da cidade. Manuela se beneficia da “maré da mudança” que está se formando em torno da sua candidatura.

A possibilidade de vitória da Manuela já no 1º turno é uma possibilidade concreta no horizonte. Os próximos longos dias serão decisivos.

Por Luiz Eduardo Soares, Antropólogo e Cientista Político especialista em Segurança Pública

Na eleição do Rio, decidi votar em mulheres negras, porque é o mínimo que posso fazer para valorizar a luta feminista antirracista, que hoje se confunde com a luta por democracia. Sou homem branco de classe média, duplamente privilegiado, portanto. Não se trata de culpa pequeno-burguesa, mas do mero reconhecimento da realidade em que vivo e da vontade de ser coerente. 

Dei minha modesta contribuição à resistência contra a ditadura e, depois de 1988, procurei fazer o que podia para bloquear o genocídio de jovens negros e de jovens pobres pelo braço armado do Estado, articulado a dinâmicas fratricidas alimentadas pelo capitalismo selvagem que degrada a vida social. 

Hoje, temos duas candidatas negras à prefeitura que merecem minha admiração, Benedita da Silva e Renata Souza, ambas com vices notáveis: a incansável enfermeira Rejane e meu querido amigo Ibis Pereira. Infelizmente, a política partidária as separou. Como não posso votar nas duas, escolho Bené, aquela que há mais tempo está no front, com a bravura de sempre, e que tem mais chances de agregar e disputar com o bolsonarismo e os diversos tons da ambivalência. 

Nunca vou esquecer o impacto que foi ouvi-la pela primeira vez, em 1982. Aquela emoção é a mesma que sinto hoje quando a ouço. Bené não mudou, jamais se vendeu, nunca se iludiu com os cantos de sereia do poder e do dinheiro. Bené não mudou, nem o Rio, apesar de tudo o que ela e tanta gente tentou fazer. 

Benedita está na estrada há quarenta anos, falando de racismo e desigualdade, confrontando o machismo e todo tipo de preconceito, sem jamais perder a ternura e a disposição generosa ao diálogo. Diante das ameaças existenciais representadas pelo fascismo e pela pandemia, o voto pode ser uma afirmação democrática histórica e uma vacina contra o ódio. Por isso, Bené na veia.

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