Pensar Piauí

É preciso olhar para a raiz de o Brasil sair da elite das Copas

Éverton Ribeiro é o melhor jogador das finais da Libertadores e Copa do Brasil e não consegue jogar bem no Mundial

Foto: Gabriel BouysNeymar foi ao chão após a derrota ao lado de Rodrygo
Neymar foi ao chão após a derrota ao lado de Rodrygo

 

Por Paulo Vinícius Coelho, jornalista, no GE

De onde nasceu a certeza absoluta de que a Seleção era favorita para ganhar a Copa, se um ano atrás os debates escandalizavam-se com o abismo aparente entre europeus e sul-americanos?

Era 7 de outubro de 2021, dia de França 3 x 2 Bélgica, pela Liga das Nações, em contraste com Venezuela 1 x 3 Brasil, pelas eliminatórias. Os debates traziam a certeza do desnível. Seis meses depois, o time de Neymar era favorito outra vez.

Incrível como este país sai da depressão à euforia e volta ao estado de letargia no intervalo de dias, semanas ou meses -- e às vezes noventa minutos.

A Copa do Mundo não tinha favoritos, mas candidatos ao título, você leu aqui.

Estava escrito pela absoluta certeza de que o conhecimento explica o equilíbrio entre seleções nacionais. Em 2016, Portugal e França fizeram a final da Eurocopa. Nos 18 meses anteriores, ambas perderam da Albânia.

A técnica e a tática espalham-se de modo a permitir ao Japão ganhar de Espanha e Alemanha, Arábia Saudita vencer a Argentina e a França perder da Tunísia. A Croácia é semifinalista por duas Copas consecutivas, com todos os seus mata-matas vencidos nos pênaltis -- perdeu a final da França.

E, então, críticos em geral e um, em especial, dizem que Tite enganou o Brasil. Neymar reagiu à frase de seu ex-empresário dizendo "não fala merda." Todo o respeito a Wagner Ribeiro, todo o direito de se expressar como quiser. Nesta, Neymar tem razão. Porque a tendência no dia da derrota e no dia seguinte é muito mais esculhambar tudo o que aí está, em vez de pensar sobre as raízes de o Brasil disputar cinco Copas do Mundo sem chegar à final -- e sua única semifinal ser perdida por 7 a 1.

Tite pode ter errado em alterações, Neymar poderia bater o primeiro pênalti, não se deveria tomar um contra-ataque faltando quatro minutos para o final do jogo, mas... Tudo isto é um jogo de futebol. A questão é o que fazer para vencê-lo, na criação de um país que seja polo cultural deste esporte que amamos -- e que já não dominamos.

Quando Bélgica e Espanha são eliminadas por Marrocos, Alemanha pelo Japão, Dinamarca pela Austrália, sempre alguém diz que os europeus não são tudo isso, sem notar que o japonês Kamada joga pelo Eintracht Frankfurt, os marroquinos Mazraoui, no Bayern, Zyiech, no Chelsea, e acima de tudo que só um jogador que atua na América do Sul fez gol nesta Copa (Arrascaeta).

Tite não enganou o Brasil. O Brasil é que se engana, quando julga que o futebol jogado atualmente na América tem nível de Liga dos Campeões e Copa do Mundo. Quem transita nos estádios europeus sabe disso -- os empresários de jogadores, por exemplo. Por que só dizem na derrota?

O próximo técnico da seleção vai errar. O que precisa mudar é a raiz do problema.

Na América inteira, só o Brasil tem condição de construir um campeonato de nível europeu, formar jogadores como a França faz em Clairefontaine, estudar o jogo nas zonas de campo curtas que restaram. O futebol já é jogado no espaço de uma quadra de basquete e está se parecendo, muitas vezes, com handebol, com times trocando passes diante de linhas de cinco a sete jogadores à frente da área.

Não é mais um esporte da relação do atleta com a bola, apenas, mas do craque com o tempo e o espaço, como Messi mostrou contra a Holanda.

Num tempo em que o conhecimento se espalha na velocidade com que se liga um celular, é impensável seguir caçando vilões no dia seguinte à derrota, sem perceber que quem está perdendo são todos os que fazem o futebol brasileiro, todos os dias.

Este ex-país do futebol só está na elite na descoberta e exportação de craques. Precisa voltar a ser no pensamento e elaboração do jogo.

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