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“Democracia” causa vertigem nos golpistas

Indicação ao Oscar reafirma a dimensão histórica do filme, enquanto obra artística, significante importante em termos de resistência democrática

Foto: google imagensDemocracia em Vertigem pode ganhar o Oscar de melhor documentário
Democracia em Vertigem pode ganhar o Oscar de melhor documentário

A indicação oficial do documentário “Democracia em Vertigem”, da cineasta brasileira Petra Costa, ao Oscar de melhor documentário, é um fato que não pode ser minimizado ou restrito ao círculo cultural, do ponto de vista da batalha travada em defesa da democracia no Brasil. Mesmo sem ter bagagem intelectual para entender, em sua complexidade e profundidade, o poder da mensagem do filme nacional, a extrema-direita e o governo Bolsonaro acusaram o golpe e demonstraram o quanto temem a repercussão dessa indicação.

De imediato, o secretário especial de Cultura, Ricardo Alvim, talvez a mando do presidente Jair Bolsonaro, perdeu a oportunidade de se calar, diante da grande conquista do filme “Democracia em Vertigem” e portanto do cinema brasileiro. O secretário, de forma mesquinha, tentou menosprezar o documentário, que retrata, com riqueza de detalhes e de forma clara, os bastidores do golpe de 2016, que derrubou a então presidente Dilma Rousseff através de um processo de impeachment fraudulento, sem crime de responsabilidade.

Para Ricardo Alvim, “se fosse na categoria ficção, estaria correta a indicação”, sendo seguido, pasmem, pelo PSDB, o outrora partido da social democracia, de Mário Covas, Franco Montoro e outros democratas e liberais que o fundaram, nos estertores da década de 80. Ao reagir à indicação do trabalho cinematográfico espetacular de Petra Costa, os tucanos sepultaram de vez qualquer vestígio de dignidade e comprometimento com a sociedade, vestindo, definitivamente, a roupa da extrema-direita e do fascismo.

Resistência democrática

Essas reações, todavia, apenas serviram para reafirmar a dimensão histórica do filme, enquanto obra artística, que extrapolou seu papel cinematográfico, cultural, jornalístico e adquiriu a condição de elemento, significante importante em termos de resistência democrática. Com a indicação de “Democracia” ao Oscar de melhor documentário, em 2020, ganha força a narrativa da denúncia do golpe, que antes parecia restrita ao campo democrático, progressista, às esquerdas brasileiras.

Os setores golpistas esperavam que as circunstâncias do golpe e da prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para possibilitar a ascensão da extrema-direita representada por Bolsonaro, iriam desaparecer no esquecimento. Com isso, se consagraria, por meio de manipulação midiática, a outra narrativa, que estaria fadada a entrar para os livros de história, mas na verdade se trata de uma farsa montada pelas elites, por meio de um grande consórcio midiático-judiciário-político-econômico, que sequestrou a democracia.

O filme é um dos acontecimentos que contribuíram para que a verdadeira narrativa, baseada em fatos insofismáveis, prevalecesse e desmascarasse a grande tragédia que se abateu no País, com a ruptura institucional que houve em 2016 e suas consequências. Como disse Caetano Veloso, o documentário é uma prova de que o cinema pode ser usado como arma, em defesa da democracia, cultura e sociedade. “Esperamos que esse filme possa nos ajudar a entender como é crucial proteger nossas democracias.” Palavras de Petra Costa.

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