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Debate cordial de Lula e Bolsonaro é pausa hipócrita na eleição da baixaria

Aqui não cabe uma falsa simetria covarde, pois é a campanha de Bolsonaro quem empurra a eleição para o chorume

Foto: ReproduçãoDebate entre Lula e Bolsonaro
Debate entre Lula e Bolsonaro

 

Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no facebook

Como uma das piores campanhas eleitorais da história conseguiu produzir um debate cordial? Alguns vão defender o formato, outros dirão que é estratégia dos candidatos para conquistar indecisos. O fato é que o evento da noite deste domingo (16), realizado pelo UOL, Folha, TV Cultura e TV Bandeirantes, foi apenas uma miragem que se desfaz com uma rápida olhada nas redes sociais ou na propaganda eleitoral da TV.

Desde antes do segundo turno, a impressão não é de que estamos elegendo o próximo presidente para cuidar da economia, emprego, alimentação, educação, habitação, transporte, segurança, mas determinando com que roupa o Brasil vai entrar em uma cruzada religiosa como se o principal problema do país fosse a pedofilia e não a fome.

Aqui não cabe uma falsa simetria covarde, pois é a campanha de Bolsonaro quem empurra a eleição para o chorume, como fez há quatro anos. Desta vez, imaginou que a campanha de Lula repetiria a de Haddad, em 2018, e não entraria no jogo. Errou.

Não à toa, uma das maiores expectativas para o início do debate seria se Lula começaria de forma programática ou se optaria por explorar a declaração tosca do presidente da República, que durante uma tentativa de manter a pedofilia como tema eleitoral sugeriu que meninas refugiadas venezuelanas com apenas 14 anos de idade estavam fazendo programa (o que foi desmentindo por reportagem do UOL). E que "pintou um clima" entre ele, um homem de 67 anos, e as adolescentes.

A senadora eleita Damares Alves já havia implementado a mesma tática, há alguns dias, ao mentir afirmando que crianças de três anos tinham os dentes arrancados na Ilha de Marajó para poderem fazer sexo oral sem morder. Baixaria pura.

Por sorte de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral, a quem o presidente chama de "canalha" e "vice de Lula", mandou a campanha do petista tirar as peças em que sugeriria pedofilia por parte de Jair do ar.

Afinal, há uma diferença entre declarações abjetas e comportamento abjeto. E isso foi usado por Bolsonaro no debate para se vitimizar.

A campanha do mundo real, do baixo nível, vez ou outra, deu as caras no debate. Como quando Bolsonaro chamou as comunidades pobres do Rio de Janeiro de antros de bandidos ao dizer que "só tinha traficante" ao lado de Lula na passeata realizada pelo petista no Complexo do Alemão, insistindo em uma fake divulgada dias atrás nas redes. O petista teve que retrucar que "não tinha bandido na passeata, mas mulheres e homens que saem cedo para trabalhar".

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