Pensar Piauí

Chico de Júlio - um ícone que vai, uma história e um pesar que ficam

O professor Gilson Chagas prestou homenagem ao ex-prefeito de Picos

Foto: JTNewsChico de Júlio
Chico de Júlio

Por Gilson Chagas, escritor e professor universitário

 A pandemia, em seu arrastão impiedoso, tirou-nos, em 03.10.2020,  Chico de Júlio, nosso  confrade na ALERP – Academia de Letras da Região de Picos -  e personagem emblemático  que sempre figurará na estima de todos nós e em  minha particular  gratidão.

 Explico: em 1973, quando eu era "apenas um rapaz latino-americano (...) e vindo do interior", Chico, ícone à época da   sociedade local e presidente do Picoense Clube –  maior vitrine  regional no gênero -  fez, por iniciativa própria, uma   superfesta para o lançamento de  meu primeiro livro, “Curvas do Meu Caminho”. Franqueou-me aquele espaço nobre,  engalanou o cenário,  e reuniu plateia qualificada e recorde.  O evento sacudiu a cidade e sua crônica social, dando à obra visibilidade impensável para a estreia de um jovem magricela, sem peso nem referência naqueles círculos paroquiais, então   fechados em seus conceitos, preconceitos  e  convenções.   E isso tudo sem que eu nada lhe ousasse pedir e sem nada lhe prometer em troca.

Ele foi uma personalidade incomum. Tinha a visão  das águias e a proatividade destemida. Um pensar grande que arregimentava os maiores, sem excluir os pequenos.. .Com  oratória   fluente e singular,   arrebatava as massas. Ativista multifuncional, foi dono de amplificadora, rádio e cinema;   dirigente de clubes  recreativos e de futebol;  escritor, compositor e político. Vereador, aos 18 anos, vice e prefeito antes dos trinta. Atraía aliados e enfrentava sem medo e  sem eufemismos os oponentes, dos quais era, por isso, alvo frequente de maledicências e retaliações.

Na maturidade, mudou-se  para Riachão – sul maranhense -  onde estabeleceu-se com a família e fincou nova base política. Lá, conquistou 2  mandatos de prefeito e 1 de deputado estadual. Expandiu, dali para outras plagas, sua nova alcunha  – Chico Atalaia – como marca de um realizador,.  Agora, aos 80 anos, ele, como diria  o rei Davi,  “segue o caminho de toda a terra”, deixando um legado de obras e ideias  relevantes e duradouras.          

À família, minha solidariedade pela imensurável  perda. Ao Chico, meus sinceros votos de que o Senhor lhe recompense a generosidade com que, em 1973, alavancou  minha estreia na literatura. E que os  créditos se multipliquem pelas  tantas vezes em que ele, de diferentes modos,  impulsionou a trajetória  de tantos outros.    

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