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Chacina: operação policial em favela no Rio deixa 25 mortos

A polícia diz que 24 mortos são suspeitos, mas não deu detalhes sobre quem eles são e o que faziam ao serem baleados

Foto: ReproduçãoPolícia fez operação nesta quinta (6) na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do RJ
Polícia fez operação nesta quinta (6) na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do RJ


G1- Uma operação da Polícia Civil do RJ contra o tráfico de drogas no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, deixou 25 pessoas mortas e provocou um intenso tiroteio no início da manhã desta quinta-feira (6). 

O policial civil André Farias foi baleado na cabeça e morreu, segundo a polícia. A corporação afirma ainda que 24 suspeitos foram mortos, mas não esclareceu quem são as vítimas e a situação em que foram atingidas. 

Dois passageiros do metrô foram baleados dentro de um vagão da linha 2, na altura da estação Triagem, e sobreviveram. Um morador foi atingido no pé, dentro de casa, e passa bem. Dois policiais civis também se feriram. 

Vídeos registraram o som de rajadas, e explosões de bombas foram registradas em diferentes pontos da favela (veja vídeo abaixo). 


Moradores contaram que não conseguiam sair de casa — como uma noiva de casamento marcado e uma grávida com cesariana agendada, ambas para esta manhã. Devido ao confronto, a Clínica da Família Anthidio Dias da Silveira e outros dois postos de vacinação contra a Covid precisaram ser fechados.

Maior nº de mortes, apesar de restrição do STF

Segundo a plataforma digital Fogo Cruzado, que registra dados de violência armada desde julho de 2016, é o maior número de mortes durante uma operação da polícia em uma comunidade desde o início dos levantamentos. 

Desde junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em "hipóteses absolutamente excepcionais".

Para isso, os agentes precisam comunicar ao Ministério Público sobre o motivo da operação. O G1 perguntou à polícia e ao MP qual foi o motivo apresentado, mas ainda não obteve resposta. 

Um advogado da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanha o caso. 

Entidades condenam operação policial 

Diversas entidades e parlamentares se manifestaram sobre a situação, condenando a política de segurança do governo Cláudio Castro.

Até o momento, são 25 mortes confirmadas em razão da “Operação Exceptis” da Polícia Civil do Rio de Janeiro. É possível que este doloroso número aumente durante o dia. O nome da maioria das vítimas não foi revelado, apenas se sabe que uma delas era um policial, André Vargas, de 45 anos. A invasão dos policiais fez ainda com que duas pessoas que utilizavam o metrô fossem atingidas.

Necropolítica! O que acontece no Jacarezinho hoje é terrorismo de Estado, é extermínio, é chacina comandada por Cláudio Castro. O governador tem as mãos sujas com o sangue das mais de 20 vítimas desse massacre! Recebemos na CDDHC denúncia de execução de pessoas já rendidas e feridas, deitadas ao chão. Iremos apurar com rigor as informações dessa chacina, e tomaremos as medidas possíveis para que o Governo do Estado cumpra a ADPF 635 e encerre sua política de terror nas favelas do RJ”, disse a deputada estadual Dani Monteiro, presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

O defensor público Geral do Estado do Rio de Janeiro, Rodrigo Pacheco, afirmou que a entidade está no local acompanhando a situação. “A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa que está acompanhando com muita atenção os desdobramentos da operação policial que deixou 25 mortos na manhã desta quinta-feira (6), no Jacarezinho, Zona Norte do Rio. Neste momento, a instituição está no local, por meio de sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas”, disse no Twitter

O advogado Joel Luiz Costa, do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), e a Ordem dos Advogados do Brasil. também estão acompanhando a situação. Costa publicou vídeos em suas redes sociais mostrando a casas de moradores cobertas de sangue. Segundo relatos ouvidos por ele, policiais teriam invadido casas para assassinar cidadãos.

A deputada estadual Renata Souza afirmou que o morticínio de hoje pode se tornar “a maior chacina desde as Chacinas de Vigário Geral e do Complexo do Alemão”. “Não há pena de morte no Brasil. A política de segurança deve buscar Justiça e não vingança”, disse.

O Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro soltou uma nota condenando a operação e considerando Castro como responsável pelas mortes. “Repudiamos a guerra financiada pelo poder público, Repudiamos a criminalização do povo favelado. O Estado é responsável pelas mortes de mais inocentes do que podemos contar. O Estado é responsável pela Chacina da Favela do Jacarezinho. O Partido dos Trabalhadores do Estado do Rio de Janeiro, orientará a sua bancada a criar uma comissão especial para que este caso seja acompanhado na Assembleia Legislativa”, diz a nota assinada pelo coordenador do Setorial de DH do PT do Rio, Walmyr Júnior, e pelo presidente estadual da legenda, João Maurício. O presidente da Alerj, deputado André Ceciliano, é filiado ao PT.

“Os helicópteros da polícia ainda rondam a comunidade, fazendo dos moradores da favela alvos de qualquer investida do caveirão voador. Estamos em meio a maior pandemia da história do Brasil e desde o início em março de 2020 são feitas denúncias das operações policiais nas favelas. Nada foi feito! As operações seguem deixando corpos negros e favelados tombados, alastrando o rastros de dor e sangue do povo periférico de nosso Estado”, afirma ainda a nota do PT.

O deputado federal Alencar Braga pediu a prisão do governador: “O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e os oficiais responsáveis pelo massacre no Jacarezinho precisam ser presos IMEDIATAMENTE! Estamos testemunhando uma série de crimes cometidos pela polícia numa chacina que já supera o número de vítimas nos protestos da Colômbia!”.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), líder da Minoria na Câmara dos Deputados, afirmou que “essas 25 PESSOAS ASSASSINADAS são o símbolo do nosso FRACASSO enquanto sociedade. “Até quando vamos insistir nisso? As políticas de segurança PODEM E PRECISAM urgentemente ser diferentes. Lançar os policiais numa guerra p/ matar ou morrer, como SEMPRE foi feito, é BARBÁRIE. […] É INTOLERÁVEL, HEDIONDO E INACEITÁVEL que o necessário combate ao crime organizado justifique O MASSACRE NAS FAVELAS. NÃO! INOCENTES estão morrendo, POLICIAIS, que também vêm de FAMÍLIAS POBRES, estão morrendo em nome do quê???”, disse.

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