Brasil alcançará 400 mil mortos ainda neste mês, mas Bolsonaro continua bem
Ele continua interessado em falar só para seu público cativo, aquele que acredita em tudo

Por Luis Felipe Miguel, professor e cientista político, no Facebook
Um ano depois da crise que levou à demissão deMoro, o “superministro” e “salvador da Pátria” que caiu sem nem arranhar a popularidade do governo, Bolsonaro tornou-se senhor da Polícia Federal. A blindagem em favor dele e de seu círculo mais próximo está cada vez mais forte.
Ele continua interessado em falar só para seu público cativo, aquele que acredita em tudo e para o qual (nas palavras de um de meus bolsomínions de referência) Bolsonaro é “um dos grandes heróis do mundo cristão”. Dentro deste cercado, não existe revelação de CPI capaz de abalar a fidelidade ao mito.
Afinal, não é como se o comportamento criminoso do chefe de governo já não estivesse escancarado. E esse contingente, indiferente à morte, à miséria, à fome, à violência, à destruição, parece bastar para levá-lo ao segundo turno de 2022.
A oposição de direita, que apresenta a si mesmo como “centro”, permanece à espera de um milagre.
João Doria, que seria o nome mais forte desse campo, é um sujeito notavelmente desagregador. Não é capaz de unir, muito menos empolgar, nem mesmo o PSDB – que sabe que a repetição do fiasco de 2018 (com a candidatura Alckmin) põe em risco sua posição como partido nacionalmente relevante.
Mandetta e Leite são factoides. Moro ficou no caminho. A candidatura de Huck é uma aposta de alto risco, com grande chance de fracassar – nem o marido de Angélica está convencido dela.
Ciro, o nome com maior potencial eleitoral do grupo, capaz de alcançar talvez uns 12%, também não é uma criatura fácil. E, tendo passado uma boa parte das últimas décadas tentando consolidar um espaço para si na centro-esquerda, ainda está mal enquadrado na nova posição.
O principal problema, no entanto, nem é a ausência de nome. É que, por mais que insistam no discurso dos “dois extremos” e afirmem que uma terceira via seria o caminho do meio, o centro já está ocupado.
Está ocupado por Lula.
O ex-presidente continua acenando com um caminho não traumático para restauração da democracia e da ordem constitucional, que acomode interesses e restaure as condições da disputa política civilizada sem excluir ninguém, evitando cuidadosamente assustar as classes dominantes.
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