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Bolsonaro usa Petrobras para tirar de pobre e dar a rico, dizem petroleiros

'Foi a falta de coragem de Bolsonaro que nos colocou aonde estamos‘, analisa coordenador da FUP

Foto: UOL EconomiaJair Bolsonaro e Paulo Guedes
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes

 


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

"Bolsonaro tenta criar um bode expiatório na Petrobras para se exibir de uma responsabilidade que é sua. Mudou várias vezes o presidente, o conselho da empresa, ministros, só não teve coragem de mudar a política de preços dos combustíveis." A avaliação foi feita por Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única do Petroleiros (FUP), que representa 100 mil trabalhadores do setor.

"Com isso, ele age como um 'Robin Hood às avessas'. Tira dos pobres, com um botijão de gás a R$ 145, um litro de gasolina a R$ 8 e um diesel a R$ 7, para dar aos ricos daqui e de outros países ao ceder aos principais acionistas minoritários. Ou seja, grandes bancos e fundos internacionais", diz.

Críticos ao governo Bolsonaro no Congresso, como o líder da minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), defendem investigar "para onde foram os dividendos bilionários auferidos no ano passado com a alta do preço internacional do petróleo e os valores escorchantes de combustíveis aplicados aos brasileiros".

Para o coordenador-geral da FUP, a pressão que levou ao pedido de demissão de José Mauro Ferreira Coelho é mais um ato de encenação a fim de tentar afastar a escolha do governo de não mexer nos seus ganhos e dos desses acionistas.

"Bolsonaro já fez isso antes quando trocou Roberto Castello Branco, que ele mesmo indicou à presidência da empresa, pelo general Luna e Silva. Daí, trocou Luna e Silva por Ferreira Coelho. E agora, muda novamente. Mas nenhum deles sinalizou mudanças na política de preços dos combustíveis", afirma Bacelar. "Sob a mesma justificativa, ele tirou o almirante Bento Albuquerque do Ministério das Minas e Energia e colocou Adolfo Sachsida no lugar."

Para Bacelar, Bolsonaro quer que os brasileiros se esqueçam que foi ele quem indicou a maioria do Conselho de Administração que, por sua vez, escolheu a direção da empresa que manteve a política. "Ele poderia ter feito isso ao longo de seu mandato. Se não fez é porque não quis. Agora, está desesperado diante da crise dos combustíveis e a proximidade das eleições. Há uma sinalização de desabastecimento de diesel e de preços mais altos no mercado internacional", avalia.

Contudo, o coordenador-geral da FUP acredita que a estratégia não deve funcionar. "Ele já culpou a guerra na Ucrânia pelas altas nos preços, mas os preços subiam antes disso. E já culpou os governadores e o ICMS. Mas, mesmo com a mudança na lei do imposto, os preços continuaram subindo."

'Foi a falta de coragem de Bolsonaro que nos colocou aonde estamos'

A FUP é crítica à manutenção da política de paridade internacional de preços do petróleo, adotada pela Petrobras desde o governo Michel Temer. Com ela, o reajuste do preço dos combustíveis varia com a alta do preço do barril de petróleo e com a alta do dólar.

Os que defendem a paridade lembram que o Brasil, apesar de ser grande produtor de petróleo, não tem capacidade de refino para a sua demanda, precisando importar combustível. Se a paridade cair, isso poderia levar a uma dificuldade de comprar os produtos de fora, levando a um desabastecimento. Do outro lado, os críticos a isso afirmam que isso está gerando lucros para a empresa que estão acima do que é pago em outras similares. E que esses recursos poderiam ser usados para garantir esse abastecimento.

"Os petroleiros não são mais uma voz solitária contra a política de preços da Petrobras. Lideranças de outras categorias de trabalhadores, como caminhoneiros, entregadores e motoristas e aplicativos, também pedem mudanças. E isso incomoda o presidente", afirma. Bolsonaro avalia que os motoristas profissionais são uma das bases de seu eleitorado.

Sobre a defesa da privatização da empresa, por parte do presidente da República e por seu aliado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), Deyvid Bacelar diz que a categoria está preparada para enfrentar isso com "a maior greve de sua história".

"Bolsonaro coloca a culpa no PT pelos preços dos combustíveis, mas foi ele que não concluiu as refinarias em Pernambuco e no Rio de Janeiro, que reduziriam nossa dependência de diesel de fora, se estivessem prontas", avalia. "Foi sua falta de coragem que nos colocou aonde estamos."

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