Bolsonaro prepara a sua própria invasão do Capitólio
Um inseguro Bolsonaro se prepara para o seu dia 6 de janeiro

Por Brian Winter, jornalista, no Viomundo
Na véspera da invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro, estava em Washington, se reunindo com Ivanka Trump e outros líderes de seu movimento conservador global.
Quando os desordeiros ficaram aquém do objetivo pretendido, e Joe Biden foi empossado com sucesso, Bolsonaro, que também é o chefe do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados do Brasil, reagiu com consternação — com a aparente incompetência dos desordeiros.
“Se eles tivessem sido organizados, eles teriam tomado o Capitólio e feito exigências que teriam sido previamente estabelecidas pelo grupo invasor”, disse ele.
“Eles teriam um poder de guerra mínimo para que ninguém (do lado deles) morresse — matasse todos os policiais ou os congressistas que todos odeiam”.
A dramática remodelação do ministério do presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira parece destinada a evitar um destino semelhante — se organizar agora e evitar ser “ilegitimamente” afastado do cargo mais tarde.
Embora isso possa soar para alguns como uma conspiração, é uma reação lógica aos acontecimentos recentes no Brasil, incluindo o pior aumento mundial de mortes de COVID-19, uma nova ameaça de impeachment do Congresso e a emergência inesperada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pesadelo ambulante da direita brasileira, como um forte competidor na eleição de 2022.
Sob pressão, Bolsonaro está dobrando seus aliados mais próximos e, especialmente, tentando garantir que ele tenha o apoio de que precisa dos militares brasileiros — aqueles com o “poder de guerra”.
O antigo “Trump Tropical” está determinado a evitar os erros percebidos de seu ídolo.
Bolsonaro fez mudanças na segunda-feira em quase um terço de seu gabinete, incluindo áreas críticas como o Ministério da Justiça e o Ministério das Relações Exteriores.
Mas sua decisão mais importante foi demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
General aposentado, Azevedo se distanciou publicamente do Bolsonaro durante um ataque anterior de instabilidade institucional em maio de 2020, quando o presidente declarou que não “permitiria mais interferência” do Supremo Tribunal Federal e que “as Forças Armadas estão do nosso lado”.
Em resposta, Azevedo publicou uma carta declarando que os militares estavam separados da política e pedindo “independência e harmonia” entre os três poderes do governo.
Embora o confronto tenha diminuído, Bolsonaro nunca o perdoou e decidiu que as tensões de 2021 exigiam uma figura mais leal que pudesse fornecer-lhe apoio militar incondicional.
Azevedo aludiu claramente ao motivo de sua demissão em uma carta na segunda-feira, dizendo que “preservou as Forças Armadas como instituições do Estado” sob o governo de Bolsonaro.
Não está claro se o jogo de poder do Bolsonaro funcionará — ou saiu pela culatra.
As Forças Armadas estão divididas entre um corpo de oficiais que atingiu a maioridade durante a desgraça que se seguiu à ditadura de 1964-85 (cujo “aniversário” é quarta-feira), e geralmente reluta ser visto como político, e uma geração mais jovem cujo ódio pela esquerda tende a superar essas dúvidas.
Por meio de intermediários e outros meios, o corpo de oficiais deixou claro em várias ocasiões em 2021 que, embora militares aposentados e na ativa ocupem dezenas de cargos importantes neste governo, seu apoio ao presidente não é incondicional.
Os chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea deixaram seus empregos na terça-feira, no que fontes disseram ter sido uma renúncia em massa em protesto contra a demissão de Azevedo.
“A notícia aqui é que as Forças Armadas SE RECUSAM a apoiar um projeto autoritário de um presidente isolado”, me disse uma pessoa próxima aos militares brasileiros.
Não estava claro se isso fortaleceria Bolsonaro, permitindo-lhe nomear oficiais mais leais, ou o deixaria mais fraco.
As razões da insegurança de Bolsonaro são mais fáceis de entender.
A COVID-19 vem ceifando mais de 2.500 vidas por dia, fazendo com que o Brasil seja responsável por um terço de todas as mortes globais nos últimos dias.
As elites políticas e empresariais do Brasil culpam a negação e desorganização do presidente por grande parte da carnificina — que também teve um novo impacto sobre a economia, com alguns agora esperando outra (pequena) recessão na primeira metade do ano.
Em 24 de março, Arthur Lira, o presidente da Câmara, efetivamente notificou o presidente — evitando a palavra “impeachment”, mas alertando que o Congresso tem “remédios” à sua disposição, “alguns deles fatais”.
Em um país onde dois presidentes sofreram impeachment desde a década de 1990, a ameaça era bastante clara.
A maioria das mudanças no ministério de Bolsonaro foram projetadas para fortalecer a aliança com o Centrão, a coalizão que se comporta de forma notoriamente desleal à qual Lira e outros líderes importantes do Congresso pertencem.
Mas se a jogada falhar — e a história mostra que pode — o plano de backup claro de Bolsonaro é ter tantos homens armados do seu lado quanto possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso nas eleições de 2022.
Sim, isso pode soar “alarmista” ou “melodramático” — e não está claro se as Forças Armadas, ou o resto das instituições democráticas ainda resilientes do Brasil, permitiriam tal sequência de eventos.
Mas uma das principais lições de 6 de janeiro nos Estados Unidos foi que é preciso ouvir com atenção quando os aspirantes a autocratas dizem quem são e o que planejam fazer.
A nostalgia pela ditadura e o ódio pela esquerda “comunista” foram os únicos fios ideológicos consistentes da carreira política de 30 anos de Bolsonaro.
Nas últimas semanas, o presidente alertou sobre uma possível fraude nas eleições de 2022, referiu-se ao Exército como “meu”, assinou decretos para permitir que seus apoiadores se armassem e disse a uma multidão de cadetes militares que “se dependesse de mim”, o Brasil estaria vivendo sob um sistema político diferente, presumivelmente autoritário.
Com exceção de Kim Jong Un da Coreia do Norte, nenhum outro grande líder global esperou tanto para reconhecer a vitória eleitoral de Biden.
As razões podem ter menos a ver com afinidade ideológica e mais com o olhar para um futuro incerto.
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