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Bolívia confirma tradição golpista da América Latina

Golpes já haviam ocorrido no Brasil, em 2016, com o impeachment de Dilma; em Honduras, em 2009; e no Paraguai, em 2012

Foto: Google ImagensEm nome de Deus, atrocidades
Em nome de Deus, atrocidades

O lamentável desfecho da era Evo Morales, que renunciou à Presidência da Bolívia após sofrer um golpe, classificado por ele próprio como político-cívico-policial, confirma uma tradição na América Latina (AL). Em pleno Século XXI, outro golpe de estado, a exemplo do que ocorreu no Brasil, em 2016, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff; em Honduras, em 2009; e no Paraguai, em 2012. Nos três casos, governos progressistas, de esquerda, feneceram através de golpes de estado, que ganharam novas características.

No século XX, os golpes latino-americanos aconteciam pela mão forte dos militares, que colocavam seus tanques e tropas nas ruas, tomavam o poder, inapelavelmente, e implantavam ditaduras. Isso aconteceu em todos ou quase todos os países do continente, com a devida articulação e apoio dos EUA. O que derrubou Morales – assim como os que depuseram Dilma; Fernando Lugo, no Paraguai; e Manuel Zelaya, em Honduras – foi o chamado “golpe branco”, que teria um tripé em comum.

Em todos esses episódios históricos, além de terem derrubado governos de esquerda, ocorreu uma combinação envolvendo a mídia corporativa – ou grande imprensa –, setores do judiciário e oposição articulada. Outro aspecto em comum, na tradição de incompetência da América católica, como diria Caetano Veloso, é o papel norte-americano. Sempre atuante em conspirações golpistas, treinando agentes militares, policiais, do judiciário e ministério público, os yankees não se cansam de articular a derrubada de regimes progressistas na AL.

Extremista em Brasília (DF)

Teoria da conspiração ou não, foram noticiadas reuniões realizadas na Embaixada dos EUA na Bolívia, na capital La Paz, com o intuito de derrubar Morales, reeleito pela quarta vez, mas forçado a renunciar. Consta que o governo brasileiro também teria tido alguma participação no processo golpista boliviano. Coincidência ou não, Luis Fernando Camacho Vaca, de Santa Cruz de La Sierra, principal líder do golpe, foi recebido em Brasília (DF), pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no próprio Itamaraty, há quatro meses.

Líder da extrema-direita boliviana, Camacho, conhecido como “El Macho”, esteve com o chanceler brasileiro e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), no Ministério das Relações Exteriores. Na pauta com as autoridades brasileiras, a situação da Bolívia. Áudios vazados pelo jornal boliviano El Periódico revelam uma conversa na qual um interlocutor menciona o apoio “das igrejas evangélicas e do governo brasileiro” ao golpe. Camacho protagonizou uma das principais imagens do ano, ao invadir o Palácio de Governo da Bolívia.

Ao estender a bandeira do país no chão, sob uma Bíblia, neste domingo (10-11), o extremista do Comitê Pró-Santa-Cruz, “cumpriu” a promessa de levar Deus novamente ao Palácio de Governo. “El Macho”, à frente de um grupo mantido por empresários e latifundiários ultra-conservadores, comanda a ala mais violenta das facções golpistas. Por outro lado, Evo Morales cometeu erros, por exemplo, ao não respeitar o resultado de um referendo popular que o desautorizou a tentar o 4º mandato. Mas nada justifica um golpe.

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