Segurança Pública

Barbárie na Bahia: o PT nacional tem que discutir a polícia baiana

Não é possível o PT dizer que tem respeito pela população negra com esse tipo de barbárie na Bahia


Foto: DivulgaçãoJerônimo Rodrigues
Jerônimo Rodrigues

Por Renato Rovai, jornalista, na Fórum 

Fala, Rovai, o editorial do Fórum Onze e Meia. Queridas, queridos e querides, vou falar hoje de um tema que, sinceramente, me constrange ter de falar, me deixa triste, mas que é de uma dimensão tão grande e tão robusta que de alguma maneira mostra de que tipo de barro somos feitos. Do ponto de vista político se a gente não falar disso, a gente se torna outra coisa, outra pessoa, outro tipo de lutador social para quem se dispõe a sê-lo.

Saíram dados recentes que mostram que a Bahia é o estado que tem a polícia, a PM, que mais mata. Bahia, que teve dois governos de Jacques Wagner, dois governos de Rui Costa e agora tem um governo de um homem negro com indígena, e que é boa praça, o Jerônimo Rodrigues.

O Jerônimo que trabalhou na área da educação, o Jerônimo que tem uma história com o movimento social, o MST, os movimentos populares, e que deu uma declaração desastrosa sobre a questão do assassinato de mãe Bernadete, dizendo que a polícia civil está investigando a guerra de facções criminosas, como se a mãe Bernadete, uma senhora de 73 anos, quilombola, com história de quilombola, de lutadora social, provavelmente que votou no Lula e no Jerônimo fosse uma líder de organização criminosa. Eu já li aqui a declaração do Jerônimo no Fórum Onze e Meia, mas vou repetir aqui.

"Na tese da Polícia Civil Se isso aconteceu, da mesma forma [que as outras teses] nós haveremos de nos debruçar sobre ela, em uma parceria integrativa com o governo federal, com a Polícia Federal", disse.

Tráfico de drogas num quilombo, numa área de proteção ambiental, por uma mulher negra de 73 anos. O que é isso, governador? Lá num lugar onde tem uma disputa de terra gravíssima.

Dá uma tristeza no coração terrível ouvir isso. E o PT nacional tem de discutir isso. Os líderes do PT não podem fazer de conta que isso não está acontecendo na Bahia.

Esses líderes do PT não podem fazer de conta que a polícia da Bahia não matou 1.464 pessoas em um ano, mais do que toda a polícia dos Estados Unidos, mais do que a polícia do Rio, do Claudio Castro, que os petistas chamam de genocida.

E a violência nos últimos dias na Bahia foi maior do que aqui, no governo do Tarcísio de São Paulo. A tragédia do Guarujá, que está sendo corretamente denunciada pelos petistas de São Paulo, é menor do que a tragédia que aconteceu na Bahia em que 30 pessoas foram assassinadas nas últimas semanas em conflito com a Polícia Militar.

Ou a gente fala disso ou vai perder a moral, a decência, vai perder aquilo que nos trouxe até aqui, que é, entre outras coisas, a defesa dos direitos humanos.

Aí fala assim... Por que na Bahia? É só por que tem um governo do PT? Não é verdade. Sabe por quê? É porque é o estado onde tem mais negros no Brasil. Salvador é a cidade que tem mais negros percentualmente no Brasil.

Quantitativamente é São Paulo, porque tudo quantitativamente é São Paulo, mas percentualmente é Salvador. É o menino e a menina negra que morrem. Principalmente, nesse caso, os meninos. Eles são muito mais propícios a serem assassinados como operadores do tráfico, criminosos, bandidos. A lógica do patriarcado até para isso serve.

Então, esses aí são bandidos. Então, mate! A gente não se indignar com isso e não falar da Bahia, porque, porra, a Bahia é um estado que o PT já tem 16 anos, é a grande joia da coroa do PT.

É verdade. Tem políticas públicas maravilhosas. Vamos deixar essa coisa da segurança para lá? Ao contrário. É importante discutir e vamos transformar a Bahia, e o governo Jerônimo, num exemplo para o país.

É preciso mudar essa situação, tirar esses números trágicos, fazer um laboratório de políticas públicas, levar a comunidade internacional que discute essa questão a recuperar a democracia na Bahia, porque não é possível ter um Estado democrático, caro Jerônimo, com uma violência policial dessa.

Não é possível dizer que tem respeito pela população negra com esse tipo de barbárie. Chega de passar vergonha em praça pública e ficar passando pano para policial bandido em nome de não sei o quê.

Reformem a polícia deste Estado, clamam os baianos e baianas, clama o petismo e a esquerda do Brasil inteiro, porque como vai se discutir, amigas, amigos e amigues, como vai se discutir a polícia do estado do Rio, que petista chama de genocida? 
Como se vai discutir o governo Tarcísio em São Paulo. 

Eles vão responder, e na Bahia?

Que moral um petista do Rio e São Paulo terá pra questionar a violência contra negros e pobres em todo os outros estados do país?

O governo da Bahia é uma vergonha em tudo, Rovai? Claro que não, senão não teria elegido cinco vezes o PT. O Jerônimo é culpado por tudo isso? Não. Dizem, inclusive, que os dados apontam para um crescimento no período Rui Costa.
Teria sido menor no período Jacques. No período Rui a coisa se acirrou.

O Jerônimo, então, tem o espaço para mudar essa história e falar que isso foi ruim, não foi o PT, não era uma política geral. Ou, então, os líderes nacionais do partido têm que cobrar.

Esses líderes têm que dizer: Jerônimo, tem que mudar isso aí! Isso é ruim! Isso é uma vergonha! Nós não conciliamos com esse tipo de coisa. E tem que ter coragem de cobrar publicamente.

É assim que se faz na política. Senão se contamina ou vira igual aos outros. E quero dizer mais. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, tem que denunciar o que está acontecendo na Bahia. Tem que ser ativo. O Lula tem que dizer que tem vergonha desses dados, que ele viu e ficou assustado, que ele não tinha percebido isso e que ele vai conversar com o Jerônimo sobre isso... 

Pô, Rovai tanta coisa para falar do Bolsonaro e você vai falar disso, de um governo do PT?

É sim, porque eu tenho história. Eu não vim de ontem, entendeu? Não comecei ontem, não. E sei que, se eu abrir mão do que falo, do que escrevo, do que luto, eu serei diferente do que sou.

Não tenho problema pessoal com ninguém aqui. A questão aqui é um problema sério de direitos humanos e que necessita daqueles que lutam em defesa dos direitos humanos. E eu sempre defendi a pauta dos direitos humanos. E a Fórum nasceu ali no Fórum Social Mundial, em 2001, onde estavam lutadores dos direitos humanos. Eles não serão abandonados pela Fórum, como a população negra também não. Não troco, não troco a defesa da vida por qualquer coisa.

É hora de discutir urgentemente o que está acontecendo na Bahia. Foco total. E é possível mudar. E é possível mudar. Então tem que mudar.

Era isso que tínhamos para hoje neste Fala, Rovai. Beijas, beijes e beijos a todas, todes e todos.

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