Pensar Piauí

Arthur Lira e sua turma se aliam a Musk por uma internet sem lei

Caberá à justiça o que seria responsabilidade do Congresso

Foto: ReproduçãoArthur Lira
Arthur Lira

 

Por Ricardo Noblat, jornalista no Metrópoles

Ouvi, outro dia, de um observador arguto da política, com livre trânsito nas rodas de conversa dos três Poderes da República, que o atual Congresso está a ponto de contrariar o que Ulysses Guimarães, presidente do MDB, da Câmara e da Assembleia Nacional Constituinte de 1988 costumava dizer – a princípio com um sorriso de ironia, depois com ares de cansaço e de preocupação.

Sempre que alguém se queixava a Ulysses da baixa qualidade do Congresso de então, ele respondia:

“É porque você ainda não viu o próximo”.

O observador arguto da política é um otimista. Sem um pingo de ironia, falando sério, ele considera que o Congresso a ser eleito daqui a dois anos será menos ruim do que o que temos hoje. E por uma simples razão: pior do que o atual seria impossível. Mas não só. Seja qual for o candidato da direita em 2026, ele estará distante de representar o que Bolsonaro representou em 2018 e 2022.

No momento em que a democracia volta a ser alvo de ataques, desta vez patrocinado pela Internacional Fascista que mira o Supremo Tribunal Federal para desgastá-lo e evitar que Bolsonaro acabe preso, o que faz a Câmara sob o comando do deputado Arthur Lira (PP-AL)? Manda para o lixo o projeto de lei aprovado no Senado que regulamentaria o uso da internet pelas plataformas digitais.

Elon Musk, um dos homens mais ricos do mundo, dono do X, ex-Twitter, é uma das estrelas da Internacional Fascista que apoia Bolsonaro e que por ele é apoiado para que não haja regulamentação da internet em parte alguma. Na Europa, já há. Na China, onde Musk tem negócios, a internet funciona conforme o gosto do único partido que ali existe. Por que não barrar a regulamentação no Brasil?

Para isso, Musk não precisaria desacatar a justiça brasileira, mas ele o fez. Bastaria ter acionado sua trupe no Congresso e em outros meios influentes que compartilham seus valores. Ficaria menos exposto – mas quem disse que ele, um exibicionista nato, é contra a exposição? E não correria o risco de amargar prejuízos no país onde foi condecorado por Bolsonaro e onde tem muitos interesses.

Pressionado pelos líderes dos partidos de direita que contam com a maioria dos deputados na Câmara, Lira apelou para um velho truque. Quando não se quer que algo vá em frente, no Congresso ou no governo, anuncia-se a formação de um grupo de trabalho para estudar o assunto. Foi o que Lira fez. Segundo ele, o projeto de lei, na versão do seu relator, “foi polemizado”, e logo em ano eleitoral.

O grupo de trabalho tratará de rediscuti-lo “sem disputas político-ideológicas”. Mas como “sem disputas político-ideológicas” em um ambiente cada vez mais radicalizado? E que assim permanecerá até que sopre o vento da renovação – se soprar, como acredita o observador arguto? Lula disse um dia, e não faz muito tempo, que a democracia é relativa. Lira concorda plenamente com ele.

A regulação das redes vai cair no colo do Supremo, e aí se dirá que o tribunal se mete em tudo. Mete-se quando o Congresso abdica de suas responsabilidades, o que é comum. E ainda bem que se mete, como no caso de barrar as intenções golpistas de um presidente defensor da tortura e da ditadura. Lira e seus apaniguados assistiram ao avanço do golpe de olhos semicerrados. Não fosse o Supremo…

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.

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