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Após marretadas do Padre Júlio, prefeitura retira pedras de viaduto

O viaduto amanheceu limpo nesta quarta-feira (3)

  • quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Foto: G1Padre Júlio Lancelotti quebra a marretadas pedras instaladas pela Prefeitura sob viadutos de SP
Padre Júlio Lancelotti quebrou a marretadas pedras instaladas pela Prefeitura sob viadutos de SP

Após a enorme repercussão negativa provocada pelos protestos do Padre Júlio Lancelotti, pároco da Igreja de São Miguel Arcanjo, em São Paulo, a Prefeitura de São Paulo tirou todas as pedras embaixo de um viaduto próximo à avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste da cidade, para evitar que pessoas em situação de rua durmam no local.

O viaduto amanheceu limpo nesta quarta-feira (3). A prefeitura mandou duas retroescavadeiras e acabou retirando todas as pedras. A administração do prefeito Bruno Covas (PSDB) não especificou quanto gastou com a obra, nem para a colocação e nem para a retirada das pedras.

Foto: Revista FórumViaduto limpo
Viaduto limpo

 

A prefeitura informou ainda que abriu uma sindicância para investigar como foi a ordem para a colocação das pedras. O funcionário da secretaria das Subprefeituras que ordenou que essa obra fosse feita foi exonerado do cargo. A prefeitura ainda informou que foi um ato isolado.

“Indignação diante da opressão. Marretada nas pedras da injustiça”, publicou o padre nas redes sociais. Aos 72 anos, Julio Lancellotti denunciou a “arquitetura higienista” da administração tucana nesta segunda-feira (1º).


Incômodo e ameaças

Lancellotti é vigário episcopal para a população de rua da Arquidiocese de São Paulo e destaca que tudo o que faz é em nome da Igreja Católica. Apesar de ter reduzido o número de missas e batizados e o horário de abertura da paróquia devido ao coronavírus, seu trabalho durante a crise sanitária atraiu a atenção de muitas pessoas, grande parte delas admiradas pelo esforço de um padre que se mobilizou até para cadastrar moradores de rua no auxílio emergencial do Governo Federal. Mas sua atuação também incomoda ―desde moradores de edifícios residenciais da região a políticos.

“Humanizar a vida significa entender que existe conflito. E você não humaniza a vida numa sociedade como a nossa sem conflito”, argumenta. Os últimos ataques partiram do deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei e membro do direitista Movimento Brasil Livre (MBL). O parlamentar foi candidato à prefeitura de São Paulo pelo Patriota, ele é crítico do trabalho de Lancellotti, a quem chegou a chamar de “cafetão da miséria”. Um ex-comandante da Guarda Civil Metropolitana e pré-candidato a vereador fez coro.

Há alguns meses, um homem em uma motocicleta passou perto da paróquia gritando “ô seu padre filho da puta defensor de ‘nóia", e disse a catadores de materiais recicláveis que vivem na região que “meteria" fogo neles, segundo relataram ao sacerdote. Em outro momento, um homem que dirigia um carro abriu a janela do veículo e gritou “Mamãe Falei!”.

As ameaças não são uma novidade na vida do religioso. Ainda assim, os últimos episódios geraram uma série de preocupações de seu entorno. A Igreja Católica, que na capital é comandada pelo cardeal Dom Odilo Scherer, se uniu para defender seu membro. “Eu estou com ele. Constantemente, ele fala comigo sobre essas situações", disse o cardeal. "Mas saibamos: quem cuida dos pobres, vai sofrer junto com os pobres também. Sempre foi assim”. Já a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou uma nota de solidariedade em sua defesa.


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